domingo, 22 de janeiro de 2012

MORTES NAS ESTRADAS DO RS: REDUÇÃO! SERÁ?


ALENTO NOS NÚMEROS. 2011 registra menos mortes em estradas - LUÍSA MEDEIROS, ZERO HORA 22/01/2012

Após anos em que o crescimento econômico acarretou em mais carros e mais sangue nas estradas, 2011 mostrou ao Estado um norte para preservar vidas no trânsito. Com mais estrutura, fiscalização e tecnologia, pela primeira vez em cinco anos o número de mortes em rodovias caiu de um ano para outro.

Uma mudança no panorama dos acidentes de trânsito traz alento para quem transita pelas estradas gaúchas. Em 2011, embora o número de acidentes se mantenha em alta, menos pessoas perderam a vida nas rodovias federais e estaduais do Rio Grande do Sul, mudando a curva ascendente nos últimos cinco anos.

Nos 12 meses do ano passado, 949 pessoas morreram em decorrência de acidentes em estradas (federais e estaduais). O número é 7,7% menor que o índice de 2010, quando foram registrados 1.023 óbitos nas rodovias. Essa estatística quebra a lógica crescente de mortalidade dos acidentes. O número de acidentes, no entanto, continua subindo e cresceu 4,38% de um ano para outro. Apesar do aumento significativo, o número é comemorado, uma vez que o crescimento de acidentes de 2009 para 2010 foi muito maior, de 20,47%.

A mudança nas estatísticas tem três motivos principais, segundo o professor do Laboratório de Sistemas de Transporte da Escola de Engenharia da UFRGS, Luiz Afonso Senna. De acordo com o doutor em engenharia de transporte, para entender o que ocorreu no último ano, é preciso analisar o crescimento expressivo nas estatísticas de acidentes e mortes que ocorreu nos anos anteriores.

– A partir de 2008 e 2009, começou a entrar um contingente fantástico de automóveis no Estado, o que eu chamo de segundo milagre econômico, então o que provavelmente aconteceu é que essas pessoas que, agora, podem ter um carro, não estão acostumados a dirigir nas estradas, aumentando a acidentalidade – explica.

Depois desse crescimento exacerbado (veja os gráficos ao lado), houve um investimento maciço na melhoria das rodovias, principalmente as federais, que passaram a apresentar melhores condições de trafegabilidade, além da boa sinalização. Combinado a isso, reforça Senna, vieram campanhas educativas de trânsito e uma fiscalização mais efetiva e com equipamentos mais sofisticados das polícias rodoviárias federal e estadual.

– A gravidade dos acidentes diminuiu. Também percebemos que a Lei Seca está se consolidando com o passar do tempo, a gente começa a perceber a consciência das pessoas – cita Luiz Afonso Senna.

Fiscalização mais rigorosa e sazonal

Já as autoridades policiais são enfáticas ao atribuir os índices menores da violência nas estradas à intensa fiscalização, especialmente nos trechos que, nos outros anos, apresentavam muitos acidentes. Na opinião do chefe da comunicação social da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Alessandro Castro, o Estado se recupera agora de um 2010 assustador:

– Naquele ano, tivemos um número de mortos muito alto, fora do padrão, o que nos fez intensificar as campanhas educativas e a fiscalização. O número de condutores embriagados autuados, por exemplo, subiu 70%.

Já o major Itacir Ramos, que responde interinamente pela chefia de operações do Comando Rodoviário da Brigada Militar, cita a importância de fiscalização diferenciada conforme a época do ano.

– Intensificamos as abordagens nas férias e na época de festas – explica.


A mais violenta das vias

Atravessando o Estado, a rodovia Jaguarão-Vacaria (BR-116) concentra 37,8% de todos os acidentes ocorridos nas estradas gaúchas, além de quase 10% das mortes, em 2011. Foram 5.903 sinistros, que deixaram 91 vítimas fatais nos 661 quilômetros da via.

Segundo informações da PRF, a rodovia mais movimentada do Rio Grande do Sul tem trechos críticos, como o trajeto entre Porto Alegre e Novo Hamburgo, um dos mais violentos do país.

Na opinião do doutor em transporte Luiz Afonso Senna, o fato de a estrada passar várias horas por dia com engarrafamento constante, que poderia até diminuir a gravidade dos acidentes, é compensado por tantas outras horas de volume de fluxo extremamente alto.

– Quando o trânsito não está parado ali, as pessoas dirigem de forma maluca, em altíssima velocidade. A presença de muitos caminhões também aumenta a exposição e a probabilidade de acidentes graves – diz.

Outro fator importante é de que a rodovia federal passa no meio de muitas cidades e, por isso, tem intensa travessia de pedestres, causando um aumento potencial de atropelamentos.

No segundo semestre de 2011, foram instaladas câmeras de monitoramento no trecho entre Porto Alegre e Novo Hamburgo, o que reduziu em três vezes o número de mortes no último trimestre do ano. De 12, em 2010, para quatro em 2011.


ENTREVISTA. “Dirigir está mais seguro”. Mauri Panitz, consultor de trânsito

Ex-professor universitário, o engenheiro Mauri Panitz, 69 anos, presta consultoria para concessionárias e vê como tendência um trânsito com menos mortes. Confira trechos da entrevista:

Zero Hora – Os números mostram aumento no número de acidentes e a redução, inédita, no número de mortes. As duas coisas são tendências?

Mauri Panitz – Sim, elas ocorrem devido a mais de um fator. Mas dirigir está mais seguro.

ZH – Quais são os fatores?

Panitz – São três: o fator veicular, o fator humano e o fator viário-ambiental. Eu mesmo fiz um plano para as concessionárias do Estado. Uma série de medidas primárias de segurança no trânsito que recomendei, lá em 1998, e eles foram paulatinamente adotando.

ZH – O que foram essas medidas?

Panitz – São a melhoria na sinalização, terceiras faixas, melhoria das interseções, melhorias nos acostamentos, colocação de milhares de metros de defensas (contenção viária). Isso fez com que, em 10 anos, houvesse uma redução de 50% nas mortes na rede concedida. Isso é um efeito da aplicação de tecnologia nas estradas. Inclui também a própria melhoria nos traçados.

ZH – E isso ajuda na sobrevivência das pessoas apesar do maior número de acidentes.

Panitz – Sim, em vez de cair em um barranco, a pessoa é segura por uma barreira, uma defensa. O acidente ocorre, mas a vítima não morre.

ZH – E os outros dois fatores, o viário-ambiental e o humano?

Panitz – A tecnologia dos automóveis é um fator. Entrou uma grande quantidade de carros na frota, por isso os acidentes não param. Mas há uma tecnologia incorporada à frota, com melhores freios, melhores sistemas de segurança em geral. Com carros desse tipo, um maior número de pessoas deixa de morrer. Temos também a melhoria no comportamento. Pardais e blitze, apesar dos pesares, funcionam.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Se o Brasil fosse realmente um país democrático, a sociedade já deveria receber informações transparentes fornecidas por institutos de dados, independentes do Estado, capazes de levantar e publicar dados oficiais, em especial os referentes a trânsito, justiça e segurança pública. O problema é que os números oficiais são sempre maquiados para justificar a "eficiência" do partido que detém o poder no momento. Enquanto isto, o povo continua adormecido e confiante nos seus governantes.

Nenhum comentário: