Imagens mostram detalhes da discussão de trânsito que terminou em tragédia - Saulo Araújo e Ana Pompeu - correio braziliense, 18/01/2012 06:50
Novas imagens divulgadas pela Polícia Civil do Distrito Federal revelam o momento da discussão de trânsito que resultou na morte do estudante de gastronomia Fernando Cavalcante da Silva, 32 anos. Ele foi baleado duas vezes pelo sargento da Polícia Militar Renato Campos, 34 anos, na madrugada do último domingo, em uma das pistas marginais da Via Estrutural. Câmeras de segurança de um condomínio residencial, apreendidas pelos investigadores do caso, gravaram a vítima e o irmão, João Paulo Cavalcante, 22 anos, avançando contra o policial, que se afasta e dispara contra os jovens.
Os três vídeos, que somam mais de uma hora de duração, podem ajudar a explicar os motivos que transformaram um simples acidente em tragédia. As primeiras cenas, registradas por volta das 3h30, sugerem que João Paulo estava acima da velocidade permitida da via, de 60 km/h, e acerta a traseira do carro do sargento, um Opala, que passava por um quebra-molas. João Paulo engata a ré do Polo e começa a subir a via na contramão, mas bate em um meio-fio. Logo em seguida, o veículo do sargento se aproxima.
Parte das gravações mostram que os dois conversam por cerca de 40 minutos, mas não conseguem se entender. Os ânimos ficam exaltados. Em seguida, o estudante faz uma ligação e, poucos minutos depois, chegam em seu auxílio o irmão Fernando, acompanhado da mulher dele, grávida de nove meses, e um primo.
A partir daí, as versões divergem. Ao Correio, o militar contou que tentou convencer João Paulo a acompanhá-lo até a delegacia mais próxima para registrar ocorrência do acidente, mas o jovem teria se negado. Já parentes de João Paulo e de Fernando disseram que o sargento estava descontrolado. Por meio das imagens, não é possível saber ao certo quem iniciou o bate-boca. No entanto, uma das cenas revela Fernando e João Paulo andando em direção ao sargento, que saca a pistola calibre .40 da cintura e tenta manter a dupla distante.
Os irmãos parecem não se intimidar com a arma. O policial militar dispara primeiro na perna de Fernando. Mesmo ferido, o estudante parece tentar desarmar Renato Campos. O PM atira novamente, dessa vez na perna de João Paulo. Mesmo assim, João Paulo segura o braço do PM, que consegue se desvencilhar e puxa o gatilho mais uma vez. As próximas imagens, feitas de uma outra câmera, mostram os três brigando no chão, em frente a um portão do Condomínio Reluz, em Vicente Pires. Na sequência, o policial corre. As câmeras não mostram pelo menos mais dois tiros saídos da pistola do PM, com mais de 15 anos de profissão.
Fernando foi atingido por dois disparos, um no abdômen e outro na perna. Morreu no local. Informações levantadas pela reportagem apontam que o exame cadavérico é conclusivo. O ferimento na coxa determinou a morte da vítima. João Paulo permanece internado no Hospital Regional de Taguatinga (HRT). Ele se recupera bem da cirurgia para a extração dos projéteis que o atingiram na perna direita e na barriga.
Acareação
Afastado das funções no Batalhão de Polícia Ambiental (BPMA), o sargento Campos lamentou o episódio e garantiu ter adotado todos os procedimentos de uso progressivo da força, segundo ele, insuficientes para manter Fernando e João Paulo afastados. “As imagens mostram bem o que ocorreu. Eu agi em legítima defesa. Não queria tirar a vida de ninguém, só atirei para me defender”, afirmou o policial (leia entrevista).
O delegado adjunto da 17ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Norte), Bruno Cunha, prefere esperar a conclusão da perícia para expor o seu entendimento sobre o episódio, mas adiantou que a versão do sargento condiz com as imagens analisadas. “Quando uma pessoa demonstra agressividade, ela atira sequencialmente, ao contrário da forma como reagiu o policial, que atirava e se afastava antes de efetuar um novo disparo”, afirmou.
Como as versões das partes divergem, o investigador fará uma acareação entre os envolvidos na briga. Cunha ainda espera o resultado da perícia e do exame cadavérico para concluir o inquérito policial, que deve ser feito em um prazo de 30 dias. Até agora, o delegado só não conseguiu ouvir o depoimento de João Paulo, que deve ocorrer quando ele receber alta hospitalar. O policial Renato Campos pode ser indiciado por homicídio culposo (sem intenção de matar) ou doloso (com intenção), a depender da interpretação da autoridade policial. Ele deve passar por tratamento psicológico.
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