sábado, 30 de novembro de 2013

LEI PARA FAZER CUMPRIR A LEI



O Estado de S.Paulo 30 de novembro de 2013


OPINIÃO


A aprovação pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, em caráter terminativo - o que significa que a matéria segue diretamente para a Câmara -, de projeto de lei que estabelece duras penas para a autoridade que não der destinação correta ao dinheiro proveniente de multas de trânsito tem vários aspectos importantes a considerar. Em primeiro lugar, evidentemente, está o esforço para evitar o desvio de recursos que podem ajudar a disciplinar o trânsito e reduzir o elevado número de acidentes, nos quais dezenas de milhares de pessoas perdem a vida todo ano.

Estabelece o artigo 320 do Código de Trânsito Brasileiro que "a receita arrecadada com a cobrança de multas de trânsito será aplicada, exclusivamente, em sinalização, engenharia de tráfego, de campo, policiamento, fiscalização e educação de trânsito". Uma única exceção é aberta pelo parágrafo único - 5% dessa receita deve ser depositada "na conta de um fundo de âmbito nacional destinado à segurança e educação de trânsito". Ou seja, a finalidade é praticamente a mesma, só que considerada em nível nacional.

Embora a lei seja, como se vê, muito clara e direta, ela vem sendo sistematicamente desrespeitada. Segundo o senador Vital do Rego Filho (PMDB-PB), autor daquele projeto - PLS 329/2012 -, um levantamento feito pelo Tribunal de Contas do Estado de São Paulo indica que, dos mais de R$ 600 milhões arrecadados com a aplicação de multas no Estado, apenas 0,05% teve destinação correta. A porcentagem é tão pequena - uma ninharia - que se pode considerar que nesse item o Código está sendo totalmente ignorado.

Daí a razão do projeto, que considera ato de improbidade administrativa a não aplicação correta daqueles recursos. A autoridade que assim agir poderá, de acordo com a Lei de Improbidade Administrativa (Lei n.º 8.429/1992), ser punida com penas duras, como a perda da função pública e a suspensão dos direitos políticos por cinco a oito anos. O relator do projeto, senador Sérgio de Souza (PMDB-PR), afirmou em seu parecer que "uma imposição legal deve estar acompanhada da sanção correspondente para quem a desrespeite".

O argumento procede, mas mesmo assim não há como evitar a desagradável constatação - e esse é um outro aspecto da questão, a ser devidamente assinalado - de que se faz necessária uma nova lei para obrigar o cumprimento de outra anterior, sistematicamente desrespeitada durante 16 anos (o Código de Trânsito é de 1997). O que leva inevitavelmente à pergunta: o que garante que, se o projeto for aprovado pela Câmara, como se espera, a nova lei terá melhor sorte do que a outra? Infelizmente, não será nada fácil, conhecendo-se os nossos costumes, punir com o rigor pretendido - e sem dúvida merecido - a autoridade que infringir as regras sobre o destino do dinheiro das multas de trânsito.

Mas não custa torcer para que o projeto vire lei e com ela aconteça o que é elementar - que seja respeitada pelo temor de suas penas. Porque estão em jogo nesse caso recursos consideráveis, cuja utilidade para a melhoria da segurança do trânsito é inegável. O ideal é que o número de multas seja pequeno e, consequentemente, o dinheiro delas proveniente seja insignificante. Este é o resultado de trânsito seguro e motorista educado.

Já que isso não ocorre entre nós, que pelo menos os milhões das multas sirvam, como estabelece corretamente a lei, para ajudar a mudar a situação. O exemplo da capital paulista, que tem a maior frota de veículos do País, é ilustrativo. As multas batem recorde a cada ano. Em 2012, foram arrecadados R$ 799 milhões, equivalentes ao orçamento da cidade de Mauá, na Grande São Paulo, com 400 mil habitantes. A arrecadação cresceu 7% em relação a 2011, bem mais que a frota de veículos, que aumentou 2% no período.

A capital paulista criou no governo passado um fundo para receber os recursos das multas e dar-lhes destinação certa. Como mesmo assim não há sinais de que a segurança aumenta e as multas diminuem, a solução para todo o País parece ser mesmo tentar, com uma nova lei mais dura, conseguir o cumprimento de outra que não "pegou".

terça-feira, 26 de novembro de 2013

ACIDENTE EM MINAS DEIXA 14 MORTOS

ZERO HORA 26 de novembro de 2013 | N° 17626

COLISÃO FRONTAL

Micro-ônibus que transportava pacientes para tratamento bateu de frente com um caminhão



Um acidente entre um micro-ônibus e uma carreta causou a morte de 14 pessoas, incluindo um adolescente e uma criança, e deixou 12 feridos na manhã de ontem. A colisão ocorreu no km 361 da BR-251, próximo ao trevo de acesso ao município de Padre Carvalho, na região norte de Minas Gerais.

De acordo com o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), todas as vítimas estavam no micro-ônibus do Sistema Estadual de Transporte em Saúde (Sets) e seriam levadas de Rubelita para receberem atendimento médico em Montes Claros, ambas também no norte mineiro.

Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), o micro-ônibus bateu de frente com a carreta, que transportava um motor e invadiu a contramão. O motorista da carreta ficou preso às ferragens, mas foi retirado com ferimentos leves e socorrido em um hospital de Salinas. Os demais feridos também foram encaminhados para unidades do município e de Taiobeiras.

O Corpo de Bombeiros informou que uma das vítimas morreu logo após dar entrada no Hospital de Pronto-Socorro de Salinas. Pelo menos quatro feridos ficaram em estado grave. No início da manhã, o Samu havia informado que 26 pessoas estavam no micro-ônibus, mas depois confirmou que dois passageiros que também deveriam ser levados a Montes Claros perderam a viagem, iniciada ainda na madrugada.

O motorista da carreta já teria sido ouvido pela Polícia Civil, mas o teor do depoimento não foi revelado.

O acidente, que interditou parcialmente a BR-251, no sentido Rubelita-Montes Claros, fez com que vários moradores da cidade de origem das vítimas fossem para a rodovia em busca de informações, já que o ponto onde ocorreu o acidente não tem sinal de celular nem de rádio. Durante a tarde, o governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia (PSDB), divulgou nota lamentando o fato e prestando “solidariedade aos amigos e familiares das vítimas”.

ELE DEIXOU MINHA FILHA MORRER A CEM METROS DO HOSPITAL

ZERO HORA 26 de novembro de 2013 | N° 17626


ENTREVISTA


Mãe Alessandra Soares da Silva

No casebre em que vive a mãe, no topo de uma subida bastante íngreme, a gari Alessandra Soares da Silva, 29 anos, está esgotada. Não conseguiu voltar para casa desde que a filha Emily Caroline da Silva, 11 anos, morreu atropelada na noite de sexta-feira por um veículo conduzido por um jovem de 24 anos na Avenida Oscar Pereira, em Porto Alegre.

Nos barracos de madeira onde moram Alessandra e familiares, a sala é dividida com a cozinha e os quartos. O banheiro fica na rua. Com o filho Henri, três anos, no colo, Alessandra recebeu Zero Hora. Até a noite de ontem, o delegado Cristiano Reschke, titular da Delegacia de Homicídios de Trânsito, esperava a apresentação do jovem. O pedido de prisão preventiva foi remetido à Justiça. O advogado do atropelador preferiu não se manifestar até ter acesso ao inquérito. Confira trechos da entrevista de Alessandra:

Zero Hora – Como a senhora recebeu a notícia do atropelamento?

Alessandra Soares da Silva – Saí da casa da minha mãe e vi minha filha inteirinha por 30 minutos. De repente, sumiu. Quando meu telefone tocou, minha sobrinha disse que alguém tinha sido atropelado ali embaixo, mas não conseguia dizer o nome. Quando soube que era a minha Emily, não consegui sair da porta da minha casa. Minhas pernas travaram. Não tinha coragem de ver minha filha no hospital. Ela já tinha ido embora.

ZH – Como era o dia a dia com sua filha?

Alessandra – Ela ficava conversando comigo. Eu chegava cansada do serviço, e era ela que me alcançava um café. Fazia massagem nos meus pés, nas minhas costas. Me recebia com um beijo. A gente sempre comia juntas, no mesmo prato, por isso agora eu não consigo comer nada. Agora que está chegando o final do ano, estávamos preocupadas em arrumar a casa. Ela estava sempre sorrindo, dizendo: “Mãe, não importa como é a nossa casa, nunca passamos fome e somos felizes”. Gostava de se maquiar, sempre bem vestida, minha filha era bonita. Tinhas as coisas dela sempre arrumadas. Não consigo entrar no quarto, que tinha o nome dela na cabeceira da cama.

ZH – Quais eram os sonhos dela?

Alessandra – Ela queria ir para a praia. Tinha uma ansiedade. Eu disse: “Emily, nesse ano vamos todos juntos para a praia”. Ela foi para o Parque das Águas. Vários passeios surgiam no colégio. Gostava de ir em qualquer lugar. Nunca vi ela triste.

