terça-feira, 11 de outubro de 2011

ACIDENTES MATAM UMA PESSOA A CADA 18 HORAS NO DISTRITO FEDERAL

Acidentes no trânsito matam uma pessoa a cada 18 horas no Distrito Federal. Adriana Bernardes e Antonio Temóteo, CORREIO BRAZILIENSE, 11/10/2011 07:48

Desde 2003, o trânsito do Distrito Federal não matava tanto. Entre janeiro e setembro, 360 vítimas morreram nas vias da capital do país, segundo levantamento do Departamento de Trânsito (Detran). Isso significa que, a cada 18 horas uma pessoa perde a vida em acidentes fatais. Entre as possíveis causas estão a imprudência de motoristas e de pedestres, além da ineficiência do Estado em fiscalizar, punir e educar os condutores.

Levantamento feito pelo Correio revela que só nos 10 primeiros dias de outubro pelo menos 12 pessoas morreram em colisões e atropelamentos no DF. No último domingo, foram seis. Uma única colisão resultou em quatro mortes. O acidente aconteceu na Estrada Parque Indústria e Abastecimento (Epia), perto da Candangolândia. “É uma situação dolorida para toda a família. Ele (o sobrinho) era muito animado e trabalhador”, afirmou o policial civil José Jair Marinho de Oliveira, tio de Esonilson Clemente Marinho de Oliveira.

A maioria das ocorrências foi registrada em rodovias distritais e federais, justamente onde a fiscalização é mais precária e os acidentes tendem a ser mais violentos por conta da alta velocidade. As estatísticas do Detran revelam que a quantidade de vítimas saltou de 357 nos primeiros nove meses de 2010 para 360 neste ano. A análise histórica revela que o total de fatalidades em 2011 só não é maior do que em 2003, quando 366 perderam a vida no mesmo período (leia arte). Os acidentes, no entanto, estão em queda — uma ocorrência pode ter mais de uma morte. Entre janeiro e setembro deste ano, houve 323 registros, contra 334 no mesmo período de 2010.

Procurados pela reportagem, nem o diretor-geral do Detran, José Alves Bezerra, ou o superintendente de Trânsito do Departamento de Estradas de Rodagem (DER), Murilo de Melo Santos, souberam explicar por que tanta gente morre nas pistas da capital do país. Os dois citaram a imprudência dos condutores como provável causa das últimos batidas registradas no DF. Citaram a destruição das duas últimas colisões fatais registradas na Epia.

Tanto Bezerra quanto Santos descartaram a pista molhada e o asfalto escorregadio como possíveis causas para as últimas ocorrências. “A gente não identificou nenhuma causa determinante e, por isso, fica até difícil de atuar. Os números de agosto e de setembro estavam bons e, repentinamente, subiram no fim de setembro e no início de outubro”, disse Santos. “É um fato que não conseguimos entender ainda. Seguramente, em alguns casos houve abusos do condutor em relação à velocidade, ingestão de álcool e fadiga”, avaliou Bezerra.

Em alta

As estatísticas revelaram que a maior quantidade de acidentes e de mortos ocorre nas rodovias distritais. Apesar de os números de janeiro a setembro deste ano terem caído em relação a 2010, nos últimos anos o DER não tem obtido sucesso em fazer os dados recuarem. A Estrada Parque Taguatinga (EPTG) está entre as vias mais perigosas. Inaugurada há cerca de um ano, ainda não há sinalização. Foi nela que, em 11 de agosto, a publicitária Thaisa de Sousa Londe, 22 anos, e as amigas Carolina Liete Lemos, de mesma idade, e Patrícia de Magalhães Pessoa de Albuquerque, 18, se envolveram em um acidente. Thaisa não resistiu.

O risco não é diferente nas rodovias federais. Nos primeiros nove meses do ano, o número de acidentes aumentou 21,4% e o de mortes, 36,2%. Na avaliação do professor de engenharia de tráfego da Universidade de Brasília (UnB), Paulo César Marques, a redução das batidas não reflete a queda do número de vítimas porque elas têm sido mais violentas. “Faz pouco tempo que as barreiras nas rodovias do DF ficaram desligadas por falta de contrato. Considero esse tipo de fiscalização importante, mas a presença do agente e do policial rodoviário é fundamental, porque constrange o condutor e tem efeito educativo e punitivo”, defendeu.

