quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

7 PESSOAS NUM CARRO, SEM CNH, CERVEJA, ACIDENTE E SETE PESSOAS MORTAS

ZERO HORA 28/01/2015 | 08h12


Acidente mata sete pessoas e deixa uma ferida em Santa Maria. Dois carros colidiram no quilômetro 253 da BR-287, próximo à Ulbra




Rodovia está totalmente bloqueada para o atendimento da ocorrência Foto: Fernando Ramos / Agencia RBS


Sete pessoas morreram e uma ficou gravemente ferida em um acidente na noite desta terça-feira, em Santa Maria, na Região Central. Um Monza colidiu de frente com um Twingo no quilômetro 253 da BR-287, na saída para São Pedro do Sul.

Os carros envolvidos no acidente ficaram completamente destruídos. Conforme a Polícia Rodoviária Federal (PRF), o ponto onde o acidente aconteceu fica a cerca de dois quilômetros do campus da Ulbra. A colisão ocorreu por volta das 23h.

Segundo a PRF, o Monza seguia no sentido Santa Maria-São Pedro do Sul, e o Twingo vinha na direção contrária. A polícia acredita que tenha ocorrido uma ultrapassagem antes da colisão.


Sete pessoas estavam dentro do Monza. Informações preliminares dão conta que elas são de Santa Maria. Seis delas morreram no local, incluindo o motorista do carro, João Paulo Pereira da Silva, 29 anos. Segundo a PRF, ele não possuía carteira de habilitação. Ainda conforme a PRF, foram encontradas latas de cerveja e gelo dentro do Monza. As outras vítimas foram identificadas como Lucas Silveira Marques, 20, Luciele Bittencourt Escobar, 29, Luan Patrick Farias, 19, Leandro Silva Dias, 19 e Jessica Santos Bittencourt, 16.

A sétima vítima é o motorista do Twingo, identificado como Pierry André de Oliveira, 41 anos. Ele foi socorrido ao Universitário de Santa Maria (Husm), mas morreu pouco antes das 2h.

A única sobrevivente é a adolescente Ariele Netania Padilha da Cruz, de 16 anos, que também estava no Monza. Na manhã desta quarta-feira, ela estava na sala de recuperação do bloco cirúrgico do Husm. Não há informações sobre seu estado de saúde até este momento.

A rodovia foi totalmente liberada às 3h depois de quatro horas de bloqueio total.

*Com informações de Fernanda da Costa, Carlos Ismael Moreira, Dandara Aranguiz e Maurício Araújo, Especial

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

PROTESTO TARTARUGA ENGARRAFA O TRÂNSITO NA CAPITAL



ZERO HORA 20 de janeiro de 2015 | N° 18048


EDUARDO ROSA


OPERAÇÃO TARTARUGA. Rodoviários pedem reajuste maior

PROTESTO COM REDUÇÃO de velocidade de coletivos na manhã de ontem na Capital foi feito em nome da insatisfação com 5% oferecidos de aumento. Assembleia deve ocorrer hoje, após reunião com o Sindicato das Empresas de Ônibus de Porto Alegre


A relação entre empresários que operam o sistema de ônibus da Capital e rodoviários é complicada – e, ontem, a situação ficou mais uma vez exposta. Trabalhadores fizeram uma operação tartaruga pela manhã para mostrar insatisfação com a proposta de reajuste apresentada pela patronal.

Os 5% de aumento oferecidos já haviam sido rechaçados em encontro entre representantes dos rodoviários e das empresas no dia 8 – a categoria pede 11,5% de correção. Uma nova reunião está marcada para as 16h de hoje, na sede do Sindicato das Empresas de Ônibus de Porto Alegre (Seopa). Depois, os rodoviários farão assembleia no Ginásio da Brigada Militar.

– Para nós, o movimento (a operação) foi favorável, porque agora a patronal enxerga a situação com outros olhos. A primeira proposta foi ofensiva – avalia Adair da Silva, presidente do Sindicato dos Rodoviários.

Coordenador jurídico do Seopa, Alceu de Mello Machado vê como equívoco usar o índice de reajuste para justificar o protesto. Ele diz que a discussão sobre o aumento não havia sido encerrada.

– Fizemos a primeira reunião. É verdade que eles (os trabalhadores) disseram não, não ficamos esperando um retorno. Não levariam sequer para apreciação da categoria. Paralelamente a isso, dissemos que voltaríamos a conversar – afirma.

DISSÍDIO É PRÉ-REQUISITO PARA A REVISÃO TARIFÁRIA

Na pauta de reivindicações protocolada na Associação dos Transportadores de Passageiros (ATP) no dia 5, o aumento salarial de 11,5% (6,5% referentes à inflação do último ano e 5% de ganho real) é o principal item. Mas há mais oito pontos no documento, como aumento no valor do tíquete-refeição (de R$ 19 para R$ 23,75) e redução da jornada de trabalho para seis horas.

O dissídio dos rodoviários é pré-requisito para que as empresas solicitem à EPTC a revisão tarifária. Gastos com pessoal representam aproximadamente 50% do valor da passagem e, por isso, a negociação é determinante para o cálculo.

No início do ano passado, a negociação entre a categoria e as empresas foi tensa. Trabalhadores que faziam oposição ao então presidente do Sindicato dos Rodoviários, Julio Gamaliel Pires, acabaram por assumir o controle das negociações e lideraram uma greve que se estendeu por 15 dias. Um aumento de 7,5% foi aprovado pela seção de dissídios coletivos do Tribunal Regional do Trabalho (TRT).

Uma nova eleição para o comando do sindicato foi determinada pelo TRT em maio, por conta de fraude na apuração do pleito de 2011 e inelegibilidade de integrantes da chapa vencedora. O processo eleitoral foi conduzido por um procurador do Ministério Público do Trabalho (MPT) e, em novembro, novos representantes foram eleitos em um pleito cujo resultado foi apertado.



EPTC avalia denúncia por bloqueio parcial em túnel


A operação tartaruga começou no início da manhã e se estendeu até por volta de 9h. A ação, que consiste no deslocamento em velocidade inferior a 30km/h, formou filas em avenidas como João Pessoa, Osvaldo Aranha e Farrapos. Isso acabou gerando lentidão no movimento de veículos em vias adjacentes, como Venâncio Aires, Brasil, Cairú e André da Rocha.

Após avaliar imagens e relatórios a respeito da operação, a EPTC concluiu que, dentro dos corredores de ônibus, motoristas não desligaram motores ou pararam veículos para retardar outras viagens. Conforme o diretor-presidente da EPTC e secretário municipal de mobilidade urbana, Vanderlei Cappellari, é avaliada a possibilidade de denunciar a categoria à Delegacia Regional do Trabalho e à Justiça do Trabalho devido ao bloqueio parcial do Túnel da Conceição.

– Lá, o impacto atingiu não só o transporte coletivo, mas a cidade como um todo. Quando eles (rodoviários) caminharam no túnel, trouxe um impacto para a região leste e a zona sul da Capital – afirma Cappellari.

Agentes da EPTC fizeram desvios, tirando ônibus do corredor em alguns momentos, para amenizar o atraso.

– Isso foi dentro de uma operação que a gente acha que está dentro da normalidade. É uma manifestação – acrescenta o diretor-presidente.

No ponto em frente ao Instituto de Educação, além de lentos e atrasados, os ônibus não paravam para pegar passageiros. A camareira Silvia Adriana Moraes da Silva, 41 anos, ficou revoltada. Reclamou com o motorista de um coletivo, desabafando sobre a linha que ela queria, o T7, não chegar nunca. E, quando apareceu, não abriu as portas:

– Passou um T7 e não parou porque não quis. Eu vi, ele não estava lotado.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

PRECARIEDADE NAS VISTORIAS



ZERO HORA 14 de janeiro de 2015 | N° 18042


EDITORIAIS


O atípico número de acidentes envolvendo ônibus registrado neste início de ano nos Estados sulinos chama a atenção para uma falha que pode ajudar a entender melhor as razões das tragédias: a precariedade do trabalho de fiscalização exercido pelos órgãos específicos. Essa é uma questão que precisa ser enfrentada logo, não apenas como resposta a pessoas próximas das vítimas, mas também como forma de evitar a repetição de casos semelhantes e de reduzir os temores entre usuários.

É óbvio que seria impossível fiscalizar todos os veículos coletivos, mesmo no caso de Estados impactados por tragédias, como Rio Grande do Sul e Santa Catarina. E, mesmo quando realizada, a inspeção não se preocupa em detectar problemas mecânicos, por exemplo.

As falhas na execução das atribuições do poder público, em diferentes instâncias, reforçam a responsabilidade das empresas de transporte, que têm o dever de zelar pela segurança dos usuários, da qual depende a sua imagem. A ênfase precisa se dar tanto nas condições físicas dos veículos quanto na seleção e treinamento dos motoristas.

Mais uma vez, de qualquer forma, chama atenção a fragilidade das agências reguladoras, cuja atuação na área de transporte de passageiros está longe de assegurar tranquilidade aos usuários. Os alertas emitidos depois das tragédias deixam evidente que esse quadro precisa mudar, e logo.

domingo, 11 de janeiro de 2015

ACIDENTE COM ÔNIBUS DE PASSO FUNDO DEIXA SETE MORTOS NA SERRA CATARINENSE

ZERO HORA 11/01/2015 | 07h59


Ônibus que saiu de Passo Fundo cai em ribanceira e deixa sete mortos em Santa Catarina. Informações preliminares da Polícia Rodoviária Federal dão conta de que há vítimas fatais




Foto: Edupércio Pratts / Arquivo Pessoal / Corpo de Bombeiros

Um ônibus da empresa Reunidas que saiu de Passo Fundo, no norte do Rio Grande do Sul, com destino a Florianópolis caiu em uma ribanceira na BR-282, na cidade de Alfredo Wagner, na serra catarinense. O acidente aconteceu por volta das 4h30min deste domingo, no km 109 da rodovia. As informações são da Rádio Gaúcha.

Conforme informações do Corpo de Bombeiros de Santa Catarina, sete pessoas morreram e outras 35 ficaram feridas. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) confirma o número de óbitos.

Pelo menos 12 feridos foram levados ao Hospital de Alfredo Wagner. No Hospital Nossa Senhora das Graças, em Bom Retiro, há uma pessoa internada. O Hospital Regional de Florianópolis também recebeu dois passageiros, e o Hospital Nossa Senhora dos Prazeres, em Lages, aguarda a chegada de sete feridos, entre eles uma criança.

De acordo com a Reunidas, o ônibus com 40 passageiros saiu de Passo Fundo às 21h30min em linha direta para Florianópolis. A PRF de Santa Catarina, o Instituto-Geral de Perícias (IGP) e o Corpo de Bombeiros atendem a ocorrência.

Em entrevista à Rádio Gaúcha, um passageiro de Florianópolis que estava no ônibus relatou que sentiu o veículo descontrolado no momento do acidente.

— Eu acordei poucos segundos antes do acidente, com os gritos das pessoas e minha mulher me chamando. Fui um dos primeiros a sair do ônibus e consegui tirar várias pessoas lá de dentro — conta o passageiro.

Ainda segundo o passageiro, aparentemente o ônibus estava em alta velocidade e houve uma troca de motoristas em Lages. Ele relata que estava usando cinto de segurança e que a maioria dos passageiros também usava o equipamento. O passageiro também relatou que o socorro chegou rapidamente, com ambulâncias de Lages e Florianópolis.





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quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

REVISAR A LEI DO CINTO PARA AUMENTAR A SEGURANÇA NO TRÂNSITO



ZERO HORA 08 de janeiro de 2015 | N° 18036


JULIANA BUBLITZ


TRANSPORTE MAIS SEGURO. Está na hora de revisar a lei?


USO DO CINTO de segurança em ônibus do tipo pinga-pinga deveria ser obrigatório, defendem especialistas. Regra que autoriza passageiros a viajar em pé também é questionada



Além de revolta e tristeza, o acidente com o ônibus 5382 da Unesul – que matou seis pessoas e deixou 27 feridas – traz à tona um debate que já não pode ser adiado. Por lei, o uso do cinto de segurança não é obrigatório nos veículos que fazem o transporte intermunicipal na modalidade “comum” – o famoso pinga-pinga. A questão é se não seria o caso de mudar as regras.

Autoridades são unânimes ao afirmar que o dispositivo de segurança poderia ter feito a diferença na tragédia em Glorinha, na tarde de terça-feira. Embora as poltronas do coletivo tivessem cinto, a maioria não utilizava o equipamento.

Se a falta de conscientização é um problema, a legislação também deixa a desejar. O recurso não é exigido nesse caso por distintas razões. Primeiro, porque os ônibus pinga-pinga são autorizados a levar passageiros em pé. Segundo, porque percorrem distâncias menores, fazem paradas e, teoricamente, circulam em baixa velocidade.

MUDANÇA PODERIA AUMENTAR A FROTA

Nada disso, na avaliação do chefe de comunicação da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Alessandro Castro, justifica a omissão. O agente diz que a PRF defende uma mudança radical e urgente na legislação.

– O uso do cinto deve ser obrigatório em todos os ônibus, e os passageiros devem ser responsabilizados caso desobedeçam a determinação. Se doer no bolso, ninguém vai deixar de usar. E mais: as viagens em pé precisam acabar – sintetiza Castro.

Ninguém discorda de que a segurança deve vir em primeiro lugar, mas o professor de transporte e trânsito da Unisinos João Hermes Junqueira faz uma ressalva. Na prática, a alteração viria acompanhada de alguns efeitos indesejados. Seria necessário que a sociedade abraçasse a causa.

– Se fosse proibido transportar passageiros em pé, as companhias teriam de colocar mais ônibus em circulação. Isso acarretaria em aumento nos custos e, consequentemente, nas tarifas – diz Junqueira.

O assessor da presidência do Sindicato das Empresas de Transportes Rodoviários do RS, Gilberto Toigo, engrossa a lista de restrições. Ele estima que a medida resultaria em um aumento de pelo menos 25% da frota em uso, o que contribuiria para entupir o sistema viário.

– Somos parceiros para mudar, desde que o objetivo seja apenas exigir o uso do cinto. Quanto a coibir o transporte em pé, consideramos inviável – afirma Toigo.

Coordenador da Frente Parlamentar em Defesa do Trânsito Seguro, o deputado federal Hugo Leal (PROS-RJ) diz estar disposto a discutir o tema no Congresso.

– Só acho que mudar as normas não seria a solução. De nada adianta aumentar o rigor se não houver fiscalização – resume Leal.

O responsável pelo Comando Rodoviário da Brigada Militar, coronel Fernando Alberto Moreira, complementa: a decisão de usar ou não o cinto de segurança continuaria sendo do passageiro – e da sua consciência.

Colaboraram Bruna Vargas, Felipe Martini e Maurício Tonetto


Polícia avalia homicídio doloso


O motorista do ônibus da Unesul que tombou na terça-feira, Jeferson Padilha da Silva, 38 anos, deve ser indiciado por homicídio doloso (quando há intenção de matar). O delegado Anderson Spier trabalha com a tese de que o condutor estava atrasado e, por isso, corria no momento do acidente na ERS-030, em Glorinha.

Assim, segundo o delegado, teria assumido o risco de causar a morte de seis pessoas e deixar mais de 20 feridos. A marcação do tacógrafo do coletivo, segundo a polícia, seria superior a 100 km/h – o limite no trecho é de 60 km/h.

– Confirmamos os horários e verificamos que ele estava meia hora atrasado. Ele assumiu o risco de fazer uma bobagem por causa do atraso – diz o delegado.

O motorista prestou depoimento na tarde de terça-feira, logo após o acidente, quando negou estar dirigindo acima da velocidade permitida e disse ter ouvido um barulho de molas se rompendo antes do acidente, em uma curva da rodovia. Segundo o delegado, a perícia informou, preliminarmente, que todos os sistemas do ônibus estavam em perfeito estado de conservação.


Despedidas às vítimas


Em Gravataí e Santo Antônio da Patrulha, a quarta-feira foi de despedidas para familiares e amigos das seis pessoas que morreram no acidente com o ônibus da Unesul, na tarde de terça-feira.

Em um dos velórios, os corpos de mãe e filha ficaram lado a lado na capela do cemitério. Nair dos Santos Silva, 69 anos, e Priscila Silva Barbosa, 28, haviam ido a Gravataí para que a dona de casa pagasse uma conta. Na volta, marcariam uma consulta médica para Priscila, casada e mãe de uma menina de oito anos.

Amigos e vizinhos confortaram parentes e familiares. Em 2011, Matusalém da Silva Martins, 46 anos, um dos cinco filhos de Nair, foi vítima de uma colisão entre um carro e uma caminhonete na mesma rodovia em que tombou o coletivo.

Ainda em Santo Antônio da Patrulha, só que na igreja matriz, a comunidade se despediu de Irma Maria Christ, 81 anos, a irmã Cláudia. De seus quase 60 anos de vida religiosa, mais de 30 foram dedicados ao município, onde fundou a Pastoral da Criança, a primeira da região. O hábito de percorrer o Litoral em um Fusca para visitar famílias pobres lhe rendeu o apelido de “Irmã do Fuca”. Uma missa foi celebrada pelo bispo de Osório antes do enterro, no cemitério do município.

