quinta-feira, 13 de outubro de 2011

A CULTURA DA CONVIVÊNCIA

EDITORIAL ZERO HORA 13/10/2011


Os acidentes de trânsito, que ocupam as manchetes neste dia seguinte ao feriado e voltam a enlutar famílias brasileiras, resultam prioritariamente do mau comportamento dos motoristas e da sua dificuldade para se adaptar ao novo cenário do Brasil emergente, mais próspero, mais consumista e mais perigoso. Com a ascensão social de milhões de brasileiros nos últimos anos, em decorrência do desenvolvimento econômico e de programas de distribuição de renda, o carro tornou-se um bem mais acessível a famílias que até então tinham renda insuficiente para adquiri-lo. Em consequência, as estradas e as artérias das grandes cidades estão superlotadas de veículos, incontáveis novos motoristas vêm sendo habilitados a cada dia e o trânsito transformou-se em verdadeiro desafio para a convivência civilizada.

Evidentemente, o morticínio do trânsito não pode ser atribuído apenas aos novos motoristas e muito menos ao acesso de mais pessoas ao conforto do automóvel – o que é desejável numa sociedade democrática. Mas é inquestionável que a frota cresce numa proporção maior do que a capacidade do poder público de oferecer infraestrutura rodoviária adequada e, principalmente, de educar, disciplinar, fiscalizar e punir motoristas despreparados ou infratores. Com estradas cheias, movimento intenso nas rodovias e condutores intolerantes, o risco de tragédias também se multiplica.

Qual é a saída deste labirinto moderno que, como o da mitologia, consome insaciavelmente vidas humanas? Não há solução fácil, mas certamente o fio de Ariadne passa pela educação para o trânsito, pela conduta individual dos motoristas, para depois se estender por pontos importantes como a melhoria das rodovias, a fiscalização rigorosa e a punição inflexível dos transgressores.

Porém, o essencial é prevenir. O ponto de partida para uma convivência civilizada no trânsito é evitar, por todos os meios possíveis, que os elementos formadores das tragédias se conjuguem: a velocidade, a ingestão de bebida alcoólica por motoristas, o desrespeito às regras, a imprudência, a imperícia e a impunidade. Há carros demais para a capacidade das estradas brasileiras, sem dúvida. Mas o que mata e mutila pessoas, o que infelicita famílias e o que provoca manchetes de dor na imprensa depois dos feriados é um componente desses veículos cujo funcionamento satisfatório não depende da competência técnica dos fabricantes: o condutor.

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