ZH – Como tem sido o apoio da família e dos amigos?

Alessandra – Achei que somente a família estaria comigo nesse momento, mas não, toda a comunidade vem aqui. Isso, por alguns minutos, me alivia.

ZH – O que a senhora espera que aconteça com o atropelador?

Alessandra – Ele tem de pagar pelo que fez e nunca mais colocar os pés dentro de um carro. Hoje, ele fez isso com a minha filha, amanhã ou depois pode fazer com outra pessoa, pode ter um filho. Preciso perguntar para ele: “Tu não enxergaste a minha filhinha?” Quero dizer para ele como a minha filha era. Deixou minha filha morrer a uns cem metros do hospital.


ROBERTO AZAMBUJA

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

A MORTALIDADE NO TRÂNSITO

O Estado de S.Paulo 25 de novembro de 2013 | 2h 15


OPINIÃO


O estudo sobre a mortalidade no trânsito no País constante do Mapa da Violência 2013 - um dos mais abrangentes e completos já feitos a respeito - não só confirma, com dados impressionantes, o que já se sabe sobre a verdadeira tragédia que se desenrola diariamente em nossas ruas e estradas, como chama a atenção para mudanças importantes a respeito dos veículos responsáveis pela maior parte dos acidentes. As motos ocupam posição de destaque cada vez maior nesse quadro, uma realidade que as autoridades devem enfrentar.

O número de mortes em acidentes de trânsito no período de 31 anos, de 1980 a 2011, é assustador - 980.838 -, com uma média, de 31.640 por ano. É um número muito elevado, mas já bem conhecido. Mais importante é a taxa de 22,5 mortes por 100 mil habitantes, a mais alta desde que essas estatísticas começaram a ser feitas. Ela é praticamente a mesma registrada em 1996, antes da aprovação do Código de Trânsito Brasileiro no ano seguinte, que contribuiu para reduções razoáveis daquelas taxas. Os ganhos proporcionados pelo Código foram perdidos. Voltamos, 14 anos depois, ao que existia antes dele, o que é preocupante.

Outro dado igualmente preocupante é o papel desempenhado pelas motos nessa tragédia, da qual estão se transformando no principal protagonista. O número de motociclistas mortos em acidentes cresceu 932,1% no período de 15 anos, entre 1996 e 2011, saltando de 1.421 para 14.666. Para ter uma ideia mais clara do que isso significa, basta comparar esses números com os referentes aos usuários de outros veículos e os pedestres no mesmo período: motoristas e passageiros de carros, crescimento de 72,9% (de 7.188 para 12.429 mortos); e ciclistas, 203,9% (de 620 para 1.884). No caso dos pedestres, houve diminuição de 52,1% no número de mortos (de 24.643 para 11.805). No total de mortos, o aumento foi de 22,6% (de 35.281 para 43.256).

O resultado dessa mudança no perfil dos acidentes é que, em 2011, motoristas e passageiros mortos representaram um terço do total de vítimas do trânsito. Em números absolutos, 14,6 mil do total de 43 mil mortos em acidentes eram motociclistas e usuários (em número bem menor) de triciclos.

O uso da moto se difundiu rapidamente por todo o País, sem que houvesse concomitantemente maiores cuidados das autoridades, tanto no que se refere à fiscalização como a campanhas de esclarecimento voltadas para os motociclistas sobre os riscos desse veículo. O número de motos no País era de 4 milhões em 2000, o que representava 13,6% do total de veículos. Em 11 anos, ele mais do que quadruplicou, pulando para 18,4 milhões, ou 26,1% do total. Na capital paulista, que tem a maior frota de motos do País, ela quase dobrou em sete anos, passando de 490.754 em 2005 para 962.239 em 2012.

Como diz o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, "a motocicleta virou o carro dos pobres". É um meio de transporte barato, rápido e ágil, tanto nas grandes cidades, onde pode circular entre os carros, fugindo dos congestionamentos, como nas cidades menores e na zona rural, onde enfrenta com facilidade as condições adversas de ruas e estradas esburacadas. No Nordeste, já entrou para o folclore o quase desaparecimento do jegue, tão ligado a suas tradições rurais, desbancado pela moto.

O aumento e a melhoria da fiscalização, assim como um esforço de conscientização dos motociclistas sobre a forma correta de utilização desse veículo, não se impõem apenas por causa do crescimento vertiginoso do número de mortos e feridos em acidentes. Eles se justificam também por outro problema diretamente ligado a isso - o consumo cada vez maior de álcool e drogas pelos motociclistas, atestado por pesquisa feita pelo Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas de São Paulo - mais de 20% das vítimas de acidentes com motos estavam sob efeito daquelas substancias.

O problema das motos, que agrava a tragédia da mortalidade no trânsito, exige uma resposta urgente das autoridades tanto federais como estaduais e municipais.

SUSPEITO DEPÕE SOBRE AGRESSÃO DE IDOSO

ZERO HORA 25 de novembro de 2013 | N° 17625


Suspeito depõe sobre agressão. Homem afirmou que tentou imobilizar idoso, mas negou que tenha desferido chutes e socos


O suspeito de agredir um idoso após um acidente de trânsito, em São Leopoldo, apresentou-se à Polícia Civil na tarde de ontem, acompanhado de seu advogado, para prestar depoimento. A vítima, Cirilo Vieira da Silva, 60 anos, morreu a caminho do hospital em decorrência de uma parada cardiorrespiratória.

Silva conduzia um Corsa que abalroou uma motocicleta às 23h20min de sexta-feira, na Rua Albino Tim, localizada no bairro Feitoria. O motociclista teve apenas escoriações leves, e a namorada, que estava na carona da moto, quebrou a perna e foi levada ao Hospital Centenário. Testemunhas disseram que, enquanto o idoso aguardava a chegada da ambulância e da polícia, um homem se aproximou e começou a desferir socos e pontapés contra ele.

De acordo com o delegado Vinicios do Valle, titular da Delegacia de Homicídios de São Leopoldo, o suposto agressor é um metalúrgico de 25 anos, sem antecedentes criminais. Em depoimento, o suspeito afirmou que tentou imobilizar a vítima com uma gravata, para evitar que fugisse do local.

– Ele negou ter dado chutes e socos nele, mas que deu chutes na porta do carro. O rapaz também afirmou que conhecia a vítima apenas de vista e que não tinha nenhum tipo de rixa com ela – observa o delegado.

Hoje e amanhã, o delegado pretende ouvir pelo menos cinco testemunhas. Ele aguarda o laudo da perícia no corpo do idoso e poderá pedir prisão preventiva ou temporária do suspeito.

– Esperamos pelo exame pericial para saber se a morte ocorreu pelas agressões, ou se teria outro motivo prévio, como doença, medicamento ou ingestão de alguma droga, por exemplo, e também se o idoso dirigia alcoolizado ou não – comentou Valle.


FERNANDO GOETTEMS

EMBRIAGUEZ AO VOLANTE

ZERO HORA 25 de novembro de 2013 | N° 17625

Um fim de semana de maus exemplos

Episódios envolvendo motoristas alcoolizados marcam trânsito no Estado



Quatro episódios diferentes, registrados em locais diversos no fim de semana, têm como denominador comum um comportamento de risco: motoristas embriagados. As quatro histórias terminaram sem vítimas, mas mostram como o álcool ainda está presente no cotidiano dos condutores. Mais de 2,2 mil motoristas gaúchos foram multados por embriaguez ao volante desde 2011, em operações especiais do Departamento Estadual de Trânsito (Detran). Veja os casos registrados sábado e domingo:

Porto Alegre: um motorista embriagado, conduzindo um Xsara, bateu na traseira de um Fiesta pertencente a um policial civil, por volta das 9h de ontem. O acidente aconteceu na BR-290, em uma das pontes sobre o Rio Jacuí. Com a colisão, o Fiesta quase despencou no rio. O causador do acidente fugiu do local, mas o policial pegou carona em outro veículo e foi atrás do motorista. Alcançou ele na Ilha dos Marinheiros (o veículo estava com problemas). Submetido ao teste de bafômetro, ele registrou 0,41 miligramas de álcool por litro de ar expelido. Com ajuda de policiais rodoviários federais, o policial civil prendeu o motorista em flagrante.

Porto Alegre: o policial civil Jorge Correa Vieira foi parado em uma barreira na madrugada de sábado na Avenida Coronel Marcos, na Zona Sul. Conforme a Brigada Militar, ele estava sozinho em uma viatura discreta do Departamento Estadual de Narcóticos (Denarc) e apresentava sinais de embriaguez. O homem teria saído do carro e se identificado como “colega”. Ao ser convidado a se submeter ao teste do bafômetro, o agente se recusou. Detido em flagrante e conduzido a uma delegacia (foto), foi preso com base nos relatos dos PMs, e liberado após pagar uma fiança de R$ 400.

