segunda-feira, 23 de março de 2015

OBRAS FEDERAIS NO RS PISAM NO FREIO

ZERO HORA 23/03/2015 | 04h02
por Caio Cigana


Duplicação da BR-116, entre Guaíba e Pelotas, é um dos projetos que mais sofrem atraso em razão da demora no repasse de dinheiro vindo da União. Escassez de recursos também afeta os serviços de manutenção de estradas




Recém iniciada, a duplicação da BR-290, entre Eldorado do Sul e Pantano Grande, é uma incógnita Foto: Lauro Alves / Agencia RBS


O cinto apertado do governo federal, em busca de economia para colocar as contas do país em dia, pôs um pé no freio na construção e duplicação de rodovias federais no Estado. O atraso de cerca de R$ 140 milhões no pagamento por serviços realizados, aliado a aumento nos preços do asfalto, paralisa ou diminui o ritmo em obras de pelo menos três estradas, além de afetar a manutenção de vias existentes.

Levantamento da Associação Nacional das Empresas de Obras Rodoviárias (Aneor) indica que, no país, a dívida do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) com as construtoras é de R$ 1,4 bilhão. No Estado, seria 10% do total, estima o Sindicato da Indústria da Construção de Estradas, Pavimentação e Obras de Terraplenagem (Sicepot-RS).


Uma das mais impactadas é a duplicação da BR-116, entre Guaíba e Pelotas. Dos nove lotes, dois estão totalmente paralisados e os outros sete têm andamento lento, com a pavimentação de asfalto parada. Recém iniciada, a duplicação da BR-290, entre Eldorado do Sul e Pantano Grande, é cercada de dúvidas, diz o presidente do Sicepot-RS, Nelson Sperb Neto:

– Até outubro, era prioridade. Mas como não é restauração nem está em fase de conclusão, não sabemos o que vai acontecer.

O trabalho de conservação e restauração das rodovias existentes também está comprometido. Conforme o Sicepot, apenas 40% das obras estão com andamento normal. Para completar, as empresas também depararam com um aumento de 35% no preço do asfalto vendido pela Petrobras. Com isso, alega a entidade, os contratos ficam desequilibrados e a saída seria o Dnit cobrir a diferença devido ao aumento de custos não previsto.

Para o presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado (Crea-RS), Melvis Barrios Junior, o contingenciamento pode sair mais caro:

– A descontinuidade ou a redução do ritmo de uma obra acarreta custos maiores porque o que já foi feito vai se deteriorando.

Dnit afirma que vai regularizar verbas

Na busca por cortar gastos, o governo federal anunciou no fim de fevereiro contingenciamento de R$ 32,6 bilhões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) de restos a pagar de 2013. Pelos cálculos da Aneor, no primeiro quadrimestre, o Ministério dos Transportes dispõe de apenas R$ 560 milhões para pagar construtoras.

A superintendência do Dnit no Estado afirma que não foi comunicada oficialmente sobre a paralisação de obras e discorda da projeção do Sicepot de que apenas 40% dos trabalhos de reparos e manutenção transcorrem normalmente. A sede do órgão, em Brasília, informa que fará o reequilíbrio relacionado ao aumento do asfalto nos contratos e sustenta que, após a aprovação do orçamento de 2015 pelo Congresso semana passada, é esperado decreto do Executivo sobre a programação financeira, "o que possibilitará a regularização dos compromissos".

Em visita na última sexta-feira ao Estado, a presidente Dilma Rousseff não deu boas notícias e classificou como "significativo" o contingenciamento de recursos.

Ampliação em hospital tem custo reduzido

Nem todas as obras têm o ritmo atrapalhado pelo contingenciamento de recursos federais. O melhor exemplo é a ampliação do Hospital de Clínicas, na Capital. O projeto, que vai permitir a oferta de 150 novos leitos, está orçado em R$ 397 milhões e tem previsão de ser concluído no prazo, em novembro de 2017.

– Não temos nenhum problema com recursos nem de sequência da obra – assegura o engenheiro Fernando Martins Pereira da Silva, assessor técnico da administração central do Clínicas.

Apesar dos atrasos no cronograma inicial, a nova ponte sobre o Guaíba também tem agora andamento normal, confirma o Sindicato da Indústria da Construção de Estradas, Pavimentação e Obras de Terraplenagem (Sicepot-RS). Outro projeto de rodovia com ritmo adequado, de acordo com o levantamento da entidade, é a travessia urbana de Santa Maria, com a duplicação de estradas que cortam a cidade.

Listadas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), as barragens de Jaguari e Taquarembó, na Metade Sul, também não sofrem com falta de recurso, garante Gilmar Carabajal, diretor do departamento de irrigação da Secretaria de Obras do Estado. As construções foram retomadas no ano passado.

Projetos afetados pelo atraso ou indefinição nas verbas

Duplicação da BR-116 entre Guaíba e Pelotas
Dois dos nove lotes estão totalmente paralisados, segundo o Sicepot. De acordo com a entidade, os outros sete lotes têm trabalhos lentos e todos estão com a parte de revestimento asfáltico parada.

Contorno de Pelotas
Obra dividida em dois lotes. Segundo o Dnit, o 1A deve ser concluído em maio. Para o lote 1B, a previsão de término é primeiro semestre de 2016 – até o ano passado, o prazo era o fim de 2015. Conforme o Sicepot, a obra do primeiro lote tem um bom ritmo e, a do segundo, sofre com lentidão e tem a pavimentação por asfalto parada.

Duplicação da BR-290 entre Eldorado do Sul e Pantano Grande
De acordo com o Sicepot, pendências ambientais e de definição de recursos para 2015 ameaçam a obra. Segundo o Dnit, há trabalho nos lotes 2, 3 e 4, mas o lote 1 ainda espera a liberação da Funai. A obra era para ter começado em 2013, mas foi iniciada apenas no fim do ano passado.

Restauração e conservação de rodovias pavimentadas
Apenas cerca de 40% das obras com andamento normal, segundo o Sicepot. O Dnit discorda do percentual.

Andamento de projetos com recursos federais no Estado

Prolongamento da BR-448 (Rod. do Parque)
Foi anunciado em abril de 2013 pela presidente Dilma. Seria um trecho de 18,7 quilômetros até Portão e depois outro de oito quilômetros até Estância Velha. A ampliação até Portão teve a licitação para estudos, projetos e obra lançada em outubro passado, mas deve ser revogada pelo Dnit pela necessidade de ajustes. A promessa é de a obra ficar pronta até o fim de 2017. O trecho Portão-Estância Velha está em estudos.

Prolongamento da BR-392
Também anunciado em abril de 2013, o trecho de Santa Maria a Santo Ângelo, com 235 quilômetros, deveria ter começado em 2014, com conclusão em três anos. O Dnit realiza Estudo de Impacto Ambiental. O trajeto já está aprovado no Estudo de Viabilidade Técnica Econômica e Ambiental. A promessa agora é que a obra se inicie em 2016.

Nova ponte do Guaíba
Era para ter iniciado em maio passado, mas só começou em outubro, quatro anos depois do anúncio de que seria construída. A previsão de entrega é setembro de 2017. A obra terá 2,9 quilômetros e duas faixas de tráfego. Nesta primeira fase, o consórcio responsável pelo empreendimento trabalha nos projetos, nas ações de reassentamento de cerca de mil famílias e na fabricação das peças pré-moldadas que irão compor a travessia. O Dnit promete o andamento no prazo da obra.

Duplicação da rodovia BR-392 entre Pelotas e Rio Grande
Está concluída, de acordo com o Dnit.

BR-116 na Região Metropolitana
Viaduto de Sapucaia do Sul está concluído e liberado ao tráfego. As melhorias operacionais do trecho já foram licitadas e as empresas contratadas. Atualmente estão trabalhando nos projetos, conforme prevê a modalidade de contratação.

Duplicação da rodovia BR-386 entre Tabaí e Estrela

Os trabalhos começaram em novembro de 2010 e deveriam estar completamente prontos em 2013. O andamento está atrasado por impasse com a Fundação Nacional do Índio (Funai) devido à remoção de aldeia indígena às margens da estrada, o que impede o andamento das obras em dois quilômetros, em Estrela. O Dnit espera realizar a mudança da comunidade indígena para a nova aldeia até o fim de abril. Assim, poderá dar continuidade aos trabalhos, que seriam concluídos no ainda fim deste ano, estima o departamento.

Travessia urbana de Santa Maria

A duplicação de 14,1 quilômetros nas BR-158 e BR-287 está com andamento normal, segundo levantamento do Sicepot. Será feita a duplicação das estradas que cortam a cidade. A largada no projeto, orçado em R$ 309 milhões, foi dada em dezembro passado. A previsão é de que a travessia seja concluída em três anos.

Barragens Taquarembó e Jaguari
Mesmo sob responsabilidade do Estado, são obras listadas no PAC. Iniciadas em 2009, foram paralisadas em 2011 e 2012 por falta de recursos e suspeitas de irregularidades. Têm agora contratados R$ 141,8 milhões, sendo 99% da União. Segundo a Secretaria de Obras do Estado, não há problema de repasse de recursos. Os trabalhos foram reiniciados ano passado. Ambas têm previsão de conclusão em março de 2016. Taquarembó contempla Dom Pedrito, Lavras do Sul e Rosário do Sul. Jaguari abrange São Gabriel, Lavras do Sul e Rosário do Sul.

Hospital de Clínicas
Obras na Capital estão dentro do cronograma e inclusive com redução de R$ 11 milhões no orçamento em relação à previsão inicial de R$ 408 milhões. Previsão é de ficar pronta em novembro de 2017.

Hidrelétricas de Garabi e Panambi
Apresentam atraso em relação ao cronograma original. No caso da usina de Garabi, está em andamento o cadastramento socioeconômico e imobiliário na área rural. Na usina de Panambi, o mesmo trabalho e o licenciamento ambiental foram paralisados pela Justiça Federal. As duas obras, no Rio Uruguai, serão feitas com a Argentina. O início estava previsto para 2018. Cinco anos atrás, a intenção era dar a largada em 2012.

Ferrovia Norte-Sul
O Estudo de Viabilidade Técnica Econômica e Ambiental do prolongamento da ferrovia entre Panorama (SP) e Rio Grande, no sul do Estado, seria concluído em abril do ano passado. O prazo passou para dezembro e agora a estatal federal Valec espera que esteja concluído ainda no primeiro semestre deste ano.

Reforma e ampliação do terminal de passageiros no aeroporto Salgado Filho
Depois de sucessivos atrasos, tem previsão para ficar pronta em janeiro de 2017. Dos 105 milhões orçados pela Infraero no ano passado para as obras, apenas 10% foram aplicados.

Ampliação dos sistemas de pistas e pátios de aeronaves no Salgado Filho
Apresenta boa velocidade de realização das obras e deve ficar pronta daqui a dois meses. No ano passado, foram aplicados no projeto R$ 71,2 milhões dos R$ 71,9 milhões orçados pela estatal.

Prolongamento da pista no Salgado Filho

A informação mais recente da Infraero, administradora do aeroporto, é que a obra, prometida há mais de 15 anos, não deve começar antes de dezembro de 2016. O obstáculo é a remoção das famílias que moram nas proximidades.

quinta-feira, 19 de março de 2015

INSTRUTORES DE TAXISTAS SÃO AFASTADOS



ZERO HORA 19 de março de 2015 | N° 18106


CARLOS ROLLSING


TRÂNSITO. DESVIO NO VOLANTE. Senat afasta instrutores de taxistas

DEPOIS DE SEREM FLAGRADOS por reportagem de ZH em atitudes inadequadas, dois professores do curso de formação obrigatório estão impedidos de realizar atividades até resultado de sindicância


Flagrados pela reportagem de ZH em atitudes inadequadas durante o curso obrigatório de formação de taxistas da unidade de Porto Alegre do Sest-Senat, os instrutores Mauro Alcântara e Jayson Machado foram afastados ontem das atividades.

Eles seguirão sem ministrar aulas enquanto durar uma sindicância que será instalada pelo diretor do Sest-Senat, Carlos Becker Berwanger, para apurar os fatos.

– A sindicância deve levar 15 ou 20 dias. Vamos analisar outras questões além das levantadas (na reportagem). Decisões mais específicas vão ser tomadas após a conclusão da sindicância. Aí, sim, vou tomar as medidas cabíveis e legais – disse o diretor, sem detalhar quais poderão ser as sanções adotadas pela entidade.

Entre 23 e 27 de fevereiro, a reportagem de ZH frequentou o curso de formação de taxistas e flagrou o instrutor Alcântara dando dicas sobre como fazer “contratos de gaveta” para comprar placas de táxi, o que é ilegal. Ele também relatou episódio em que ameaçou agredir uma mulher durante uma discussão no trânsito.

Já o professor Machado descreveu aos alunos um atrito que teve com um motoboy. No desfecho da história, ele lista reações que poderia ter tomado para derrubar o motociclista, causando um acidente. Alcântara, que deu aulas de legislação de trânsito e transporte, trabalha há dois anos como instrutor do Sest-Senat. Machado, do módulo de direção defensiva, é professor da instituição há três anos. Por mês, eles participavam do processo de formação de cerca de cem taxistas.

DIRETOR DIZ QUE NÃO NOTOU CONDUTA FORA DO NORMAL

Ambos também ministravam aulas em outros cursos oferecidos pela entidade, como para condutores de veículos escolares, ônibus, lotações, cargas perigosas, operador de empilhadeira, veículos de emergência, gestão, logística e até treinamentos para agentes da Empresa Pública de Transportes e Circulação (EPTC). Embora fossem funcionários com certo tempo de casa, o diretor do Sest-Senat afirmou que jamais havia percebido qualquer anormalidade no comportamento deles.

– Em nenhum momento pude constatar atitude que desvirtuasse a condição deles como instrutores. Isso é bastante subjetivo. Tem de estar presente dentro da sala de aula, e meu papel não é ficar dentro da sala, eu dirijo a entidade. Se, porventura, tivesse observado alguma atitude em desacordo, teria tomado providências imediatas – afirmou Becker.

A EPTC também afirmou que nunca havia recebido qualquer notícia ou reclamação sobre o comportamento dos instrutores, embora eles fossem antigos no exercício da função.

quarta-feira, 18 de março de 2015

CURSO PARA FORMAR (MAUS) TAXISTAS

ZERO HORA 18 de março de 2015 | N° 18105

por Carlos Rollsing


Em curso para formação de taxista, instrutores ensinam como burlar legislação de licença
Aulas obrigatórias para obter carteira de motorista de táxi na Capital são recheadas de relatos de professores orgulhosos de seus maus comportamentos no trânsito



Reportagem frequentou curso obrigatório para taxistas no Senat da Capital Foto: Carlos Rollsing / Agência RBS


Dicas para alunos efetuarem negócios irregulares, professores contando com empolgação experiências pessoais de agressividade no trânsito, animosidade contra motociclistas e futuros profissionais do transporte público revelando a intenção de enganar passageiros.

Situações como as relatadas acima foram documentadas por ZH durante uma semana, período em que a reportagem frequentou o curso de formação profissional para condutores de táxi, no Serviço Nacional de Aprendizagem no Transporte (Senat), no bairro Humaitá, em Porto Alegre.

Para obter o chamado “carteirão” da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) que autoriza o exercício da função de taxista na Capital, é obrigatório fazer o curso de formação do Senat. É a primeira e mais importante das etapas. Sem isso, não há carteirão.


Na prática, a EPTC, vinculada à prefeitura, terceiriza ao Senat a aplicação do curso. São 45 horas-aula, ao custo de R$ 160 pagos pelo aluno. Fazem parte do aprendizado os módulos qualidade em atendimento, cidadania, legislação de trânsito e direção defensiva, entre outros. No último dia, é aplicada uma prova com 20 questões objetivas.

Por mês, o Senat forma cerca de cem profissionais de táxi. São 25 alunos por turma, uma por semana. Matriculada regularmente, a reportagem de ZH frequentou o curso entre 23 e 27 de fevereiro, se identificando apenas como alguém que buscava no táxi uma nova oportunidade de trabalho.

Durante os cinco dias, o que aconteceu nas aulas ajuda a explicar a má fama de parte dos taxistas, que acabam denegrindo a imagem da categoria e prestando serviços de qualidade questionável, e o caos no trânsito em Porto Alegre, tomado por atitudes agressivas. Veja a seguir os principais fatos registrados por ZH em vídeo e áudio.



DIA 1 - Em seis minutos, aula sobre como derrubar um motoboy


O primeiro dia de curso foi dedicado ao módulo de direção defensiva com o instrutor Jayson Machado. Uma das características dos educadores do Senat é utilizar parte do tempo de aula para contar experiências pessoais no trânsito. Jayson dedicou seis minutos para relatar um atrito que sofrera recentemente com um motoboy na Avenida Carlos Gomes. O trânsito estava parado pela tranqueira, e o motorista do veículo ao lado do instrutor fez uma leve manobra que aproximou os carros, quase tocando espelho com espelho. Isso impedia que os motociclistas utilizassem o chamado corredor (vão entre os carros) para driblar o congestionamento. Foi quando Jayson percebeu a aproximação agressiva de um motoboy.

– Daqui a pouco ele (motoboy) trancou o dedo na buzina: biiiiiiiiippp. Quando ele trancou o dedo na buzina, ele levantou a perninha dele. Tipo assim, dizendo ‘vocês não têm noção, por que não deixam o corredor para mim? Agora azar é o teu, eu vou arrancar o teu espelho’. Só que ele iria arrancar o espelho de um cara que não cometeu nenhum erro. Se ele queria arrancar espelho, que arrancasse o do outro cara, porque o erro não tinha sido meu. Aonde eu quero chegar com isso? Que até para arrancar espelho tu tem de ser malandro, meu. Viu a burrice desse motoboy? Ele me avisou, ele já veio com o pé levantado e a mão na buzina, lá detrás. Baita de um trouxa – detalhou Jayson, arrancando risos da turma.

Com os alunos curiosos, ele deu continuidade ao relato, listando uma série de ações violentas que poderia tomar no desenlace do conflito.

– Eu pensei comigo: esse louco vai arrancar o meu espelho mesmo? Esse louco vai me azarar, mesmo eu não tendo culpa nenhuma? Não, ele não vai me azarar. Já que ele quer me azarar, eu sou mais malandro do que ele. O que tu acha que eu, um professor, fiz aqui? Ele levantou o pé e ia arrancar o meu espelho. Letra A: abri a porta. Ele ‘dele’ (bateu) na minha porta. Eu tenho seguro e ele pagou a franquia para colocar uma porta nova ali. Letra B: abri o vidro, coloquei o braço para fora e fiz ele parar. Letra C: ah, tu vai me foder? Então eu vou te foder primeiro. Botei uma primeira e botei a frente do meu carro e fechei ele. Ele deu no meio dos dois e rolou no chão. Motoboy trouxa, né? Esse louco deu sorte que encontrou na frente dele um professor – relatou Jayson, entre gargalhadas dos alunos.

No final, o instrutor disse que apenas apertou um botão do painel que recolhe o retrovisor do carro, deixando de lado as alternativas que causariam danos físicos ao motoboy.

Não houve um apontamento da necessidade de convivência pacífica entre os diferentes no trânsito. A cartilha distribuída aos alunos pelo Senat diz, na página 62, que é função do taxista “tratar com educação, polidez e urbanidade os passageiros, os agentes de órgãos fiscalizadores, os demais taxistas, os motoristas, os transeuntes e o público em geral”.



DIA 2 - Instrutor diz como comprar placa de táxi, negócio ilegal


Os turnos da manhã e da tarde foram reservados para aulas com o instrutor Mauro Alcântara sobre legislação de trânsito e de transporte. Nos primeiros minutos, o educador pediu que os alunos se apresentassem, informassem há quanto tempo têm a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e explicassem o motivo de terem escolhido o táxi como profissão.
Um jovem que estava entre os primeiros consultados afirmou que iria “comprar” um táxi em sociedade com o cunhado.

Como as placas são uma concessão pública da prefeitura, a negociação, seja por venda ou aluguel, é proibida. A própria cartilha do Senat diz, na página 74, que “alugar, alienar ou negociar a permissão” é considerada uma “infração incompatível com a prestação do serviço”, o que resulta em multa de 2 mil UFMs (cerca de R$ 6,6 mil) e revogação do direito de explorar o táxi.

É uma falta que está acima das “infrações gravíssimas”.

Mesmo sabendo da irregularidade, o professor deu dicas para que o aluno efetuasse a transação.

