MAURICIO TONETTO
DRAMA
Depois de perder a única filha mulher em um acidente causado por um motorista com suspeita de embriaguez, em Porto Alegre, administrador pretende engajar-se em campanhas contra a violência no trânsito
Enquanto via fotos e revivia a história dos 15 anos da filha Bruna Lopes Capaverde, morta em acidente na madrugada do último sábado, na Capital, o administrador de empresas Francisco Capaverde apelou: – Pense, repense no meu sofrimento. Pode acontecer contigo.
Francisco quer transformar a perda da menina em uma bandeira para os que lutam contra a imprudência no trânsito, assim como fez Diza Gonzaga, com a Fundação Thiago de Moraes Gonzaga. Bruna morreu quando voltava de uma festa com duas amigas, na EcoSport guiada pelo pai de uma delas. O veículo foi atingido por um Corsa, dirigido por Diego Alberto Joaquim da Silva, 29 anos, no bairro Navegantes.
Segundo a polícia, o Corsa – encontrado mais tarde – teria cruzado o sinal vermelho e fugido do local. Diego chegou a ser detido por 12 horas no Presídio Central, mas acabou solto. Com suspeita de embriaguez, ele se negou a soprar o bafômetro e deve ser indiciado por homicídio doloso (quando se assume o risco de matar). Mais do que justiça, Francisco quer que a perda da filha não seja só “mais uma estatística”.
O desabafo de Francisco
“Normalmente, fazemos revezamento entre os pais para buscar (os filhos) nas festas e, ironicamente, não fui o escolhido para essa. Estava sossegado em casa, esperando aquela confusão da chegada das meninas – que normalmente dormiam na minha casa –, quando recebi um telefonema. Era a mãe de uma delas, dizendo para eu me dirigir ao hospital (Cristo Redentor) que havia ocorrido um acidente, mas que não me preocupasse, que não devia ser nada importante. Fui até o hospital e, chegando lá, não localizei minha filha. Nisso chegou um atendente de ambulância e me chamou em um canto. “O senhor é o pai da Bruna?”. Eu disse “sim”. “Chega aqui comigo. Aconteceu uma coisa: a Bruna faleceu”. Não, não acreditei, isso não existe, não vai acontecer comigo. Fui até o Hospital de Pronto Socorro e lá insisti, insisti, insisti, pois existem essas coisas nas festas, de uma menina estar com a identidade da outra no bolso. Tinha esperança de que não fosse minha filha. Então, fui levado até uma sala onde havia um corpo com lençol em cima. Era minha filha, não tinha o que fazer. Conversei com a minha esposa, e a gente quer justiça, que o assunto não seja mais uma estatística de feriado. Foi a minha filha, e a minha filha tem que fazer valer a falta dela. Já entrei em contato com a Fundação Thiago de Moraes Gonzaga e quero participar de campanhas, mostrar para os jovens que beber e dirigir não combina, e que não quero ver mais nenhum pai reconhecer o corpo de uma filha. Não quero que aconteça com o meu pior inimigo. E a única forma que entendo disso – tenho um filho mais velho e outros dois pequenos – é a conscientização. É a única forma de mudar isso. Mostrar o meu sofrimento, que não existe coisa pior do que reconhecer o filho que a gente criou, que foi tão amado. O trânsito é uma máquina de mortes, mas quero que a pessoa, na hora de fazer uma bobagem e beber e sair com o carro, pense um pouquinho no meu sofrimento, nessa cena, que é ver as pessoas que tu mais ama na vida ali, sem poder reagir, sem poder fazer nada. Tu nunca mais vai conviver com ela, nunca mais vai brigar com ela, nunca mais vai ter tua parceira, não vai poder levar ela no jogo do time de vocês. Eu, passando esse sofrimento, mostrando às pessoas, é uma forma de, pelo menos, a vida da minha filha ter um valor a mais. Todo mundo pensa “acontece na televisão”. Tchê, se tu fizeres coisa errada, pode acontecer contigo, com as pessoas que tu mais ama. Então pense, repense. Ela estava radiante, começando a conhecer a vida, fazendo as festas dela com todo apoio dos pais, dos irmãos, dos amigos, num ótimo momento. E aí, de uma hora para outra, o sonho, a possibilidade de ver uma filha profissional, mãe, é cortado.”
DRAMA
Depois de perder a única filha mulher em um acidente causado por um motorista com suspeita de embriaguez, em Porto Alegre, administrador pretende engajar-se em campanhas contra a violência no trânsito
Enquanto via fotos e revivia a história dos 15 anos da filha Bruna Lopes Capaverde, morta em acidente na madrugada do último sábado, na Capital, o administrador de empresas Francisco Capaverde apelou: – Pense, repense no meu sofrimento. Pode acontecer contigo.
Francisco quer transformar a perda da menina em uma bandeira para os que lutam contra a imprudência no trânsito, assim como fez Diza Gonzaga, com a Fundação Thiago de Moraes Gonzaga. Bruna morreu quando voltava de uma festa com duas amigas, na EcoSport guiada pelo pai de uma delas. O veículo foi atingido por um Corsa, dirigido por Diego Alberto Joaquim da Silva, 29 anos, no bairro Navegantes.
Segundo a polícia, o Corsa – encontrado mais tarde – teria cruzado o sinal vermelho e fugido do local. Diego chegou a ser detido por 12 horas no Presídio Central, mas acabou solto. Com suspeita de embriaguez, ele se negou a soprar o bafômetro e deve ser indiciado por homicídio doloso (quando se assume o risco de matar). Mais do que justiça, Francisco quer que a perda da filha não seja só “mais uma estatística”.
O desabafo de Francisco
“Normalmente, fazemos revezamento entre os pais para buscar (os filhos) nas festas e, ironicamente, não fui o escolhido para essa. Estava sossegado em casa, esperando aquela confusão da chegada das meninas – que normalmente dormiam na minha casa –, quando recebi um telefonema. Era a mãe de uma delas, dizendo para eu me dirigir ao hospital (Cristo Redentor) que havia ocorrido um acidente, mas que não me preocupasse, que não devia ser nada importante. Fui até o hospital e, chegando lá, não localizei minha filha. Nisso chegou um atendente de ambulância e me chamou em um canto. “O senhor é o pai da Bruna?”. Eu disse “sim”. “Chega aqui comigo. Aconteceu uma coisa: a Bruna faleceu”. Não, não acreditei, isso não existe, não vai acontecer comigo. Fui até o Hospital de Pronto Socorro e lá insisti, insisti, insisti, pois existem essas coisas nas festas, de uma menina estar com a identidade da outra no bolso. Tinha esperança de que não fosse minha filha. Então, fui levado até uma sala onde havia um corpo com lençol em cima. Era minha filha, não tinha o que fazer. Conversei com a minha esposa, e a gente quer justiça, que o assunto não seja mais uma estatística de feriado. Foi a minha filha, e a minha filha tem que fazer valer a falta dela. Já entrei em contato com a Fundação Thiago de Moraes Gonzaga e quero participar de campanhas, mostrar para os jovens que beber e dirigir não combina, e que não quero ver mais nenhum pai reconhecer o corpo de uma filha. Não quero que aconteça com o meu pior inimigo. E a única forma que entendo disso – tenho um filho mais velho e outros dois pequenos – é a conscientização. É a única forma de mudar isso. Mostrar o meu sofrimento, que não existe coisa pior do que reconhecer o filho que a gente criou, que foi tão amado. O trânsito é uma máquina de mortes, mas quero que a pessoa, na hora de fazer uma bobagem e beber e sair com o carro, pense um pouquinho no meu sofrimento, nessa cena, que é ver as pessoas que tu mais ama na vida ali, sem poder reagir, sem poder fazer nada. Tu nunca mais vai conviver com ela, nunca mais vai brigar com ela, nunca mais vai ter tua parceira, não vai poder levar ela no jogo do time de vocês. Eu, passando esse sofrimento, mostrando às pessoas, é uma forma de, pelo menos, a vida da minha filha ter um valor a mais. Todo mundo pensa “acontece na televisão”. Tchê, se tu fizeres coisa errada, pode acontecer contigo, com as pessoas que tu mais ama. Então pense, repense. Ela estava radiante, começando a conhecer a vida, fazendo as festas dela com todo apoio dos pais, dos irmãos, dos amigos, num ótimo momento. E aí, de uma hora para outra, o sonho, a possibilidade de ver uma filha profissional, mãe, é cortado.”
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