Farroupilha: na RSC-453, um Gol e um Corsa colidiram próximo ao trevo de acesso à ERS-444. O acidente entre os dois carros, com danos materiais, aconteceu por volta das 5h de ontem. Ambos os condutores, um de 18 anos e outro de 41, estavam alcoolizados, um deles com 0,65 miligramas de álcool por litro de ar expelido. O outro condutor negou-se a fazer o teste e foi submetido a exames clínicos que constataram a embriaguez. Os dois foram presos em flagrante, conduzidos à delegacia e liberados após pagamento de fiança.

Feliz: acidente envolvendo motorista com sinais de embriaguez feriu três pessoas na RS-452, no Vale do Caí. Foi por volta das 7h de ontem. O condutor de um Vectra parou repentinamente no meio da pista. O motorista de um Citroën que vinha atrás não conseguiu frear e bateu na traseira do carro. O causador do acidente se negou ao teste do bafômetro e foi encaminhado à delegacia, onde pagou fiança e foi liberado.

MAIS BLITZ, MENOS MULTA

ZERO HORA 25 de novembro de 2013 | N° 17625


SUA SEGURANÇA | Humberto Trezzi



Um fenômeno curioso salta aos olhos de quem se debruça sobre as estatísticas do Departamento Estadual de Trânsito (Detran). No item Balada Segura, o único do site em que constam números sobre embriaguez ao volante, é possível constatar que o número de blitze aumentou, mas o de motoristas flagrados alcoolizados diminuiu (confira na tabela abaixo).

Vejamos: entre janeiro e setembro deste ano e igual período do ano passado, foram vistoriados 2 mil veículos a mais, aplicados 2,5 mil testes de bafômetro a mais – o que evidencia mais trabalho por parte das autoridades – e, mesmo assim, o número de condutores pegos embriagados caiu (foram 114 a menos que no mesmo período de 2012).

A suspeita levantada por muita gente de que os “azuizinhos” estão menos ativos não procede, portanto. Em Caxias do Sul, são flagrados em média quatro motoristas embriagados por dia, média semelhante à de Porto Alegre. A Balada Segura, que nasceu na Capital, hoje abrange 14 grandes cidades ou regiões do Estado.

O que os números parecem indicar é uma notícia positiva: com o aumento da fiscalização, menos gente embriagada sai a dirigir por aí. Por isso que menos motoristas alcoolizados são flagrados. A menos que se descubra que os condutores se organizaram para evitar as blitze... Melhor ficar com a opção mais otimista, a de que a fiscalização foi pedagógica contra o comportamento de risco.





BALADA INSEGURA





ZERO HORA 25 de novembro de 2013 | N° 17625

EDITORIAIS


A mostragem estatística de acidentes em Porto Alegre reafirma a relação entre mortes no trânsito e o consumo de álcool e drogas. Os números são da Empresa Pública de Transporte e Circulação, em conjunto com a secretaria municipal da Saúde e a Delegacia de Delitos de Trânsito, e se referem à Capital, mas certamente são semelhantes aos de levantamentos na maioria das cidades brasileiras. Entre 42 casos de acidentes com morte analisados este ano, exatamente a metade teve, entre os envolvidos, a presença de álcool e também de maconha e cocaína. É a confirmação de que o massacre, principalmente de jovens, não representa uma fatalidade.

A maioria dos mais de 40 mil brasileiros que morrem todos os anos em acidentes é, na verdade, vítima da irresponsabilidade de quem dirige, da negligência dos governos e da complacência das leis e do Judiciário. Fatores relacionados com falhas mecânicas e outras questões técnicas são minoria entre as causas da mortandade em ruas e estradas. O que mata é a combinação de omissões e de atitudes delituosas. Desde 2008, quando o país adotou a chamada Lei Seca, corrigiu-se parte das deficiências. Mas se constata que, apesar das campanhas e blitze, como as da Balada Segura em Porto Alegre, ainda é preciso fazer mais.

É longo também o caminho a percorrer em escolas e instituições que podem intensificar ações educativas para as novas gerações. E o próprio Judiciário precisa adequar-se a uma realidade em que a impunidade é um complicador para quem participa dos esforços pela redução dos acidentes. Nesse contexto, merece reprodução este desabafo do juiz Carlos Eduardo Richinitti, em recente artigo publicado em Zero Hora: “Não se prioriza educação, a lei é absolutamente frouxa e nós, juristas, talvez até porque esse é um crime que qualquer um pode cometer, em nome de garantias fundamentais, fundamentamos cada vez mais a impunidade que mata como guerra”.

Não é a manifestação de um leigo, mas de um integrante do Judiciário, sobre a complacência com responsáveis por acidentes comprovadamente causados por motoristas alcoolizados. Num momento em que os gaúchos ainda estão traumatizados com a morte da jovem de 16 anos que teve o carro em que voltava de uma festa atingido por um condutor jovem com sinais de embriaguez, é de se perguntar se as comunidades, as forças de segurança, o Ministério Público e a Justiça fazem mesmo o que lhes compete em nome da paz no trânsito. Para que a resposta seja sim, é preciso fazer muito mais, especialmente agora, às vésperas das festas e, infelizmente, também das tragédias de fim de ano.

Comunidades e instituições precisam fazer muito mais para que o massacre no trânsito deixe de ser visto como fatalidade.


COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - É um equívoco culpar os juízes e a falta de adequação do judiciário, pois eles aplicam a lei existente e não há como fugir dos vários recursos e dispositivos condescendentes de uma constituição extensa, mal redigida, assistemática, detalhista, redação confusa e com vários dispositivos que garantem privilégios e asseguram direitos individuais beneficiando os autores de ilicitudes e contrários á supremacia do interesse público, em que a vida das pessoas é prioridade. Esta sim é a grande culpada da morte de 40 mil brasileiros em acidentes de trânsito.

domingo, 24 de novembro de 2013

MOTORISTA MORRE APÓS BRIGA DE TRÂNSITO

ZERO HORA 24 de novembro de 2013 | N° 17624


TENSÃO NAS RUAS



Um homem de 60 anos foi morto ao levar diversos socos e pontapés após uma uma briga de trânsito no final da noite desta sexta-feira, em São Leopoldo, no Vale do Sinos.

O caso ocorreu às 23h20min, quando o motorista Cirilo Vieira da Silva dirigia um Corsa no Albino Tim, no bairro Feitoria, e colidiu com uma moto, onde estava um casal.

Ao parar para prestar socorro, Silva foi atacado por um terceiro homem que passava pelo local e se aproximou para agredir o motorista, desferindo socos e chutes. Quando a Samu chegou ao local, o homem já estava desmaiado. A vítima teve uma parada cardiorrespiratória e morreu a caminho do hospital. O corpo foi levado para o Departamento Médico Legal de Novo Hamburgo para a realização da autópsia.

O agressor, que já foi identificado pela polícia, seria um conhecido do motociclista ferido. Ele fugiu do local e até as 9h deste sábado não havia sido preso. O casal foi socorrido no Hospital Centenário. O motociclista Josué Campos Domingues, de 20 anos, foi liberado. Sua namorada, de 18 anos, que não foi identificada, sofreu uma fratura na perna e segue hospitalizada.

Segundo o delegado Vinícius do Valle, da Delegacia de Homicídios de São Leopoldo, a polícia ouviu o motociclista como testemunha e, agora, busca outras fontes para prestarem esclarecimentos a respeito do homicídio. Novos depoimentos serão prestados a partir de segunda-feira:

– Os agentes estão na rua para localizar o suspeito e as testemunhas, mas aguardamos os exames periciais para dar rumo à investigação – esclarece o delegado.

Do Valle explica ainda que, segundo as pessoas que estavam no local e presenciaram a agressão, a vítima morava no bairro e teria sido visto dirigindo embriagado no momento do acidente.

LARA ELY

REVOLTA NA ZONA SUL

ZERO HORA 24 de novembro de 2013 | N° 17624

PAULO GERMANO

Motorista foge após matar menina em atropelamento

Acompanhada da irmã e da prima, criança foi atingida na Oscar Pereira, a três quadras de casa



Mais uma vez, no intervalo de uma semana, um motorista provoca uma morte em Porto Alegre e foge. Mais uma vez, quem morre é uma menina – Emily Caroline da Silva, 11 anos, atropelada na noite de sexta-feira na Zona Sul. Mais uma vez, uma família em frangalhos suplica por justiça.

No Hospital de Pronto Socorro (HPS), Emily morreu após ser atingida por um Nissan Sentra, por volta das 21h30min, na Avenida Oscar Pereira, nas proximidades do Motel dos Alpes. Acompanhada da irmã Cauana, nove anos, e da prima Tatieli, 17, ela voltava a pé da residência de uma tia, onde havia buscado um ventilador que a família emprestara, e estava a três quadras de chegar em casa.

Emily olhou para os dois lados antes de atravessar, conforme conta Tatieli, e não viu carro algum. Mas o Sentra teria chegado de supetão, em alta velocidade, atropelando a garota e deixando as outras em choque na beira da pista. De acordo com a prima da vítima, o homem que conduzia o automóvel parou o veículo, ergueu Emily no colo, retirou-a do meio da rua e acomodou-a na calçada. Depois, retornou ao volante e foi embora, sem prestar socorro.