– Beleza, meu. Dá grana. Cuida com essa história de comprar táxi porque, oficialmente, não pode. Comprar e vender táxi é tudo contratinho de gaveta, por debaixo dos panos. Cuida que tem de fazer um negócio bem amarradinho, porque senão daqui uns anos chega um neguinho e diz: ‘Me dá que é meu (a placa). Faz um negócio bem feito. Tá, meu velho? – orientou Mauro.

Instantes depois, um aluno que chegou atrasado foi convidado a fazer a apresentação e disse que “compraria placas” em parceria com o padrasto. O instrutor repetiu o alerta:

– Já te digo o que eu disse para os guris antes de tu chegar: não existe compra de placa, não existe aluguel de placa, é tudo por debaixo dos panos, tudo contrato de gaveta. Então tu faz bem amarradinho, contratinho bem feitinho porque, de uma hora para outra, o cara pode chegar e dizer ‘me dá aqui que é meu’. E aí tu fica com um carro cor de laranja, né, todo mundo sabe que já foi táxi, e até para vender o carro é difícil.

Mais tarde, o instrutor contou à turma um episódio de discussão de trânsito na zona sul da Capital em que ele, depois de ser ofendido, ameaçou agredir uma mulher.

Primeiro, Mauro relatou que a mulher lhe proferiu “trocentos” xingamentos e sinais. Indignada, a condutora teria aberto o vidro para ofender o instrutor. Foi nesse ponto que as coisas esquentaram, conforme detalhou Mauro.

– Ela me disse: ‘O que que é, magrão? Se tu falar alguma coisa, vou te dar umas porradas.’ Eu comecei a rir e ela perguntou se eu não estava levando fé. Eu só coloquei a minha cabeça para fora e disse a ela: se tu te comportar que nem homem, vai apanhar que nem homem. Ela levantou o vidro na hora. Era só o que me faltava, né, cara, eu estar completamente certo e ela completamente errada, me enchendo de desaforo, e eu ainda apanhar da mulher – gabou-se.

No curso no Senat, os alunos recebem orientações para se afastarem de discussões e brigas de trânsito, exatamente o oposto do que fez o instrutor.



DIA 3 - Minoria dos alunos disse que iria enganar passageiros


Pela manhã, os alunos assistiram aulas do módulo qualidade com a instrutora Cláudia Feijó. Nesse dia, episódios ilustraram o comportamento de um grupo de pelo menos sete futuros taxistas dentre os 25 alunos da turma. No decorrer das aulas, foram diversas as afirmativas desse time minoritário de alunos que, diante do professor e dos colegas, garantiam que iriam enganar passageiros, alterar o taxímetro e portar porretes ou “amansa-louco” para agredir e ameaçar pessoas que causassem problemas. Em geral, os instrutores não reagiam às confissões. Na quinta-feira pela manhã, um episódio foi emblemático.

Cláudia pediu que os alunos se apresentassem. Um deles afirmou que já trabalha há três anos como taxista em Porto Alegre. Como somente agora fazia o curso para providenciar o carteirão, ele revelou que atuava utilizando o documento de um irmão gêmeo. A instrutora, inicialmente, deu um tratamento mais ameno ao caso.
– Foragido da EPTC (referência ao fato de ele trabalhar irregularmente)? Eu não ouvi isso. Eu escutei, mas não processei. O teu irmão confia em ti, hein? – disse a instrutora.

Ela deu continuidade à aula e, instantes depois, explicava que fidelizar clientes idosos, com um trabalho dedicado e honesto, era um bom caminho para aumentar a renda no táxi.

– Pessoas que tu dá um bom atendimento, tu vai ter retorno. Dá para tirar uma boa grana, aquele que quer trabalhar, não precisa roubar de ninguém – afirmou.

O aluno que já tinha admitido trabalhar ilegalmente, tão logo percebeu a brecha após a frase “não precisa roubar de ninguém”, disparou:

– Às vezes, né.

Os risos foram generalizados.

– Fugitivo da EPTC, usa o carteirão do irmão e acha que às vezes pode roubar? – reagiu a professora.

– Claro que dá – retrucou o aluno.