Coincidência ou não, há problemas de fiscalização nas DFs e nas BRs. O DER só conseguiu colocar agentes nas pistas a partir de junho deste ano. Até então, somente a Polícia Militar, por meio da Companhia de Policiamento Rodoviário (CPRv), monitorava as pistas. Os planos do órgão é aumentar o número de pardais e de barreiras eletrônicas a médio e a longo prazos. O Detran espera ampliar a fiscalização com a realização de concurso público para agentes de trânsito.

Vítimas

Em 28 de maio deste ano, cinco estudantes de pedagogia morreram depois de o carro em que estavam invadir a faixa contrária e colidir com o veículo que vinha no outro sentido. O acidente ocorreu no Km 85 da DF-001. O enterro comoveu Brazlândia, onde todas as vítimas moravam, e atraiu mais de mil pessoas.

Flagrados sem o licenciamento

O Departamento de Trânsito (Detran) e a Polícia Militar começaram a cobrar o licenciamento de 2011. De sexta-feira até ontem, 38 motoristas foram flagrados sem o documento obrigatório do veículo. Durante as operações, 11 carros foram apreendidos e levados ao depósito. Desses, 33 eram motocicletas. No sábado, os condutores correram aos postos do Na Hora para resgatar o licenciamento. Eles alegam que a greve dos Correios e dos bancos atrapalhou o recebimento. A multa para quem estiver circulando irregularmente pelas pistas do Distrito Federal é de R$ 191,54. Além disso, o motorista ganha sete pontos na Carteira de Habilitação. Quem já recolheu todas as taxas, mas não recebeu o documento, será multado em R$ 53,20 e o carro ficará retido.

Parentes dos mortos em colisão no sábado pedem agilidade na investigação. Antonio Temóteo. 11/10/2011 06:49

As estatísticas que apontam o aumento exponencial dos acidentes de trânsito com morte não são capazes de ilustrar a dor e o desespero das famílias abaladas pela violência praticada ao volante. O Correio ouviu parentes de três das quatro pessoas que perderam a vida na madrugada do último sábado (Leia Memória), quando um carro bateu em uma árvore na Estrada Parque Indústria e Abastecimento (Epia), próximo ao viaduto de acesso à Candangolândia. A 10ª Delegacia de Polícia (Núcleo Bandeirante) investiga a hipótese de uma caminhonete ter fechado o Fiat Siena (placa JJH-3476) em que estavam as vítimas.

Abatida e com olhos inchados, a dona de casa Sidneilans de Sousa, 34 anos, ainda procura explicações para a morte repentina do marido, o empresário Marcelo Soares Barbosa da Silva, 37. Sem comer desde o sábado e com a voz embargada, a viúva contou à reportagem que o companheiro estava no carro com o primo Ranieri Barbosa Pinto, 31, para deixar o amigo Esonilson Clemente Marinho de Oliveira, 32, no Gama. Eles saíam de uma confraternização realizada em uma chácara no Núcleo Rural Rajadinha, em Planaltina. Marcelo deixou três filhos: Wender,17, Wendy, 13, e Welen, 9.

“A última pessoa que falou com o meu marido foi a nossa filha Wendy. Ela queria saber que a horas o pai chegaria em casa. Toda família está muito abalada. Marcelo era o meu melhor amigo, tudo para mim. Mesmo quando estava no serviço, a gente conversava o tempo todo por telefone. Éramos muito próximos. Quero que a Polícia Civil investigue tudo o que aconteceu”, desabafou.

Tio de Esonilson, o agente da Polícia Civil José Jair Marinho de Oliveira, 48 anos, está revoltado com a perda do sobrinho. Segundo Oliveira, os pais e a avó estão em estado de choque. Para o agente, não há dúvida de que um motorista “irresponsável” fechou o carro das vítimas. Transtornado com a situação, o tio espera que o suposto culpado responda por homicídio doloso, quando há intenção de matar. “Meu sobrinho não tinha três dedos da mão direita e trabalhava como mecânico. Ele deixou a esposa grávida de oito meses”, lamentou.

Irmã de Ranieri, a professora Vanessa Barbosa, 33 anos, contou que os pais estão sem se alimentar desde o sábado. “As pessoas estão perdendo o respeito pela vida. Os acidentes estão cada vez mais comuns. O governo precisa trabalhar os conceitos de educação no trânsito para melhorar a situação.

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