No acidente, automóvel perdeu uma das placas

Com o impacto do atropelamento, o carro perdeu uma das placas, que ficou no asfalto. Na manhã de sábado, a Polícia Civil já trabalhava na identificação do motorista. Enquanto isso, em frente ao Departamento Médico Legal, a mãe de Emily, a gari Alessandra Soares da Silva, 29 anos, chorava compulsivamente.

– Tem que pegar o homem que matou a minha filha. Bota isso no jornal, que o resto não me importa – foi a única frase que Alessandra conseguiu dizer.

Emily era a segunda mais velha entre oito irmãos. Tinha um padrão de vida humilde e estudava na Escola Estadual Espírito Santo, no bairro Cascata, perto de casa, na zona sul da Capital. Tio da menina e irmão de Alessandra, Eudens Soares da Silva conta que sempre orientou as garotas a prestarem atenção em toda a avenida antes de atravessar a Oscar Pereira:

– E a Emily fez isso, ela olhou certinho para os dois lados. Mas, quando botou o pé no asfalto, veio o carro muito rápido, detrás de uma curva – afirma o tio.

Cauana, a irmã mais nova que acompanhava Emily, não sabe ainda que ela morreu. Conforme a prima Tatieli, logo após o acidente, Cauana ajoelhou-se na calçada e pediu que a irmã falasse. Não foi atendida.


OUTRO CASO

Episódio causou comoção - Na madrugada do último dia 16, quando uma EcoSport foi atingida por um Corsa no bairro Navegantes, em Porto Alegre, causando a morte imediata de Bruna Lopes Capaverde, 15 anos. O motorista do Corsa fugiu, mas foi localizado em seguida por agentes da EPTC.



sábado, 23 de novembro de 2013

DA DOR À AÇÃO

ZERO HORA 23 de novembro de 2013 | N° 17623

CARLOS GUILHERME FERREIRA


LÁGRIMAS QUE MOTIVAM

Após perda de filhos em tragédias, pais atuam no voluntariado para tentar evitar casos semelhantes


Dois dias após perder a filha Bruna, de 16 anos, em um acidente de automóvel, na madrugada do último sábado, em Porto Alegre, Francisco Capaverde já tinha em mente o que fazer para tentar amenizar a dor: participar de campanhas de prevenção a acidentes. Assim como outros pais, o administrador de empresas sabe que nada trará a filha de volta, mas aposta que o trabalho de prevenção pode evitar que casos como o seu atinjam outros lares.

Para muitas pessoas, acontecimentos traumáticos, como a morte de um filho, viram motivação para o trabalho voluntário. A noite de 18 de setembro de 2006 mudou para sempre a vida de Noli e Senaile Backes. Um tiro disparado em um assalto ao mercado do casal, em São Leopoldo, matou o adolescente Lenon Joel, 16 anos, mas fez nascer um projeto que agora atende a 470 crianças e adolescentes e emprega 35 pessoas. Para os dois, a morte do filho único transformou-se em combustível para tentar afastar crianças e adolescentes da criminalidade no bairro São Miguel, local da tragédia.

Hoje, Noli divide-se entre a cidade natal da família, Porto Vera Cruz – às margens do Rio Uruguai, na fronteira com a Argentina –, e São Leopoldo. Segundo ele, já no velório de Lenon Joel havia a ideia de uma “reação pacífica”.

A saída da dor para a ação foi difícil, recorda Noli, pois o casal não sabia o que fazer. Onze dias após a morte, uma caminhada reuniu cerca de 4 mil pessoas e reforçou o sentimento que imperava nas reuniões realizadas na garagem do mercado após a morte do jovem. Dali nasceu o plano da organização não governamental (ONG), que surgiria menos de dois meses depois.

– Em 8 de novembro, já tínhamos legalmente constituído o Instituto Lenon Joel pela Paz – recorda o pai do garoto.

Trabalho traz “ânimo na vida, satisfação e força para viver”

As atividades começaram na garagem do mercado e incluíam oficinas de futebol – Lenon Joel adorava o esporte –, violão e flauta. Cresceram com base na busca de apoio financeiro, por meio de projetos variados. Em um dos casos, a ONG captou R$ 1,8 milhão junto à Petrobras para a compra de material esportivo e a contratação de pessoal.

O instituto funciona de segunda a sexta-feira, e o quadro de funcionários inclui psicóloga, assistente social, pedagoga e profissionais de educação física. Para as crianças e adolescentes, oferece atividades como futebol, música, canoagem, tênis, patinação, dança e cursos profissionalizantes de manutenção de computadores e de embelezamento.

Nos dois últimos casos, os alunos contam com oficinas para trabalhar. Ou seja, além da cidadania, ainda conquistam uma forma de fonte de renda – oito monitores foram formados e, agora, atuam como empregados no instituto, que também mantém um núcleo em Porto Vera Cruz.

– Isto nos dá ânimo na vida, satisfação, força para viver. Conseguimos salvar bastantes jovens – avalia.

Em 2010, quatro anos após a tragédia, Noli e Senaile tiveram outra filha, Valentina, que trouxe ao casal um novo motivo para sorrir. Já em 2011, Noli voltou à cidade onde o filho nasceu e foi sepultado. E mudou radicalmente de vida – ex-comerciante, hoje comercializa hortifrutigranjeiros, produzidos em uma propriedade de 18 hectares.


Uma ONG focada na segurança das baladas

Mais de cinco anos após a morte do filho, Igor, a jornalista Isabel Santos não sabe explicar como canalizou a dor em uma ação concreta: o Ficar – Instituto Igor Carneiro.

– Não tenho nem ideia de como consegui. Em uma semana, a minha revolta era muito grande – afirma.

Em 19 de outubro de 2008, o estudante de Direito de 18 anos foi vítima de uma bala perdida, em uma festa na Associação dos Funcionários do Inter (Asfinter). Conforme Isabel, havia 3 mil jovens em um local onde cabiam mil pessoas. E, por R$ 35, podia-se consumir bebidas alcoólicas à vontade. Os problemas a levaram a se preocupar com as condições de seguranças das baladas.

– Levantei a bandeira de que a morte do meu filho não seria em vão. Vários amigos abraçaram a causa – comenta.

Das lágrimas surgiu o instituto, que fiscaliza e promove ações de conscientização entre os jovens de 12 a 18 anos. Isto inclui visitas a escolas e, até mesmo, a realização de palestras a donos de casas noturnas.

Isabel afirma que, embora tenha viajado a Santa Maria, antes da tragédia da boate Kiss, para falar com os empresários da noite, “ninguém nos escutou”.

– Quando penso na minha dor, penso que pelo menos o nome dele (Igor) está vivo.


Pela paz no trânsito

Um acidente na RS-115, às 23h do dia 17 de agosto de 2007, custou a vida da estudante Jennifer, 16 anos. O atropelamento da menina, porém, serviu como estopim para o início de um trabalho de conscientização promovido pelo pai, o professor de Matemática Airton Schirmer, que criou a ONG Aprendizes Por Vida Breve Hip Hop & Poesia, com atuação em Taquara, Rolante, Igrejinha e Parobé.

Por meio do som do hip-hop, um “atalho para a inclusão”, o grupo passa uma mensagem de conscientização em escolas e comunidades. Cerca de 640 jovens estão envolvidos, alguns dos quais já viraram monitores.

Segundo Schirmer, a decisão de começar o trabalho deu-se mais pela emoção e pelas atitudes de amigos. Por si só, admite, não teria condições.

– Vou ter de ir junto (com os amigos), não posso ficar parado – pensou.

Alvo de uma ação judicial proposta pelo grupo, o local do acidente recebeu tachões, quebra-molas e redutor eletrônico de velocidade.

– No local onde nossa filha perdeu a vida, não houve mais vítimas fatais. Outras pessoas não vão ter este fim.


COMO AJUDAR - Saiba como contatar as entidades

LENON JOEL PELA PAZ
institutolenonjoel.webnode.com.br

FICAR
www.ficar.org.br

HIP HOP & POESIA
hiphopepoesia.yolasite.com

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

COITADO DOS PEDESTRES

JORNAL A NOTICIA DE SÃO LUIZ GONZAGA, 20/11/2013 às 11:21




NEWTON ALVIN


Lamentavelmente, uma senhora de 77 anos morreu após ser atropelada por um motoqueiro, na tarde de sábado, na Avenida Senador Pinheiro Machado. Diante dessa triste ocorrência, ouso dizer aqui que foi uma morte anunciada, como outras que infelizmente poderão ocorrer, por conta da recolocação de sinaleiras e mudança dos locais das faixas de segurança. De repente, em qualquer hora do dia, muitos motoristas de veículos e condutores de motos resolveram disputar velocidade na avenida da cidade e ai de quem estiver na frente, principalmente idosos e crianças.

