sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

A FAVOR DOS FLANELINHAS


Juremir Machado da Silva - correio do povo, 13/01/2012

Novo Hamburgo proibiu os flanelinhas. Vai botá-los na cadeia? Porto Alegre quer regulamentar a profissão de flanelinha. Dois enfoques, dois mundos. Novo Hamburgo é administrada pelo PT. Porto Alegre por PDT e PMDB. Os petistas, tradicionais defensores dos chamados, segundo o clichê, fracos e oprimidos, não deveriam ser os principais defensores dos "guardadores" de carros nas ruas? O problema é interessantemente complexo. Eu já fui contra os flanelinhas baseado na ideia pertinente de que a rua é um espaço público e ninguém pode, salvo o ente público, cobrar pelo uso do que é de todos. É um legalismo correto. A vida, porém, vai além dos legalismos formalistas, que podem ser corretos, mas não justos. Nem realistas. O flanelinha é um produto da desigualdade.

Tentar reprimi-los é guerra perdida. Não imagino que exista possibilidade legal de prendê-los e de mantê-los na cadeia. Mesmo que houvesse essa possibilidade, seria injusto e imoral num país em que os crimes de verdade não geram grandes punições. Vai botar na cadeia um flanelinha enquanto o crime de colarinho branco corre solto? Vai criar uma brigada de caça ao flanelinha enquanto os grandes criminosos passeiam de jatinho? Fala sério! Proibir os flanelinhas é um legalismo idiota. E fadado ao rotundo fracasso. Os flanelinhas existem porque a sociedade não consegue dar-lhes outra perspectiva. Num país em que as altas taxas de juros fazem redistribuição de renda em favor dos banqueiros, flanelinha é mal menor. Melhor organizá-los. A contribuição dada pelos motoristas aos flanelinhas é uma modalidade de distribuição de renda. Ajuda a diminuir o conflito entre os desiguais.

Se eu fosse vereador, apresentaria um projeto de lei: acabar com as áreas azuis e entregar tudo para os flanelinhas. O dinheiro dado aos flanelinhas jamais é desviado do destino original. É uma modalidade de participação dos indivíduos no funcionamento da cidade. Democracia direta. Não é diferente das leis de incentivo à cultura em que o Estado abre mão de impostos que são aplicados diretamente pelas empresas em obras e artistas escolhidos por elas. O flanelinha pode ser visto também como uma terceirização informal de serviços de estacionamento em vias públicas. Dispensa licitação, propina e burocracia, cria empregos, diminui a criminalidade e evita o inchaço do funcionalismo. O secretário César Buzatto quer legalizar os flanelinhas.

O flanelinha é duplamente útil: protege os carros de assaltantes e dele mesmo. Reafirmo: o flanelinha tem função social. Além disso, obriga o motorista a sair do seu egoísmo de classe e a colaborar com os mais desfavorecidos, gerando um sistema de solidariedade social informal, negociado e eficaz. O flanelinha faz parte da autogestão de uma cidade. Corta caminho. Se o Estado vai arrecadar para depois redistribuir como ajuda social, melhor ir direto ao ponto, ainda mais que se trata de uma ocupação, de um trabalho, com expediente, troca de turno, organização e segurança. Daí a minha nova campanha: deixem o pobre do flanelinha trabalhar em paz.

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