quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

NINGUÉM É DE NINGUÉM


WANDERLEY SOARES, REDE PAMPA, O SUL
Porto Alegre, Quarta-feira, 04 de Janeiro de 2012.


Nas discussões das questões do trânsito, a hipocrisia costuma soterrar as tragédias.

O trânsito, sabemos todos nós, é, em nosso País, e o RS ocupa uma posição não invejável mas destacada nesse processo, um de nossos mais aberrantes flagelos. Exatamente por isso, aqui da minha torre, sempre como um humilde marquês, há alguns anos defendo a ideia de tolerância zero para infratores nas áreas urbanas, nas rodovias e até nos recantos rurais, estejam ou não sóbrios, tenham ou não tenham habilitação, sejam ou não sejam doutores ou dotados de outros títulos como filhos ou aparentados de fulano, cicrano ou de beltrano. Isso parece uma obviedade.

No entanto, tal tolerância zero é contestada por ações, não por intenções, a cada minuto, a cada segundo nas áreas urbanas por jovens, cada dia em maior número, por senhores e senhoras de todas as idades, por profissionais do volante e até por policiais em motos e viaturas sob a alegação de tarefas urgentes.

Essa legião de infratores estabelece a cultura de nosso trânsito e consegue até protestar contra o "rigor" de uma fiscalização que é feita sem efetivo, com salários defasados e equipamentos em grande parte sucateados. É essa a cultura em nosso trânsito que em parte das zonas urbanas chega a ser disciplinado por flanelinhas.

Vale alta velocidade, desrespeito a faixas de segurança, não obedecer a sinaleiras, buzinaços. Ah, mas diante de uma tragédia numa rua, numa estrada qualquer, então brota o clamor, o pedido de justiça sem atenuantes, a exigência de cadeia, a ameaça de linchamento. Passado o impacto, tirante os familiares e amigos das vítimas, a sociedade volta ao seu lugar com a mesma filosofia de nosso cancioneiro de que "ninguém é de ninguém, na vida tudo passa".

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