O colunista vem notando e o nosso jornal bem que alertou diversas vezes o quanto essas mudanças pioraram a situação do pedestre, diante da pista de corridas em que se transformou a nossa avenida. Quase todos pisam no acelerador quando sobem em direção ao centro, sabendo que o freio será usado somente onde está localizada a nova sinaleira. E alguns nem parecem se importar com a faixa de segurança que existe diante do SEG – Escola Técnica José Gomes, com a redução da velocidade ocorrendo logo depois, frente ao semáforo. Nesse local, conferi que a maioria dos pedestres não se anima a atravessar quando vê aqueles bólidos, mesmo diante da faixa que devia representar alguma segurança para eles.

A situação vai piorando na medida em que descemos a avenida. Na esquina com a Rua Gen. Paiva existe uma faixa de segurança praticamente apagada. Se algum incauto tentar a travessia por ali ameaça ser atropelado, pois os condutores de veículos parecem não avistar nenhuma cor branca no asfalto – e ainda aceleram bastante e em ziguezague pela larga artéria que pensam ser somente deles. E não raro vejo pedestres inseguros, temendo o pior diante de uma faixa que praticamente inexiste para os donos de máquinas que podem matar. Por que corre tanto esse pessoal? E cadê a fiscalização ao limite de velocidade no centro?

Mais uma quadra adiante, sempre descendo a avenida, na esquina com a Rua Rui Ramos, há outra faixa quase insepulta, mais apagada ainda. E ali igualmente o pedestre não mostra confiança, pois os veículos não diminuem nunca a velocidade, como manda a mais rudimentar lei do trânsito. E onde a infeliz senhora foi atropelada no sábado, duas quadras adiante, na esquina com a Rua General Câmara, também não existe faixa de segurança, que bem poderia impedir essa morte tão lamentável. Quer dizer, nas principais quadras da avenida, os pedestres estão realmente desprotegidos, vulneráveis diante de mudanças que parecem ter favorecido somente os motoristas e motoqueiros, sem nenhuma ação concreta de proteção aos pedestres.

Como bem disse o psicólogo e perito examinador Eduardo Cadore, que fez uma avaliação do trânsito em São Luiz para o nosso jornal, “a instalação dos dois semáforos apenas atendeu ao interesse dos veículos, para uma maior fluidez”. A recolocação das sinaleiras não está irregular, reconhece Cadore, mas gera o que ele chama de “criminalização do pedestre”. Frisou o especialista em trânsito: “Constatei pessoalmente a hostilidade por parte do condutor, que, além de não dar preferência ao passante, falta-lhe empatia para compreender que este obedece à sinalização, na maioria dos casos”.

Enfatiza Cadore que “embora a legislação afirme que o pedestre tem o dever de deslocar-se até a faixa de segurança mais próxima dentro de 50 metros, convenhamos que é praticamente impossível que ele caminhe meia quadra para atravessar, ignorando aquela ex-faixa, que ainda aparece, mas agora coberta de preto”. E este colunista acentua que a tinta preta dessa faixa está sumindo, com as faixas brancas aparecendo, novamente gloriosas, para confundir ainda mais o infeliz pedestre.

Outro problema anotado por Eduardo Cadore é “a adaptação do motorista que, em muitos casos, acaba não dando preferência ao pedestre nem no cruzamento, quiçá no meio da quadra, local onde acaba por desenvolver um aumento da velocidade”. E ele enfatiza o mesmo pensamento deste colunista: “Fico preocupado com a possibilidade de aumento de atropelamentos após esta medida. Em suma, errado não está, mas o pedestre, mais uma vez, sai perdendo, pois se engana quem pensa que uma faixa no centro da quadra, apagando as dos cruzamentos, lhe dará segurança”. Eis o pensamento de um especialista em trânsito. E eu indago mais uma vez: por que esse pessoal corre tanto? E o que faremos para acabar com essa situação em desfavor do pedestre?

CONTROLE FROUXO



ZERO HORA 22 de novembro de 2013 | N° 17622

EDITORIAIS



É incompreensível a decisão do Departamento Estadual de Trânsito de renovar contratos com Centros de Formação de Condutores investigados por suspeita de facilitar a aprovação de alunos mediante o pagamento de propina. São investigações oficiais, promovidas pela Polícia Civil e pelo próprio Detran, que abriu inquérito administrativo quando os casos foram conhecidos, em junho último. Trata-se de uma imprudência habilitar compulsoriamente as autoescolas de 24 cidades, sabendo-se que apresentaram fortes indícios de irregularidades. O mais sensato seria a suspensão das renovações, até a conclusão das sindicâncias, para que as atividades das empresas não continuem sob suspeita.

As fraudes repetem esquemas que se multiplicam no Rio Grande do Sul e em outros Estados. Sob pagamento de uma quantia que pode chegar a R$ 3 mil, os candidatos a uma carteira de motorista têm a vida facilitada. A Polícia Civil já comprovou o esquema, ao submeter ao teste de direção 23 pessoas que teriam pago a propina. Apenas uma foi aprovada, apesar de todas as outras 22 estarem de posse da carteira. O caso não envolve apenas funcionários dos CFCs, mas também do Estado. Este jornal apurou que dois servidores do Detran sob investigação exerciam cargos de chefia e continuam trabalhando, mesmo que transferidos para outras funções. Os investigados, em combinação com empregados das autoescolas, formavam uma quadrilha que pode resultar no indiciamento de duas dezenas de pessoas.

Além das questões óbvias da legalidade e da moralidade, há outros fatores presentes em casos como este. O mais relevante é certamente o da segurança. Quando se acentua o desrespeito às normas do trânsito e quando se sabe que as tragédias ao volante são geralmente causadas pela combinação de imprudência com imperícia, não é admissível que controles frouxos permitam fraudes como as apuradas nos CFCs. A renovação automática dos contratos só contribui para o aumento desta insegurança.



ZERO HORA 23 de novembro de 2013 | N° 17623

SOBRE ZH



Causou-nos imensa surpresa o conteúdo expresso no editorial “Controle frouxo”, publicado na edição de ontem, que, como qualquer editorial publicado em Zero Hora, expressa a opinião do veículo e quiçá a posição do Grupo RBS.

Surpresa, porque é fundamental, em um Estado de direito, obedecer à lei. E todos devem fazê-lo, estejam ou não de acordo com ela. O mesmo se pode dizer das instituições democraticamente estabelecidas. Muito mal já foi feito, e exponencialmente ampliado pela imprensa, quando essas duas premissas básicas são ignoradas. A condenação prévia é característica dos regimes autoritários e do mais nefasto dos jornalismos, podendo dar causa a irreparáveis injustiças.

No caso concreto, há pessoas de diversos CFCs sendo investigadas pela polícia. Os servidores suspeitos de envolvimento foram afastados da chefia ligada aos CFCs e também estão sendo investigados. Após encerrada essa fase, todos os responsáveis sofrerão as sanções legais, tanto no plano administrativo quanto no penal. Nossa postura é de total confiança na polícia e na Justiça. Quando chegar o momento de o órgão de trânsito agir, ele o fará exemplarmente. Não nos arvoraremos, jamais, em investigadores policiais ou em juízes. Isso, para nós, é uma questão óbvia de moralidade e de legalidade.

Em resumo, é importante manter os serviços públicos funcionando. Se houvéssemos prejulgado funcionários de CFCs e servidores e suspendido atividades, certamente haveria muitas reclamações dos usuários, e mais seguramente ainda essas reclamações seriam acolhidas pela imprensa. Aí, sim, teríamos que nos retratar e rever procedimentos. No caso em tela, nossa tranquilidade é total. Falta nos sentirmos mais confiantes na postura da grande imprensa.

Leonardo Kauer

Diretor-presidente do Detran/RS

MAIS DO QUE IMPUNIDADE

ZERO HORA 22 de novembro de 2013 | N° 17622

ARTIGOS

Foto de Jorge Bengochea.

Carlos Eduardo Richinitti*


“Pense no meu sofrimento, pois pode acontecer contigo”

Esta frase, dita por Francisco, pai da jovem Bruna Capaverde, que teve os sonhos de toda uma breve vida de apenas 16 anos ceifados pela brutalidade do nosso trânsito, escancara, com a tristeza de quem sofre uma dor que não é humana, uma das maiores verdades que levam à situação caótica hoje verificada.

O criminoso que dirige sob o efeito de álcool ou droga, o irresponsável que não respeita velocidade ou regras mínimas de condução segura, transformando o veículo em uma arma fatal, não o faz apenas movido pela impunidade que grassa em nosso meio. O faz, também, acreditando que a desgraça, a perda, a tragédia só acontece com os outros.

Não há maior engano. Todos nós, motoristas ou pedestres, pais, mães, filhos, amigos, somos potenciais vítimas da violência dessa verdadeira chacina a céu aberto que é o trânsito brasileiro.

Não se prioriza educação, a lei é absolutamente frouxa e nós, juristas, talvez até porque esse é um crime que qualquer um pode cometer, em nome de garantias fundamentais, fundamentamos cada vez mais a impunidade que mata como guerra.

