sexta-feira, 22 de novembro de 2013

MAIS DO QUE IMPUNIDADE

ZERO HORA 22 de novembro de 2013 | N° 17622

ARTIGOS

Foto de Jorge Bengochea.

Carlos Eduardo Richinitti*


“Pense no meu sofrimento, pois pode acontecer contigo”

Esta frase, dita por Francisco, pai da jovem Bruna Capaverde, que teve os sonhos de toda uma breve vida de apenas 16 anos ceifados pela brutalidade do nosso trânsito, escancara, com a tristeza de quem sofre uma dor que não é humana, uma das maiores verdades que levam à situação caótica hoje verificada.

O criminoso que dirige sob o efeito de álcool ou droga, o irresponsável que não respeita velocidade ou regras mínimas de condução segura, transformando o veículo em uma arma fatal, não o faz apenas movido pela impunidade que grassa em nosso meio. O faz, também, acreditando que a desgraça, a perda, a tragédia só acontece com os outros.

Não há maior engano. Todos nós, motoristas ou pedestres, pais, mães, filhos, amigos, somos potenciais vítimas da violência dessa verdadeira chacina a céu aberto que é o trânsito brasileiro.

Não se prioriza educação, a lei é absolutamente frouxa e nós, juristas, talvez até porque esse é um crime que qualquer um pode cometer, em nome de garantias fundamentais, fundamentamos cada vez mais a impunidade que mata como guerra.

O agravante disso tudo é que erros históricos, motivados por interesses exclusivamente econômicos, privilegiam até hoje o transporte privado em desfavor do público, resultando que de forma descontrolada estamos jogando, em vias públicas deficientes e insuficientes, cada vez mais carros para circulação. Isso, misturado com a impunidade, fará com que o número de mortes só aumente.

A jovem Bruna saiu na noite apenas para exercer o seu direito de viver e acabou, sem culpa alguma, recebendo a maior das penas. Acho que está mais do que na hora de a nossa sociedade, em especial quem faz a lei e a aplica, começar a refletir melhor sobre isso tudo, desvinculados de princípios teóricos de Direito e inspirados na frase definitiva, realista e verdadeira de Francisco.

*JUIZ DE DIREITO


COMENTÁRIO DO BENGOCHEA -Este artigo é importante já que seu autor, um juiz de direito, manifesta com toda sinceridade a indignação de todos diante da impunidade dos crimes de trânsito apontando para a falta de prioridade educacional, as leis frouxas e as garantias fundamentais que os juristas são obrigados a conceder.  Infelizmente, apesar de matar milhares de brasileiros, esta "guerra civil" não consegue ter a atenção devida do Congresso Nacional e do CNJ para propor, em nome da supremacia do interesse público, alterações na constituição para reduzir "garantias fundamentais" que impedem a ação coativa da justiça, julgamento ágil e punição exemplar aos criminosos do trânsito.




Nenhum comentário: