segunda-feira, 31 de outubro de 2011

SEM POLÍCIA - UMA RODOVIA DESGUARNECIDA


Equipe multimídia percorreu todos os 680 quilômetros da estrada São José dos Ausentes-São Borja (BR-285) e não encontrou nenhum veículo da Polícia Rodoviária Federal fazendo policiamento. ZERO HORA 31/10/2011

Ao cruzar a rodovia que liga os Campos de Cima da Serra à Fronteira Oeste, na região da Campanha, a equipe multimídia da RBS comprovou a falta de policiamento nas estradas gaúchas. Os repórteres percorreram 680 quilômetros sem encontrar nenhum policial rodoviário federal em uma das mais importantes artérias do Estado.

Todos os seis agentes da PRF que atuavam na estrada São José dos Ausentes-São Borja (BR-285) entre 11h e 20h de sábado e 6h e 9h de domingo guarneciam os quatro postos ao longo da via – um quinto, em Lagoa Vermelha, desativado há um ano por falta de efetivo, permanecia fechado.

Porta de entrada de caminhoneiros e turistas argentinos, a desguarnecida rodovia sintetiza as estradas gaúchas: pista simples ao longo de toda sua extensão, asfalto e sinalização adequados onde há pedágios, buracos e trepidações nos trechos mantidos pelo poder público.

Como a lógica sugere, o pavimento e o acostamento aguentam mais quando o trânsito é menos intenso. É o que ocorre entre São José dos Ausentes e Vacaria, onde começamos a atravessar o Rio Grande do Sul de leste a oeste. Tem-se a impressão de que a viagem será fácil. Mas, no distrito de Barretos, em Capão Bonito do Sul, um choque de realidade. Ao final da concessão, há três quilômetros esburacados, com mato no lugar de acostamento e sem sinalização.

Morador da comunidade há 25 anos, o catarinense Névio Lucchese, 40 anos, conta que o trecho está abandonado.

– Já reclamamos várias vezes, mas ninguém arruma. O Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) tapa buracos, coloca umas tampinhas nas panelas e vai ao mundo, sem resolver o problema – lamenta Lucchese, que planta 80 hectares de soja, milho e trigo.

Passado o susto, viaja-se tranquilo até a região de Passo Fundo – tradicional produtor de grãos e o maior município do Planalto Médio. Ao passar pela cidade, é necessário atenção redobrada com pedestres. Não há faixas de segurança, passarelas ou sinaleiras. Em 11 quilômetros, há 12 trevos de acesso.

Mais adiante, uma constatação: em um trecho de 14 quilômetros, desembolsamos R$ 12 em dois pedágios, em Carazinho – se estivéssemos em um caminhão de sete eixos, deixaríamos R$ 60,20. Seguimos pela rodovia que, até aquele momento, sequer pista adicional oferecia.

O último trecho, entre as missioneiras São Luiz Gonzaga e São Borja (sem concessão), nos obrigou a reduzir a velocidade. Embora conte com alguns metros de pistas auxiliares e seja equipada com balanças de pesagem, a estrada está trincada, desnivelada e esburacada em diferentes pontos. É onde a estrada se mostra mais traiçoeira.

Martírio para cruzar a faixa

Moradores do bairro São José, em Passo Fundo, vivem uma situação inusitada. A obra que irá duplicar três quilômetros da rodovia São José dos Ausentes-São Borja (BR-285), reduzindo engarrafamentos diários no trecho urbano da cidade, transformou em um martírio a travessia da estrada.

Na tarde de sábado, Zero Hora testemunhou o momento em que Nádia de Arruda, 46 anos, que cruzava a faixa com a neta Isabel, três anos, no colo, quase foi atropelada por uma moto.

– Atravesso várias vezes por dia a rodovia para ir no mercado, visitar parentes e buscar a neta na escolinha. É um perigo porque os motoristas não respeitam e ainda nos xingam – conta.

Luiz Roberto da Rosa, 34 anos, namorado de Nádia, complementa:

– Sem faixa de segurança, passarela e sinaleira, às vezes a gente tem de atravessar correndo.

Agente da 8ª Delegacia de Trânsito da Polícia Rodoviária Federal, Carlos Menin explica que a situação é crítica porque, além da duplicação, estão sendo trocadas redes de água e de esgoto.

– Quando a duplicação estiver pronta, terá uma passarela elevada e outra subterrânea. Mas agora a situação está realmente complicada – diz Menin.


Contrapontos

O que diz Antonio Marcos Martins Barbosa, chefe da Divisão da Seção de Policiamento e Fiscalização da PRF: “Nosso problema é efetivo, que está defasado. Estamos fazendo policiamento, em alguns trechos, com apenas um policial. Quando o policial sai para um atendimento, a orientação é de que feche o posto. Hoje, temos em torno de cem policiais, por dia, para trabalhar em 6 mil quilômetros. Seria necessário pelo menos o dobro”.

O que diz Vladimir Casa, superintendente do Dnit:

- Sobre os três quilômetros em Capão Bonito do Sul - “É um trecho que foi repassado ao Estado, que não o incluiu no programa de concessões e não faz a manutenção porque questiona responsabilidade em relação àquela rodovia. Embora não seja nossa responsabilidade, vamos incluir aquele trecho no programa de manutenção no ano que vem”.

- Sobre o trecho entre São Luiz Gonzaga e São Borja - “Em função das trocas no departamento, houve demora na renovação de contratos com empresas responsáveis pela manutenção de alguns trechos. Mas a situação deve ser resolvida em breve”.

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