No dia do acidente, irmã Cláudia tinha ido a Porto Alegre para um exame de rotina – um câncer havia sido dignosticado anos atrás. Ao chegar no hospital, porém, descobriu que o procedimento não tinha sido autorizado. Retornou antes do previsto no pinga-pinga que costumava evitar, acompanhada de irmã Blandina. Uma das únicas passageiras do ônibus que usava o cinto de segurança, Blandina teve apenas ferimentos leves.




OUTROS MORTOS NO ACIDENTE
JOÃO BATISTA SANTOS DE ALMEIDA, 52 ANOS
Era passageiro assíduo das linhas de ônibus que ligam sua cidade, Gravataí, ao Litoral. Dono de uma oficina de conserto de máquina de costura e fogão a gás, circulava na região prestando atendimento em domicílio. Viúvo, casou-se novamente havia cerca de oito anos. Não tinha filhos.
CARMEM MARIA GERALDA DOS SANTOS, 57 ANOS
Enfermeira aposentada, será lembrada por sua família pela dedicação com todos que a cercavam. Natural de Santo Antônio da Patrulha, dedicou sua carreira a pacientes dos hospitais da região. Retornava de Porto Alegre, onde tinha uma consulta médica. Ela deixa uma filha, enteados, quatro netos e um bisneto.
TERESINHA ANTONIA AUGUSTIN, 52 ANOS
A funcionária de uma empresa de embalagens em Glorinha voltava de uma consulta médica em Gravataí. Conforme a Rádio Gaúcha, Teresinha estava ao telefone com o irmão no momento em que o ônibus tombou. Ao saber do acidente, ele foi até o local, onde recebeu mais tarde a informação de que a irmã estava entre as vítimas. Teresinha deixa marido e três filhas.


O QUE DIZ A LEGISLAÇÃO
Duas resoluções tratam do uso do cinto em ônibus intermunicipais
-A resolução nº 14, de 1998, do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), diz que o uso do cinto não é obrigatório no caso dos ônibus nos quais é permitido transportar passageiros em pé.
-A resolução nº 5.755, de 2014, do Conselho de Tráfego do Daer, regulamenta o transporte de pessoas em pé nos ônibus da modalidade “comum” (pinga-pinga), limitando o número de passageiros e a extensão que eles pode percorrer sem sentar (até 75 km).

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

CONDENADOS POR ACIDENTES COM MORTES CONTINUAM DIRIGINDO NO BRASIL

G1 FANTÁSTICO Edição do dia 04/01/2015


Condenados por acidentes com mortes continuam dirigindo no Brasil., Renner, da dupla Rick e Renner, se envolveu em acidente um dia após o Natal, pagou fiança e foi liberado. Em 2001, ele atropelou e matou um casal.





Um acidente de automóvel, um dia depois do Natal, chamou a atenção, por envolver um artista conhecido: Renner, da dupla sertaneja Rick e Renner. O cantor já tinha um longo histórico de infrações ao volante. Num outro acidente, ele matou duas pessoas.

Dois dias depois, também na cidade de São Paulo, uma outra batida grave foi provocada por um motorista condenado por um acidente com morte. Só que tanto ele quanto Renner continuavam dirigindo.

“Eu acho lindo demais o trabalho de vocês. Mas, gente, que sacanagem é essa?”, diz o cantor Renner em uma gravação.

O homem com sinais de embriaguez é Ivair dos Reis Gonçalves, 43 anos. No mundo artístico, ele é o Renner, da dupla sertaneja Rick e Renner.

Em 2001, em alta velocidade, ele bateu em uma moto e matou um casal. Agora, um dia depois do Natal, voltou a provocar um acidente. Estava bêbado. Só que desta vez não houve vítimas.

Policial: Você bebeu vodka?
Renner: Vodka.
Policial: Mas você bebeu uma garrafa?
Renner: Não, não bebi uma garrafa.

Outro homem que aparece no vídeo acima é Walter Fernandes Lopes, 28 anos. Ao volante, já causou a morte de três pessoas. Duas delas, em um acidente domingo (28) passado.

Renner e Walter têm algo em comum: são reincidentes, ou seja, cometeram crimes no trânsito mais de uma vez. Como foi possível continuarem dirigindo, mesmo depois de condenados por acidentes com mortes?

“Porque a lei é branda. Porque ninguém vai preso nesse país porque matou no trânsito”, explica o advogado Maurício Januzzi dos Santos.

Os fatos confirmam a opinião do presidente da Comissão Nacional de Trânsito da Ordem dos Advogados do Brasil. Mesmo depois de bater o carro embriagado e de tentar fugir, Renner pagou fiança de R$ 10 mil e foi liberado.

