segunda-feira, 26 de julho de 2010

A GUERRA NO TRÂNSITO - Como educar os motoristas gaúchos


Como educar os motoristas gaúchos. Especialistas apontam educação contínua e fiscalização mais rígida para pacificar ruas e estradas do Estado - Joana Marins, Kamila Almeida e Marcelo Gonzatto, Zero Hora, 26/07/2010.

Acabar com a sensação de impunidade por meio de uma fiscalização implacável é o melhor caminho para civilizar o trânsito gaúcho, conforme especialistas. A expectativa de que infrações não resultarão em castigo é apontada por psiquiatras e profissionais de segurança viária como uma das razões para a imagem negativa dos condutores rio-grandenses demonstrada por uma pesquisa divulgada pelo Departamento Estadual de Trânsito (Detran).

Publicado por ZH no sábado, o levantamento revela que 88% dos entrevistados consideram que os condutores são imprudentes, e mais da metade diz se sentir inseguro porque os demais motoristas não respeitam as leis, são imprudentes ou mal-educados. O problema, segundo os dados, é que esses mesmos entrevistados se mostram incapazes de perceber os próprios erros – 69,1% garantiram cumprir as regras à risca.

Esse paradoxo, segundo o engenheiro civil e especialista em trânsito e transporte João Fortini Albano, acaba reduzindo o impacto de campanhas de conscientização.

– O motorista não se sente atingido porque acha que o problema não é ele. Mudar isso exige ações de longo prazo. Para o curto prazo, a única saída é uma fiscalização efetiva. Mudar o comportamento na marra, pelo medo de ser mexido no bolso – afirma.

A fiscalização eficiente também é apontada por outros especialistas (ao lado) como estratégia para romper a ilusão dos motoristas de que são obedientes às leis, enquanto os outros é que descumprem as normas. O psiquiatra Fernando Lejderman receita educação permanente no trânsito e um exercício pessoal de reflexão:

– Não podemos esquecer da reflexão sobre as nossas pequenas infrações, que revelam a consideração que temos com o outro.

Condutores e especialistas apontam medidas diferentes para pacificar o trânsito:

MOTORISTAS APOSTAM EM:

- Ações educativas (57,2%)
- Fiscalização (54,1%)
- Campanhas publicitárias (46,6%)

ESPECIALISTAS DEFENDEM:

- Reforço na fiscalização e punição
- Educação para o trânsito (do nível infantil até a universidade)
- Ações que estimulem a opção pelo transporte público
- Campanhas de conscientização contínuas

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Ações educativas, fiscalização e punição poderiam inibir esta guerra no trânsito. Porém estão sendo inoperantes e ineficientes devido às leis benevolentes, parlamento conivente e judiciário moroso e tolerante. De nada adiantam esforços para educar, fiscalizar e punir com multas simples se as leis não permitem a dolosidade do crime no trânsito, o perdimento do veículo e a cassação definitiva da CNH em julgamentos sumários. A ordem é se impõe diante da vigilância, da continuidade da fiscalização e da certeza de uma punição rigorosa e exemplar.

A GUERRA DO TRÂNSITO - Sem preparo para congestionamentos

Sem preparo para congestionamentos - NELSON ANTONIO TOMBINI, Zero Hora, 26/07/2010

A agressividade e a falta de cordialidade no trânsito têm explicação. O motorista gaúcho não sabe se comportar diante de uma nova situação, os congestionamentos. Não há, ainda, essa cultura. Ao deparar com uma tranqueira, o motorista logo se mostra impaciente e começa a buzinar. Em São Paulo, onde isso já é comum há vários anos, os motoristas são mais pacientes. A questão é cultural. Vamos ter de nos acostumar porque a situação ficará cada vez pior com o volume de carros que chega às ruas a cada dia.

Diante dos frequentes acidentes em nossas estradas, é possível traçar características observadas nos motoristas do Rio Grande do Sul. Eles não têm o hábito de se informar sobre vias congestionadas antes de sair de casa, não procuram alternativas.

A imprudência também é marca. O condutor continua dirigindo ao celular e sem cinto de segurança. Nas estradas, ele não facilita a ultrapassagem feita pelos outros, mesmo sabendo que seu ato pode resultar em acidentes. Alguns ainda se esquecem de observar os velocímetros e passam a desconsiderar a velocidade permitida.

Muitos motoristas acima de 50 anos têm hipertensão arterial ou são diabéticos e não controlam essas doenças. Sem cuidado correto, podem causar acidentes ao ter tonturas ou desmaios. Em dias de chuvas ou com neblina, o motorista não acende os faróis porque acredita que está sendo visto pelos demais envolvidos no trânsito. As mulheres também estão mudando seu comportamento. Elas estão cada vez mais agressivas no trânsito, utilizando sinais e até palavras inadequadas.

Determinadas pessoas agem de forma inadequada e agressiva no trânsito pela falta de punição.

NELSON ANTONIO TOMBINI é Médico perito e especialista em medicina de tráfego