segunda-feira, 18 de novembro de 2013

A DOR DE PERDER A FILHA NA VOLTA DA BALADA


ZERO HORA 18 de novembro de 2013 | N° 17618


LETÍCIA DUARTE


DRAMA FAMILIAR. “Não temos coragem de entrar no quarto dela”

Abalados pelo acidente que matou a filha de 15 anos na volta de festa, pais da jovem esperam Justiça



Desnorteados pela morte da filha de 15 anos em um acidente de trânsito na volta de uma festa, no bairro Navegantes, em Porto Alegre, os pais de Bruna Lopes Capaverde, 15 anos, deixaram sua casa para se refugiar no sítio de um compadre em Viamão, com os outros três filhos. Saíram para adiar o confronto de memórias.

Os pais não se sentem preparados para abrir a porta do quarto da adolescente, que teve o destino abreviado na madrugada de sábado, quando a EcoSport em que estava foi atingida pelo Corsa dirigido por um jovem de 29 anos – autuado pela polícia por homicídio com dolo eventual, pelo entendimento de que teria assumido o risco de matar, por ter apresentado sinais de embriaguez e fugido do local.

– A gente não sabe o que fazer. Não temos coragem de entrar no quarto dela. Ainda não conseguimos contar para os pequenos. É como se ela estivesse viajando. Mas não vamos deixar passar em branco. Não é questão de vingança, mas esse caso precisa ser exemplar para que não volte a acontecer – desabafou o pai, o administrador de empresas Francisco Capaverde, 50 anos.

Aluna do 1º ano do Ensino Médio no Colégio Estadual Piratini, Bruna voltava de uma festa na Farms, no Shopping Total, na Capital, na companhia de duas amigas, quando o choque ocorreu, por volta das 5h30min de sábado. As três eram conduzidas pelo pai de uma das adolescentes, cumprindo ritual de revezamento criado entre as famílias para que as filhas fossem conduzidas em segurança no ir e vir das baladas.

No cruzamento das avenidas Pernambuco e Brasil, a EcoSport colidiu com o Corsa branco conduzido por Diego Alberto Joaquim da Silva, 29 anos. Com o impacto, o veículo em que Bruna estava capotou. Ela morreu no local e as duas amigas ficaram feridas. O motorista do Corsa fugiu pela Avenida Pernambuco na contramão, sendo localizado em seguida por agentes da EPTC, perto da ponte do Guaíba.

Como se recusou a realizar o teste do bafômetro, o motorista do Corsa foi submetido a exame clínico que apontou “hálito duvidoso” – o que evidenciava “sinais clínicos de estar sob influência de álcool”, como consta no laudo – embora sem alteração da capacidade psicomotora. Mesmo assim, o delegado plantonista entendeu que as provas testemunhais eram suficientes para enquadrá-lo por embriaguez, além de outros agravantes, como fuga do local e suspeitas de que teria cruzado o sinal vermelho. Às 11h de sábado, o condutor chegou a ser encaminhado ao Presídio Central, onde permaneceu por 12 horas, até conseguir a liberdade provisória.

– Há sinais fortes de que houve dolo eventual e, se for confirmado, ele vai a júri – afirma o delegado Cristiano Reschke, da Delegacia de Homicídios de Trânsito, que a partir de hoje começa a ouvir testemunhas e sobreviventes.

O motorista da EcoSport foi submetido ao bafômetro e nenhuma alteração foi constatada.

Cientes de que nada trará a filha de volta, os pais torcem por justiça – e fazem planos de se engajar em campanhas de conscientização de trânsito, para evitar que outras famílias passem o que eles estão passando.

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