ZERO HORA 26 de novembro de 2013 | N° 17626
ENTREVISTA
Mãe Alessandra Soares da Silva
No casebre em que vive a mãe, no topo de uma subida bastante íngreme, a gari Alessandra Soares da Silva, 29 anos, está esgotada. Não conseguiu voltar para casa desde que a filha Emily Caroline da Silva, 11 anos, morreu atropelada na noite de sexta-feira por um veículo conduzido por um jovem de 24 anos na Avenida Oscar Pereira, em Porto Alegre.
Nos barracos de madeira onde moram Alessandra e familiares, a sala é dividida com a cozinha e os quartos. O banheiro fica na rua. Com o filho Henri, três anos, no colo, Alessandra recebeu Zero Hora. Até a noite de ontem, o delegado Cristiano Reschke, titular da Delegacia de Homicídios de Trânsito, esperava a apresentação do jovem. O pedido de prisão preventiva foi remetido à Justiça. O advogado do atropelador preferiu não se manifestar até ter acesso ao inquérito. Confira trechos da entrevista de Alessandra:
Zero Hora – Como a senhora recebeu a notícia do atropelamento?
Alessandra Soares da Silva – Saí da casa da minha mãe e vi minha filha inteirinha por 30 minutos. De repente, sumiu. Quando meu telefone tocou, minha sobrinha disse que alguém tinha sido atropelado ali embaixo, mas não conseguia dizer o nome. Quando soube que era a minha Emily, não consegui sair da porta da minha casa. Minhas pernas travaram. Não tinha coragem de ver minha filha no hospital. Ela já tinha ido embora.
ZH – Como era o dia a dia com sua filha?
Alessandra – Ela ficava conversando comigo. Eu chegava cansada do serviço, e era ela que me alcançava um café. Fazia massagem nos meus pés, nas minhas costas. Me recebia com um beijo. A gente sempre comia juntas, no mesmo prato, por isso agora eu não consigo comer nada. Agora que está chegando o final do ano, estávamos preocupadas em arrumar a casa. Ela estava sempre sorrindo, dizendo: “Mãe, não importa como é a nossa casa, nunca passamos fome e somos felizes”. Gostava de se maquiar, sempre bem vestida, minha filha era bonita. Tinhas as coisas dela sempre arrumadas. Não consigo entrar no quarto, que tinha o nome dela na cabeceira da cama.
ZH – Quais eram os sonhos dela?
Alessandra – Ela queria ir para a praia. Tinha uma ansiedade. Eu disse: “Emily, nesse ano vamos todos juntos para a praia”. Ela foi para o Parque das Águas. Vários passeios surgiam no colégio. Gostava de ir em qualquer lugar. Nunca vi ela triste.
ZH – Como tem sido o apoio da família e dos amigos?
Alessandra – Achei que somente a família estaria comigo nesse momento, mas não, toda a comunidade vem aqui. Isso, por alguns minutos, me alivia.
ZH – O que a senhora espera que aconteça com o atropelador?
Alessandra – Ele tem de pagar pelo que fez e nunca mais colocar os pés dentro de um carro. Hoje, ele fez isso com a minha filha, amanhã ou depois pode fazer com outra pessoa, pode ter um filho. Preciso perguntar para ele: “Tu não enxergaste a minha filhinha?” Quero dizer para ele como a minha filha era. Deixou minha filha morrer a uns cem metros do hospital.
ENTREVISTA
Mãe Alessandra Soares da Silva
No casebre em que vive a mãe, no topo de uma subida bastante íngreme, a gari Alessandra Soares da Silva, 29 anos, está esgotada. Não conseguiu voltar para casa desde que a filha Emily Caroline da Silva, 11 anos, morreu atropelada na noite de sexta-feira por um veículo conduzido por um jovem de 24 anos na Avenida Oscar Pereira, em Porto Alegre.
Nos barracos de madeira onde moram Alessandra e familiares, a sala é dividida com a cozinha e os quartos. O banheiro fica na rua. Com o filho Henri, três anos, no colo, Alessandra recebeu Zero Hora. Até a noite de ontem, o delegado Cristiano Reschke, titular da Delegacia de Homicídios de Trânsito, esperava a apresentação do jovem. O pedido de prisão preventiva foi remetido à Justiça. O advogado do atropelador preferiu não se manifestar até ter acesso ao inquérito. Confira trechos da entrevista de Alessandra:
Zero Hora – Como a senhora recebeu a notícia do atropelamento?
Alessandra Soares da Silva – Saí da casa da minha mãe e vi minha filha inteirinha por 30 minutos. De repente, sumiu. Quando meu telefone tocou, minha sobrinha disse que alguém tinha sido atropelado ali embaixo, mas não conseguia dizer o nome. Quando soube que era a minha Emily, não consegui sair da porta da minha casa. Minhas pernas travaram. Não tinha coragem de ver minha filha no hospital. Ela já tinha ido embora.
ZH – Como era o dia a dia com sua filha?
Alessandra – Ela ficava conversando comigo. Eu chegava cansada do serviço, e era ela que me alcançava um café. Fazia massagem nos meus pés, nas minhas costas. Me recebia com um beijo. A gente sempre comia juntas, no mesmo prato, por isso agora eu não consigo comer nada. Agora que está chegando o final do ano, estávamos preocupadas em arrumar a casa. Ela estava sempre sorrindo, dizendo: “Mãe, não importa como é a nossa casa, nunca passamos fome e somos felizes”. Gostava de se maquiar, sempre bem vestida, minha filha era bonita. Tinhas as coisas dela sempre arrumadas. Não consigo entrar no quarto, que tinha o nome dela na cabeceira da cama.
ZH – Quais eram os sonhos dela?
Alessandra – Ela queria ir para a praia. Tinha uma ansiedade. Eu disse: “Emily, nesse ano vamos todos juntos para a praia”. Ela foi para o Parque das Águas. Vários passeios surgiam no colégio. Gostava de ir em qualquer lugar. Nunca vi ela triste.
ZH – Como tem sido o apoio da família e dos amigos?
Alessandra – Achei que somente a família estaria comigo nesse momento, mas não, toda a comunidade vem aqui. Isso, por alguns minutos, me alivia.
ZH – O que a senhora espera que aconteça com o atropelador?
Alessandra – Ele tem de pagar pelo que fez e nunca mais colocar os pés dentro de um carro. Hoje, ele fez isso com a minha filha, amanhã ou depois pode fazer com outra pessoa, pode ter um filho. Preciso perguntar para ele: “Tu não enxergaste a minha filhinha?” Quero dizer para ele como a minha filha era. Deixou minha filha morrer a uns cem metros do hospital.
ROBERTO AZAMBUJA
Nenhum comentário:
Postar um comentário