O agravante disso tudo é que erros históricos, motivados por interesses exclusivamente econômicos, privilegiam até hoje o transporte privado em desfavor do público, resultando que de forma descontrolada estamos jogando, em vias públicas deficientes e insuficientes, cada vez mais carros para circulação. Isso, misturado com a impunidade, fará com que o número de mortes só aumente.

A jovem Bruna saiu na noite apenas para exercer o seu direito de viver e acabou, sem culpa alguma, recebendo a maior das penas. Acho que está mais do que na hora de a nossa sociedade, em especial quem faz a lei e a aplica, começar a refletir melhor sobre isso tudo, desvinculados de princípios teóricos de Direito e inspirados na frase definitiva, realista e verdadeira de Francisco.

*JUIZ DE DIREITO


COMENTÁRIO DO BENGOCHEA -Este artigo é importante já que seu autor, um juiz de direito, manifesta com toda sinceridade a indignação de todos diante da impunidade dos crimes de trânsito apontando para a falta de prioridade educacional, as leis frouxas e as garantias fundamentais que os juristas são obrigados a conceder.  Infelizmente, apesar de matar milhares de brasileiros, esta "guerra civil" não consegue ter a atenção devida do Congresso Nacional e do CNJ para propor, em nome da supremacia do interesse público, alterações na constituição para reduzir "garantias fundamentais" que impedem a ação coativa da justiça, julgamento ágil e punição exemplar aos criminosos do trânsito.




TRANSITO MAIS GENTIL

BLOG AUTOMUNDI, 13 DE MAIO DE 2010

A onda no momento é a campanha “Trânsito mais gentil” da Seguradora Porto Seguro. No trânsito hoje, podemos ver o adesivo da campanha colado em diversos carros, o que mostra que o brasileiro está realmente disposto a ter um tráfego melhor nas ruas do país. O slogan da campanha é bem convidativo ( e particularmente falando, um slogan muito bem criado e totalmente voltado a reflexão de todos nós ao ouvir, sinceramente me faz realmente pensar a tentar mudar para um trânsito melhor ) mas será que essa campanha mudará a situação das ruas?



Nos dias de hoje, a cada dia que saimos de carro seja num trajeto curto, ou numa viagem longa, sempre nos deparamos com um acidente, colisão, atropelamento, motoqueiros caídos. Tudo isso se tornou uma cena cotidiana.



Você já parou para pensar quantas pessoas morrem todos os dias em acidentes de trânsito? não importa como o acidente aconteceu, que alias existem diversas causas para isso, acredito que as duas principais hoje são dirigir alcolizado e excesso de velocidade ou as duas juntas, além de outras, a famosa “barbeiragem”, ou seja um motorista que dirige de maneira imprudente, sem atenção, que não respeita os sinais de trânsito, e as vezes até acidentes causados por pessoas inexperientes ao volante, que mesmo q não sejam o carro qu colidiu, causaram a colisão. Devido e todos esses fatores, morrem mais pessoas no transito do que de doenças terminais.

Mas como podemos resolver essa questão que tanto aflige o brasileiro? O Automundi vai “REFORÇAR” alguns items, que com certeza você já sabe, mas nem sempre faz:


- NUNCA BEBA SE FOR DIRIGIR

- Use SEMPRE o cinto de segurança

- Crianças devem sempre rodar no banco de trás do veículo ( a partir desse mes, somente na cadeirinha protegida pelo cinto de segurança do mesmo ).

- Respeite sempre a velocidade máxima permitida na via, as sinalizações e leis de trânsito.

- Mantenha sempre seu veículo em boa condições

- Nunca transite pelo acostamento das rodovias

- Ao fazer ultrapassagens, esteja sempre atento aos outros veículos

- Atenção redobrada em dias de chuva

- Nos cruzamentos esteja atento aos pedestres, pois nem sempre eles estarão atentos em você e nso outros carros

- Evite brigas no transito

- Procure sempre dar passagem

- Respeite a faixa de pedestres

- Ao sentir sono, se possível passe a direção a outro condutor habilitado ou se não ouver, em caso de uma viagem longa, procure um lugar seguro, pare e durma um pouco ( se nem isso for possível, tome o bom e velho cafezinho bem forte e procure triplicar a atenção ).

- Ao fazer uma curva ao lado de um onibus, não se esqueça que a traseira do onibus ira “comer” parte da faixa ao lado.

- Ao estacionar utilizando a baliza, não se esqueça que a frente do seu veículo irá “comer” a faixa ao lado de onde você estiver estacionando.

- Tome cuidado com freadas bruscas, você não sabe se o carro atrás de você estará atento.

- Dê passagem aos motociclistas

- NUNCA BEBA SE FOR DIRIGIR, SE BEBEU NÃO DIRIJA ( SIM, DE NOVO COM CAPS LOCK LIGADO PARA VOCÊ SEMPRE SE LEMBRAR DISSO ).
Esses são alguns tópicos que você deve sempre se lembrar quando abrir a porta do carro entrar e for sair, não importa a distância do trajeto.

Eu não utilizo seguro da Porto Seguro, tenho alguns pontinhos na minha habilitação, mas estou sempre tentando estar atento para melhorar a situação do transito com minhas ações, vá a algum posto da porto seguro, retire seu adesivo, cole no carro, faça parte das redes sociais da campanha, faça parte você também afinal…

Transito mais gentil, um transito melhor, começa com você!

http://www.transitomaisgentil.com.br/

METADE DAS MORTES DE TRÂNSITO ENVOLVEM ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS

ZERO HORA 21/11/2013 | 20h09

Em Porto Alegre, 50% das mortes no trânsito envolvem álcool e outras drogas. Dados de janeiro a novembro apontam 116 vítimas fatais em acidentes ocorridos na Capital



Recentes pesquisas têm mostrado que o uso de álcool e outras drogas, como maconha e cocaína, compõem o perfil dos acidentes com vítimas fatais no trânsito de Porto Alegre. No último levantamento realizado por técnicos de Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), Secretaria Municipal da Saúde (SMS) e Delegacia de Delitos de Trânsito, de 42 casos pesquisados em acidentes com vítimas fatais neste ano, 21 (50%) apontaram o envolvimento de álcool, maconha ou cocaína, abrangendo as vítimas ou os causadores dos acidentes fatais.

Os dados de 1º de janeiro a 21 de novembro apontam 116 vítimas fatais no trânsito da Capital.

— Deste total, em 49 casos não houve possibilidade de coleta de dados sobre uso de substâncias como álcool e outras drogas, 25 aguardam resultado da pesquisa, em 21 deu negativo e em 21 foi positivo — afirma Fabiane Moscarelli, coordenadora de Informações de Trânsito da EPTC.

O diretor-presidente da EPTC, Vanderlei Cappellari, afirma que o enfrentamento desta realidade depende da participação de toda a comunidade.

— As campanhas e atividades de educação para o trânsito são permanentes, além da fiscalização, das blitze diárias, das ações do Balada Segura. Vamos intensificar essas ações durante as festas de final de ano. Mas toda a comunidade deve se envolver realmente para uma verdadeira mudança de cultura. O trânsito, pelo número cada vez mais crescente de veículos nas ruas, já apresenta seus riscos naturais. Imaginem quando existe o envolvimento de álcool e drogas nos acidentes. É muito mais complicado e bem mais grave — enfatiza.

As pesquisas apontam, também, o envolvimento de uma parcela expressiva de jovens nos acidentes fatais no trânsito da Capital.

— Nos últimos cinco anos, de 680 casos de vítimas fatais, 207 (30%) envolveram jovens entre 13 e 25 anos — afirma a técnica de trânsito e transporte da EPTC Diva Yara Mello Leite.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

TRANSITO MATA 980 MIL PESSOAS NO BRASIL EM 31 ANOS


Acidentes de trânsito matam 980 mil pessoas no Brasil em 31 anos. Estudo, que considera o período entre 1980 e 2011, mostra retomada da violência no tráfego, impulsionada pela alta de casos com motos

21 de novembro de 2013 | 11h 05

Bruno Paes Manso - O Estado de S. Paulo


SÃO PAULO - Morreram em acidentes de trânsito no Brasil 980.838 pessoas entre os anos de 1980 e 2011. Neste último ano, o País alcançou a maior taxa de mortes por cem mil habitantes desde que os dados começaram a ser contabilizados. Foram 22,5 mortes por 100 mil habitantes, pico que já havia sido alcançado em 1996, antes da criação do Código Brasileiro de Trânsito, que logo depois que começou a vigorar contribui para quedas importantes nas taxas.

Os dados são do Mapa da Violência 2013, acidentes de trânsito e motocicletas, feita pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino Americanos (Cebela).

As motos foram os maiores vilões da retomada da violência no trânsito no Brasil, com crescimento de 742,5% nos últimos 15 anos. Em 1996, morriam por acidentes de moto 0,9 pessoas por 100 mil habitantes. O total cresceu para 7,6 mortes por 100 mil habitantes em 2011. No mesmo período, as mortes em acidentes por automóvel também subiram, mas em proporção menor (41,2%). Em 2011, morreram em acidentes de carro 6,5 pessoas por 100 mil habitantes.