“O que não se explica é uma pessoa com antecedentes criminais conhecidos simplesmente sair de uma delegacia de polícia pela porta da frente e não ter sequer suspenso o direito dele de dirigir veículo automotor”, afirma Januzzi.

Ao Fantástico, a Secretaria de Segurança Pública disse que todas as decisões tomadas pelo delegado do caso seguiram a legislação vigente no país.

No acidente de 2001, em Santa Bárbara d’Oeste, interior de São Paulo, segundo a perícia, Renner estava a quase 160 km/h. Dez anos depois, foi condenado a três anos e seis meses de detenção e pagamento de multa de 360 salários mínimos. Nesse período, foi proibido de dirigir. Ou seja, no dia do novo acidente, na Zona Sul de São Paulo, o cantor não poderia estar ao volante. Além disso, Renner estava com a carteira vencida desde 2010.

A mãe de Luiz, um dos mortos no acidente de 2001, ‎não se surpreende com o comportamento de Renner. “Como ele tem certeza da impunidade, ele não acredita que um dia ele pode ser preso”, conta a comerciante Lourdes Nunes.

Segundo a assessoria do cantor, depois do dia 26, ele foi internado em uma clínica de reabilitação. Crimes de trânsito deixam marcas para sempre nas vidas das famílias. E a revolta delas é ainda maior quando descobrem que motoristas que já mataram dirigindo continuam nas ruas provocando acidentes ainda mais graves.

O segundo acidente de Walter foi dois dias depois do de Renner. Ele dirigia um carro na Zona Norte de São Paulo. Ao fazer uma ultrapassagem perigosa, ‎bateu na traseira de outro carro, que foi jogado contra um poste. Morreram o pai e uma filha de dois anos. A mãe da criança e outra filha do casal, de 5 anos, ainda estão internadas. Walter não socorreu as vítimas, fugiu do local e ainda tentou enganar a polícia.

Fantástico: Ele quis simular que o carro tinha sido roubado e que ele não era o responsável pelo acidente. Tinha acabado de matar duas pessoas. Como a polícia descobriu essa farsa?

Carlos Biondi, delegado de polícia: A Polícia Militar já havia localizado o veículo que ele próprio abandonou. Quando ele veio à delegacia achando que ia levar o veículo, ele acabou caindo em contradições e veio a confessar que fora o autor do crime.

Walter foi preso e, na sexta-feira (2), foi interrogado.

Delegado: Ali, você sabe qual a velocidade máxima?
Walter: Cinquenta por hora.

Cinquenta quilômetro por hora é a velocidade permitida no ponto onde foi o acidente. O Fantástico conseguiu imagens feitas segundos antes da batida. Um perito analisou o vídeo.

“Do ponto A ao ponto B, ele estaria a 95 km/h, aproximadamente. Consequentemente, ele estava bem acima do permitido”, afirma o perito.

Walter: Eu não matei ninguém porque eu quis. Só aconteceu um acidente, só.
Fantástico: Só? Mas morreram duas pessoas, você acabou com uma família. Tem consciência disso?
Walter: Tenho.

Em 2008, com 21 anos de idade, sem ter ainda carteira de motorista, Walter atropelou e matou uma mulher. Mesmo depois do acidente, antes de ser julgado, ele conseguiu tirar a habilitação. Quatro anos depois do crime, saiu a sentença: três anos e quatros meses de prestação de serviço à comunidade e a perda do direito de dirigir por apenas três meses.

Já Renner nunca foi para a cadeia. Dois anos depois de causar as duas mortes em Santa Bárbara d'Oeste, ele participou, ao lado do parceiro Rick, de uma campanha contra acidentes de trânsito a convite da Polícia Rodoviária do Estado de São Paulo. O tema era "seguir as leis de trânsito é dez, é cem, é mil". Para a família das vítimas, um caso de desrespeito.

“Eu vejo como uma afronta para a família e para a sociedade também. Qual a lei de trânsito que o Renner segue? Nenhuma!”, afirma Lourdes Nunes, mãe de uma das vítima de 2001.

A Polícia Rodoviária Estadual afirma que na época da campanha, Renner não tinha sido condenado pela Justiça e por isso não havia motivo legal para impedir a participação do artista.

“Enquanto não houver uma mudança do pensamento do legislador e da Presidência da República de que matar no trânsito é um crime essa realidade não vai mudar”, lamenta o advogado Januzzi.

“O dever do estado é tirar o mau motorista de circulação”, defende Lourdes Nunes.