Cláudia, então, mudou o tom. Para não bater de frente com o rapaz, passou a recordar dois casos que já tinha presenciado de pessoas que entraram no curso alardeando à turma que iriam roubar clientes. Um deles, contou, queria usar o espaço da aula para ensinar a adulterar o taxímetro, o que ela disse ter impedido. O outro era funcionário do pai e lhe aplicava golpes. Ao final, em tom de reprimenda e desabafo, falou:

– Isso é preocupante. Quando a pessoa perde a vergonha, o que tu espera? – lamentou.

Questionada pelo repórter, que se passava por aspirante a taxista, sobre as possíveis providências contra maus alunos, a professora respondeu que não tem poder para reprovar pessoas, mesmo aquelas que confessam atitudes classificadas como infrações na lei.

– Eu não tenho o poder (de reprovar). Eu posso dar o nome lá, o pessoal tem contato com a EPTC – resumiu, explicando que já havia denunciado casos semelhantes à coordenação do curso.




CONTRAPONTOS

VANDERLEI CAPPELLARI, DIRETOR-PRESIDENTE DA EPTC - Espero que o Sest-Senat tome medidas duras de correção. Ficou demonstrado que pessoas entram na atividade profissional com a intenção de ludibriar o cliente. É extremamente preocupante o professor dar dicas de ilegalidade, sobre como burlar a lei que proíbe comercialização de placa. Ele precisa ser eliminado da função de instrutor. E também é dado exemplo de como ser mau motorista e provocar acidente com risco de morte. Sem condições de ser um instrutor de direção defensiva.
CARLOS BECKER BERWANGER, DIRETOR DA UNIDADE DO SEST-SENAT - O Senat é uma instituição séria. Temos programa de acompanhamento dos instrutores justamente para não acontecerem essas coisas, mas a gente não está livre, temos quase cem funcionários. Todas as providências vão ser tomadas, inclusive as legais e jurídicas. Quando eu falo em providências, é no geral, em toda a equipe de colaboradores. Vou tomar atitudes para que esses fatos não se repitam. Condeno veementemente a atitude de dois instrutores. Isso me surpreendeu.

domingo, 15 de março de 2015

ACIDENTE COM COLETIVO MATA MAIS DE 49 PESSOAS NA SERRA CATARINENSE

ZERO HORA  em 15/03/2015 | 03h28


Acidente com ônibus na SC-418, em Joinville, é um dos cinco maiores da história do país
Veículo caiu em ribanceira e deixou 49 pessoas mortas na Serra Dona Francisca

por
Leandro Junges



Foto: PMR / Divulgação


Mesmo que o número oficial de mortos ainda possa mudar, o acidente com o ônibus de excursão que levava moradores do bairro São Cristóvão, de União da Vitória (PR), para o litoral paranaense já coloca as curvas da Serra Dona Francisca, em Joinville, como cenário de um dos cinco maiores acidentes rodoviários da história do país. O veículo despencou de uma altura de 400 metros no final da tarde deste sábado, dia 14, deixando mais de 49 pessoas mortas.



Confira abaixo os maiores acidentes rodoviários registrados nas estradas brasileiras, em número de mortos:

1º - Julho de 1987 – 68 mortos


Um ônibus de turismo da Viação Transmuniz bateu de frente com um ônibus da Viação Transnazaré, que transportava romeiros vindos da festa de Santana, na cidade de Belo Vale (MG). O acidente aconteceu na BR-040, que liga Belo Horizonte ao Rio de Janeiro, próximo ao município de Nova Lima, na Grande Belo Horizonte. O motorista estava comprovadamente bêbado e o veículo não tinha autorização para trafegar em rodovias.

2º – Março de 1988 – 67 mortos

O segundo maior acidente rodoviário da história do País ocorreu em 1988, quando um caminhão aberto, carregado de trabalhadores (pau de arara) capotou e caiu em uma ribanceira em Cachoeira, na Bahia.

3º – Setembro de 1998 – 53 mortos

Uma batida na rodovia Anhanguera matou 53 pessoas. O acidente envolveu dois ônibus com 98 romeiros de Anápolis (GO) – que voltavam de uma excursão a Aparecida (SP) -, uma carreta carregada com 32 mil litros de combustível e um caminhão carregado com aguardente.

4º – Março de 2015 – 49 mortos (número ainda extraoficial)

Um ônibus que descia a Serra Dona Francisca, em Joinville, rumo a Guaratuba, no Litoral do Paraná, despencou em uma ribanceira com cerca de 400 metros. A excursão saiu de União da Vitória (PR) com adultos e crianças que iriam para a praia.

5º – Janeiro de 2000 – 42 mortos

Um ônibus, um micro-ônibus e dois carros de passeio se envolveram num acidente na BR-470, entre Pouso Redondo e Curitibanos, em Santa Catarina. A maioria dos mortos (39) eram argentinos que vinham para o litoral de Santa Catarina.


ZH 15/03/2015 | 07h57

IML divulga lista de passageiros de tragédia na Serra Dona Francisca. Às 3h deste domingo, órgão confirmou a morte de 49 passageiros





Ônibus despencou de ricambeira de 400 metros de altura na serra catarinense Foto: Leo Munhoz / Agencia RBS

O IML confirmou, até as 3h deste domingo, a morte de 49 vítimas da tragédia na serra Dona Francisca e divulgou a primeira lista de óbitos confirmados e de passageiros. Entre as vítimas do acidente envolvendo o ônibus da empresa Costa Mar Turismo, estão três adolescentes, oito crianças, 14 homens e 24 mulheres.

As operações de resgate já retiraram todas as vítimas do acidente com ônibus, mas não se descarta a possibilidade de que haja mais corpos sob o veículo e na mata. Com a falta de luminosidade e a dificuldade de acesso, as buscas irão recomeçar no início da manhã deste domingo.

A identificação dos corpos já está sendo feita por parentes de primeiro grau das vítimas. Para a operação de identificação, o IML de Joinville está com 15 médicos legais, peritos 15 médicos legais, peritos criminais, auxiliares criminalistas e auxiliares de médico trabalhando nesta madrugada. Um ônibus com familiares deve chegar às 6h deste domingo em Joinville para o reconhecimento das vítimas.

Há 49 mortos confirmados até a manhã deste domingo e 12 pacientes em hospitais. Quatro crianças no Hospital Infantil Jesser Amarante Faria, em Joinville. Outras sete vítimas estão no Hospital Municipal São José, em Joinville, e um paciente no Hospital São Luís, em Campo Alegre.



Lista de óbitos confirmados pelo IML
Anderson Celis Junior
André Luiz Carvalho
Assinara A de Oliveira
Camile Araújo Sieves
Carlos Alberto de Almeida
Cérgio Antonio da Costa (motorista)
Conrado Schier Filho
Darci Crespo Linhares
Deornirce Margarete Fontana Lima
Hildo L. de Souza
Janaina Darcley Ribeiro de Lima
Lariana Regina Vieira
Luiz Cesar Araújo
Maria Anisia Kutianski Agostini
Marise Antunes da Conceição Schier
Marli Terezinha Ribeiro
Mateus Costa
Melissa Jane Da Silva
Renan R. Chrisostemo
Roseli Chrisostemo
Sandra Jiliane Costa
Sônia Regina Vieira
Terezinha D. Carvalho
Thiago Roberto Barbosa
Wesley Araujo Sieves

Lista de passageiros confirmados que aguardam identificação
Alan P Schneider
Dalton Ribeiro
Dionilei M. Lima
Eloisa dos Santos de Almeida
Flávio Ribeiro
Glória Podstaya
Gustavo Felipe Serafim Aquino
Idelzina A. P. Aguiar
João Antônio M. Soares
Juliane Siqueira
Ketelin V. de Souza Ramos
Lenice Aparecida Miranda
Lucélia Soares
Maria D. Souza
Mariza Pinto
Osvaldir Silves
Rejane de Fátima Araújo
Renan Araújo
Ricardo Araújo
Selma Carolina Schneider
Tereza Fernandes Sins
Leonilda Alves dos Santos

Movidos para hospitais Danrlei Crespo Linhares (São José)
Elton Jhon de Almeida (São José)
Lucas K. Vieira (São José)
Rosangela Crespo Linhares (São José)
Alexo de Lima Zenere (Dona Helena)
Alana Pires (Dona Helena)
Elis Cristina Mazur (Dona Helena)