Desde 2008, as motos são as principais causadores de morte no trânsito brasileiro. Tradicionalmente, os pedestres eram as maiores vítimas. Em 1996, morriam 15,6 pedestres por 100 mil habitantes, total 17 vezes maior do que os mortos em motos. Atualmente, as vítimas nas motocicletas é 25% mais alta do que os que andam a pé.

Entre os Estados, Tocantins lidera as taxas de mortes no trânsito, com 37,9 mortes por 100 mil habitantes. É seguido por Rondônia (37,5 por 100 mil), Mato Grosso (35,2), Piauí (34,7) e Mato Grosso do Sul (34,7). O Estado de São Paulo fica na 25ª colocação, com 17,7 mortes por 100 mil habitantes, a frente do Rio de Janeiro (17,2) e Amazonas (14,4), este último, o trânsito menos violento do Brasil. Nos casos de morte de motociclistas, o campeão é o estado do Piauí, com 30,4 mortes por 100 mil habitantes.

Ainda de acordo com o levantamento, a cidade de Presidente Dutra, no Maranhão, é a cidade com o trânsito mais violento do Brasil. Com população de 45.155 habitantes, teve 219 mortes nos últimos cinco anos, o que significa uma taxa de 285,7 mortes por 100 mil habitantes, total 16 vezes maior do que a do Estado de São Paulo.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

ESSA HISTÓRIA TEM DE MARCAR

ZERO HORA 20 de novembro de 2013 | N° 17620

MAURICIO TONETTO

ENTREVISTA

Ao ver o Corsa dirigido por Diego Alberto Joaquim da Silva, 29 anos, se aproximar rápido da sua EcoSport na esquina das avenidas Pernambuco e Brasil, em Porto Alegre, Eudon Moraes, 50 anos, só teve tempo de gritar “meninas” e pisar no acelerador para escapar de uma colisão violenta. O reflexo foi decisivo, segundo ele, para evitar a morte de todos os ocupantes do carro. Além de Bruna Lopes Capaverde, 15 anos – que não resistiu ao choque, na madrugada de sábado –, estavam no veículo a filha de Moraes e outra adolescente:

– A sinaleira abriu, fui devagarinho, olhei a esquina e, quando percebi, vinha aquela coisa em alta velocidade. Ele ia matar todo mundo, ia pegar no meio do meu carro.

Eudon foi o pai escolhido para buscar as garotas depois de uma festa no bairro Navegantes, às 5h30min. Eles faziam um revezamento para garantir a segurança das jovens na saída das baladas. Conforme relatos colhidos pela Polícia Civil, o Corsa teria cruzado o sinal vermelho e fugido, sendo achado minutos depois por agentes da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) na Avenida Castelo Branco, próximo à ponte do Guaíba. Diego foi detido por 12 horas no Presídio Central, mas está solto.

– É um peso que ele nunca vai tirar da cabeça – avalia Moraes.

A seguir, a entrevista que o pai concedeu a ZH:

Zero Hora – O que o senhor lembra do acidente?

Eudon Moraes – Ele só podia estar em alta velocidade. Eu paro em todos os sinais vermelhos, e a sinaleira já estava aberta para mim. Fui devagarinho, olhei a esquina e, quando percebi, vinha aquela coisa em alta velocidade. Só deu tempo de gritar “meninas” e me atirar para um canto. Ele ia matar todo mundo, ia pegar no meio do meu carro. Ele nem viu o sinal vermelho.

ZH – Qual foi sua reação ao perceber isso?

Moraes – Meu carro é automático, pisei fundo no acelerador para fugir dele mas, mesmo assim, me pegou na roda de trás. Ele desviou para o meu lado e fui jogado contra os pilares. O carro fez uma catapulta e voou em um poste. Me sinto responsável.

ZH – Em que velocidade o senhor estava na hora do acidente?

Eudon Moraes – A uns 40 km/h, no máximo 50 km/h. Recém tinha entrado na avenida. Os peritos me mostraram que ele pegou a minha roda traseira, quase escapei.

ZH – Após a colisão no veículo, o que o senhor fez?

Moraes – Empurrei o cinto, chutei a porta e saí para olhar as meninas. A que estava atrás do meu banco (a Bruna) eu não enxergava, as outras estavam bem. Fiz a volta no carro e vi que ela estava desacordada, mas o coração batia. Fiquei segurando a cabecinha dela, esperando a ambulância. Foram uns 10 minutos de muita angústia.

ZH – As meninas estavam usando cinto de segurança?

Moraes – Eu mandei todas colocarem, sou até meio paranoico com isso, mas não sei se todas obedeceram. O Serviço Móvel de Atendimento de Urgência (Samu) teve de cortar o cinto de uma delas para fazer o atendimento.

Zero Hora – O que o senhor gostaria de dizer para o motorista do Corsa que o atingiu?

Moraes – Nem quero nem ver a fisionomia dele, o baque foi muito grande. A Bruna vivia dormindo na minha casa com a minha filha. As pessoas fazem loucuras, mas devem arcar com as consequências. Essa vai sair caro. É um peso que ele nunca mais vai tirar da cabeça. Essa história tem de marcar de alguma forma.

ZH – Por que o senhor disse que se sente responsável?

Moraes – Eu sei que não tenho culpa, mas elas estavam sob minha guarda. O inconsciente fica me martelando, cada um tem seu tempo. A Bruna era a melhor amiga da minha filha, elas viviam juntas. Está muito difícil.

ZH – O que o senhor pretende fazer daqui para frente?

Moraes – Me engajar em campanhas contra a violência no trânsito e meter a cara no trabalho para esquecer. Eu trabalho com seguro de cargas em acidentes de caminhão, achei que estava preparado para algo assim, mas não. Vou ter de levar, não posso parar para pensar.







Barulho do impacto indica alta velocidade


A Polícia Civil obteve de estabelecimentos comerciais do bairro Navegantes as imagens da colisão entre o Corsa e a EcoSport na madrugada de sábado. Elas foram enviadas ao Instituto Geral de Perícias (IGP), que fará uma simulação para estimar a aceleração dos veículos. Segundo o delegado Wagner Dalcin, que esteve no local minutos depois do acidente e conversou com moradores, os indícios apontam para imprudência:

– Pelo fato de ter gerado a capotagem, provavelmente ele (Corsa) estava em alta velocidade. O barulho do impacto dá uma noção. As testemunhas disseram que foi um som forte.

O trabalho do IGP é fundamental para determinar se Diego será indiciado por homicídio doloso, com dolo eventual (quando se assume o risco de matar).

– Dá para ver o acidente. Estamos depurando a imagem. É complicado quando as câmeras são de baixa qualidade, por isso solicitei que o IGP faça o parâmetro. Antes da batida não tem marca de frenagem na pista – explica Cristiano Reschke, da Delegacia de Homicídios de Trânsito.

Roberta Rycembel advogada de Diego da Silva, condutor do Corsa, nega que seu cliente tenha fugido após o acidente e que ele estivesse embriagado. Relatos de testemunhas, incluindo PMs e agentes da EPTC, dão conta de que o suspeito apresentava sinais de consumo de bebidas alcoólicas. Como ele se negou a fazer o teste do bafômetro, foi encaminhado para exame clínico, e o médico observou “hálito duvidoso”.

– Foi uma fatalidade. O Diego não estava embriagado, e não houve fuga. Isso será analisado em um segundo momento. Agora, ele quer manter o direito de ficar em silêncio. Vamos aguardar a perícia e os laudos. Ele me relatou que estava trafegando e viu uma luz forte do outro veículo e tirou a mão da direção. Em seguida, se viu andando e estacionou. Para dizer que ele passou no sinal vermelho, tem de provar – diz Roberta.

SUSPEITO DE RACHA ATROPELA E MATA MULHER NA FAIXA DE PEDESTRE


Mulher morre após ser arrastada por carro na zona norte de SP. Jéssica da Silva, de 22 anos, foi atingida quando atravessava faixa de pedestre no começo da madrugada; ocupantes do veículo, que estariam participando de racha, fugiram

20 de novembro de 2013 | 9h 14

Renato Vieira e Luciano Bottini Filho - O Estado de S. Paulo




Werther Santana/Estadão
O carro envolvido no atropelamento

SÃO PAULO - Uma mulher morreu atropelada no início da madrugada desta quarta-feira, 20, na Ponte do Piqueri, na zona norte de São Paulo. Jéssica Bueno da Silva, de 22 anos, descia de um ônibus por volta de 0h, quando foi atingida por um veículo da marca Fiat Stilo na faixa de pedestres da Avenida General Edgar Facó. Com o impacto, ela se chocou com o vidro do carro, que ainda avançou por 200 metros.

O veículo foi abandonado na ponte. Os três ocupantes fugiram sem prestar socorro. Segundo a Polícia Civil, testemunhas disseram que Jéssica atravessou a via na faixa de pedestres. O carro teria vindo em alta velocidade, ignorando o semáforo vermelho. Uma faixa do sentido centro ficou interditada até 6h30, para trabalho da perícia.

Há a suspeita de que o carro que atingiu Jéssica estivesse envolvido em um racha com outros dois veículos antes do acidente. A polícia diz que as investigações só terão início nesta quinta-feira, 21, devido ao feriado desta quarta-feira.

Familiares da vítima reclamaram no Instituto Médico-Legal (IML) central da capital que a Polícia Civil não deu informações sobre os condutores do veículo. Rose Rodrigues, prima de Jéssica, afirmou que ela estava acompanhada por cinco pessoas, entre elas o namorado. O grupo se dirigia a uma casa noturna. Segundo os familiares, os colegas nem perceberam a batida. "A Jéssica sumiu", teriam dito. "Eles (os carros) vinham em alta velocidade. Um desviou, outro parou e o terceiro bateu nela", contou Rose.

Jéssica tinha um filho de 4 anos e iria começar em um novo emprego. Seu corpo se encontra no IML. O caso foi registrado como homicídio culposo, sem intenção de matar. O carro foi levado para vistoria.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

DOR DE PAI

ZERO HORA 19 de novembro de 2013 | N° 17619

MAURICIO TONETTO

DRAMA


Depois de perder a única filha mulher em um acidente causado por um motorista com suspeita de embriaguez, em Porto Alegre, administrador pretende engajar-se em campanhas contra a violência no trânsito



Enquanto via fotos e revivia a história dos 15 anos da filha Bruna Lopes Capaverde, morta em acidente na madrugada do último sábado, na Capital, o administrador de empresas Francisco Capaverde apelou: – Pense, repense no meu sofrimento. Pode acontecer contigo.

Francisco quer transformar a perda da menina em uma bandeira para os que lutam contra a imprudência no trânsito, assim como fez Diza Gonzaga, com a Fundação Thiago de Moraes Gonzaga. Bruna morreu quando voltava de uma festa com duas amigas, na EcoSport guiada pelo pai de uma delas. O veículo foi atingido por um Corsa, dirigido por Diego Alberto Joaquim da Silva, 29 anos, no bairro Navegantes.

Segundo a polícia, o Corsa – encontrado mais tarde – teria cruzado o sinal vermelho e fugido do local. Diego chegou a ser detido por 12 horas no Presídio Central, mas acabou solto. Com suspeita de embriaguez, ele se negou a soprar o bafômetro e deve ser indiciado por homicídio doloso (quando se assume o risco de matar). Mais do que justiça, Francisco quer que a perda da filha não seja só “mais uma estatística”.


O desabafo de Francisco

“Normalmente, fazemos revezamento entre os pais para buscar (os filhos) nas festas e, ironicamente, não fui o escolhido para essa. Estava sossegado em casa, esperando aquela confusão da chegada das meninas – que normalmente dormiam na minha casa –, quando recebi um telefonema. Era a mãe de uma delas, dizendo para eu me dirigir ao hospital (Cristo Redentor) que havia ocorrido um acidente, mas que não me preocupasse, que não devia ser nada importante. Fui até o hospital e, chegando lá, não localizei minha filha. Nisso chegou um atendente de ambulância e me chamou em um canto. “O senhor é o pai da Bruna?”. Eu disse “sim”. “Chega aqui comigo. Aconteceu uma coisa: a Bruna faleceu”. Não, não acreditei, isso não existe, não vai acontecer comigo. Fui até o Hospital de Pronto Socorro e lá insisti, insisti, insisti, pois existem essas coisas nas festas, de uma menina estar com a identidade da outra no bolso. Tinha esperança de que não fosse minha filha. Então, fui levado até uma sala onde havia um corpo com lençol em cima. Era minha filha, não tinha o que fazer. Conversei com a minha esposa, e a gente quer justiça, que o assunto não seja mais uma estatística de feriado. Foi a minha filha, e a minha filha tem que fazer valer a falta dela. Já entrei em contato com a Fundação Thiago de Moraes Gonzaga e quero participar de campanhas, mostrar para os jovens que beber e dirigir não combina, e que não quero ver mais nenhum pai reconhecer o corpo de uma filha. Não quero que aconteça com o meu pior inimigo. E a única forma que entendo disso – tenho um filho mais velho e outros dois pequenos – é a conscientização. É a única forma de mudar isso. Mostrar o meu sofrimento, que não existe coisa pior do que reconhecer o filho que a gente criou, que foi tão amado. O trânsito é uma máquina de mortes, mas quero que a pessoa, na hora de fazer uma bobagem e beber e sair com o carro, pense um pouquinho no meu sofrimento, nessa cena, que é ver as pessoas que tu mais ama na vida ali, sem poder reagir, sem poder fazer nada. Tu nunca mais vai conviver com ela, nunca mais vai brigar com ela, nunca mais vai ter tua parceira, não vai poder levar ela no jogo do time de vocês. Eu, passando esse sofrimento, mostrando às pessoas, é uma forma de, pelo menos, a vida da minha filha ter um valor a mais. Todo mundo pensa “acontece na televisão”. Tchê, se tu fizeres coisa errada, pode acontecer contigo, com as pessoas que tu mais ama. Então pense, repense. Ela estava radiante, começando a conhecer a vida, fazendo as festas dela com todo apoio dos pais, dos irmãos, dos amigos, num ótimo momento. E aí, de uma hora para outra, o sonho, a possibilidade de ver uma filha profissional, mãe, é cortado.”

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

A DOR DE PERDER A FILHA NA VOLTA DA BALADA


ZERO HORA 18 de novembro de 2013 | N° 17618


LETÍCIA DUARTE


DRAMA FAMILIAR. “Não temos coragem de entrar no quarto dela”

Abalados pelo acidente que matou a filha de 15 anos na volta de festa, pais da jovem esperam Justiça



Desnorteados pela morte da filha de 15 anos em um acidente de trânsito na volta de uma festa, no bairro Navegantes, em Porto Alegre, os pais de Bruna Lopes Capaverde, 15 anos, deixaram sua casa para se refugiar no sítio de um compadre em Viamão, com os outros três filhos. Saíram para adiar o confronto de memórias.

Os pais não se sentem preparados para abrir a porta do quarto da adolescente, que teve o destino abreviado na madrugada de sábado, quando a EcoSport em que estava foi atingida pelo Corsa dirigido por um jovem de 29 anos – autuado pela polícia por homicídio com dolo eventual, pelo entendimento de que teria assumido o risco de matar, por ter apresentado sinais de embriaguez e fugido do local.

– A gente não sabe o que fazer. Não temos coragem de entrar no quarto dela. Ainda não conseguimos contar para os pequenos. É como se ela estivesse viajando. Mas não vamos deixar passar em branco. Não é questão de vingança, mas esse caso precisa ser exemplar para que não volte a acontecer – desabafou o pai, o administrador de empresas Francisco Capaverde, 50 anos.

Aluna do 1º ano do Ensino Médio no Colégio Estadual Piratini, Bruna voltava de uma festa na Farms, no Shopping Total, na Capital, na companhia de duas amigas, quando o choque ocorreu, por volta das 5h30min de sábado. As três eram conduzidas pelo pai de uma das adolescentes, cumprindo ritual de revezamento criado entre as famílias para que as filhas fossem conduzidas em segurança no ir e vir das baladas.

No cruzamento das avenidas Pernambuco e Brasil, a EcoSport colidiu com o Corsa branco conduzido por Diego Alberto Joaquim da Silva, 29 anos. Com o impacto, o veículo em que Bruna estava capotou. Ela morreu no local e as duas amigas ficaram feridas. O motorista do Corsa fugiu pela Avenida Pernambuco na contramão, sendo localizado em seguida por agentes da EPTC, perto da ponte do Guaíba.

Como se recusou a realizar o teste do bafômetro, o motorista do Corsa foi submetido a exame clínico que apontou “hálito duvidoso” – o que evidenciava “sinais clínicos de estar sob influência de álcool”, como consta no laudo – embora sem alteração da capacidade psicomotora. Mesmo assim, o delegado plantonista entendeu que as provas testemunhais eram suficientes para enquadrá-lo por embriaguez, além de outros agravantes, como fuga do local e suspeitas de que teria cruzado o sinal vermelho. Às 11h de sábado, o condutor chegou a ser encaminhado ao Presídio Central, onde permaneceu por 12 horas, até conseguir a liberdade provisória.

– Há sinais fortes de que houve dolo eventual e, se for confirmado, ele vai a júri – afirma o delegado Cristiano Reschke, da Delegacia de Homicídios de Trânsito, que a partir de hoje começa a ouvir testemunhas e sobreviventes.

O motorista da EcoSport foi submetido ao bafômetro e nenhuma alteração foi constatada.

Cientes de que nada trará a filha de volta, os pais torcem por justiça – e fazem planos de se engajar em campanhas de conscientização de trânsito, para evitar que outras famílias passem o que eles estão passando.