quinta-feira, 13 de outubro de 2011

QUESTIONADO USO DE PISTOLAS DE CHOQUE CONTRA MOTORISTAS

Agnelo questiona uso de pistolas que emitem descarga elétrica em motoristas - Saulo Araújo - CORREIO BRAZILIENSE, 13/10/2011 06:18


O Governo do Distrito Federal pode impedir que os agentes do Departamento de Trânsito (Detran) usem, em blitzes, pistolas que disparam choques elétricos, os chamados tasers. Apesar de 220 aparelhos terem sido comprados pelo poder público, o governador Agnelo Queiroz (PT) afirmou ontem, durante as comemorações dos 51 anos do Gama, que, se for necessário, as armas não letais podem ser destinadas à Polícia Militar. A direção da autarquia pretende adotar o equipamento de imobilização em operações, no prazo de 14 dias. “Tem de examinar melhor o uso dessa arma, até porque não houve discussão comigo sobre esse assunto. Tenho dúvidas sobre sua utilização. Vou conversar com as outras áreas e, se for o caso, podemos passar para a PM”, disse Agnelo.

Assim como o chefe do Executivo local, especialistas ouvidos pelo Correio avaliam com ressalvas o emprego do equipamento nas ruas. O ex-secretário de Segurança Pública do DF e do Rio de Janeiro Roberto Aguiar condena a aquisição de qualquer armamento por parte do órgão fiscalizador. Para ele, a sociedade só sentirá algum avanço na segurança do trânsito quando as autoridades perceberem que as campanhas educativas têm um efeito avassalador na construção do respeito entre motorista, pedestre e ciclista. Roberto Aguiar citou o exemplo da campanha pelo respeito à faixa de pedestres, em 1996, que contou com grande apelo popular. “Em Brasília, as coisas só começaram a dar certo no trânsito quando as campanhas educativas passaram a ser levadas a sério. Sei da boa intenção dos gestores em colocar essa arma de choque, mas há uma miopia administrativa em não enxergar que, com muito menos, é possível alcançar resultados bem mais significativos”, avaliou Aguiar.

Uma das justificativas apresentadas pela cúpula do Detran para colocar os tasers nas ruas seria a quantidade de agressões registradas contra agentes em serviço. Segundo levantamento do órgão, a cada três dias, dois fiscais são alvos de ataques, principalmente em blitzes. O assessor especial da direção do Detran-DF, Edson Wagner Barroso, explicou que a decisão de usar as armas de choque tem como base vários estudos.

Ele cita resoluções da Organizações das Nações Unidas (ONU), que permitem a utilização dos equipamentos, e pesquisas que comprovam a não letalidade dos impulsos elétricos, mesmo em pessoas com histórico cardíaco, epilepsia, entre outros problemas de saúde. “O taser já foi objeto de estudo pelo Congresso norte-americano, que concluiu não haver risco algum de lesão ou morte. Se você fizer uma pesquisa, com certeza, não vai encontrar no Brasil nenhum registro de óbito por taser. É preferível que o agente, se for extremamente necessário, saque a taser do que um revólver, ou mesmo um cassetete”, defende Edson.

Imagem arranhada

O doutor em segurança de trânsito pela Universidade de Brasília (UnB) David Duarte alerta que a imagem da autarquia pode ficar arranhada. Ele ainda criticou o fato de o governo ter desembolsado US$ 176 mil (R$ 334 mil) para a compra dos equipamentos. “Não vejo razão para a compra de 220 armas, até porque não há 220 agentes simultaneamente nas ruas. É um desperdício. É possível fazer uma abordagem eficiente sem usar esse tipo de expediente. Sem contar que o Detran vai ficar com a imagem ainda mais arranhada, porque com certeza a população não vai receber bem essa ideia”, ressaltou.

Mesmo com inúmeras garantias de que o equipamento não leva à morte, David Duarte chama a atenção para as lesões que podem ser provocadas em motoristas atingidos pela descarga elétrica.

“A pessoa que receber essa descarga pode não morrer pelo choque, mas na queda, ao bater a cabeça no chão. Em relação aos cardiopatas, uma coisa é testar o taser em um cidadão com problemas cardíacos, quando está tranquilo e ciente do que está acontecendo. Outra, é aferir a reação dele quando ele está tomado por forte adrenalina”, comparou.

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