segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

FOTO A 170 KM/H

G1 FANTÁSTICO 01/12/2013 21h18

‘Nunca me preocupei em risco com ela’, diz pai de jovem de foto a 170 km/h. Fantástico teve acesso à última foto registrada num celular, dentro do carro. Ela mostra o velocímetro em 170 km/h, acima do permitido em qualquer estrada brasileira.



O Fantástico deste domingo descobre motoristas viciados no perigo! Isso, numa semana marcada por muitos acidentes:atropelamento, batidas graves, capotamento.

Na Rodovia Padre Manoel da Nóbrega, em Itanhaém, no Litoral de São Paulo, o asfalto foi marcado por uma freada.

O que explica alguém perder o controle desse jeito? Sair bruscamente da pista da esquerda, cruzar a da direita, o acostamento, entrar por uma área gramada e simplesmente decolar, bater - voando mesmo- contra uma pilastra. Este caso ainda está sendo investigado, mas tudo aponta para alta velocidade.

Quem viu, de perto, não tem dúvidas. Miriam e Moisés estavam na porta do mercadinho, logo em frente.

“Velocidade alta. Vimos vindo e não sabia se o carro ia vir pra cá, se ia colidir lá na viga”, diz o comerciante Moises Ebert da Eira.

O filho deles, de sete anos, também viu tudo.

“Meu filho começou a gritar: - ‘mãe, eu não quero dirigir quando eu crescer, eu não quero dirigir”, conta a comerciante Mirian Costa Chaves.

O Fantástico teve acesso à última foto registrada num celular, dentro do carro. Ela mostra o velocímetro em 170 km/h, bem acima do permitido em qualquer estrada brasileira. Muito abaixo do que você vai ver a partir de agora.

Atingir 300 km/h, como no vídeo mostrado na reportagem, não é novidade entre turmas que se reúnem num shopping, na Rodovia dos Bandeirantes, entre São Paulo e Campinas. É um ponto de encontro de motoqueiros, principalmente nas manhãs de domingo.

A nosso pedido, um perito usa um radar portátil para medir a velocidade dos veículos que passam. O radar marca as velocidades de 162 km/h, 174 km/h, 182 km/h, 213 km/h.


Velocidade pura ou por competição. Os rachas são chamados de "Bandeirantes Moto GP", referência ao Moto Grand Prix, o campeonato mais importante do motociclismo mundial. Mas isso, no meio de uma rodovia movimentada, cheia de famílias, num dia de folga.

“A conduta imprudente dele traz risco a ele e ao próximo, que muitas vezes tá transitando e tomando as precauções”, disse o Tenente Aldemir Tomas Bravo da Polícia Militar. Rodoviária.

Num vídeo mostrado na reportagem, a correria é também sobre quatro rodas. O carro chega perto de 280 por hora. Costurando entre as faixas da rodovia. A passageira incentiva e elogia. O motorista zomba das motos que deixou pra trás. Mas, no final, cumprimentos. São todos parceiros.

Mas quem é Luciano? O carro do vídeo está no nome de um parente de Luciano Simões Neto, que é quem usa o veículo em competições amadoras. O Fantástico tentou falar com ele. Mas quando se identificou, a ligação foi interrompida.

Sumiram da internet vídeos como um em que Luciano lança um desafio. "Careca terrorista" é o apelido daquele motociclista do vídeo a 300 por hora, que encontramos neste fim de semana no interior de São Paulo. Sem mostrar o rosto, ele e um amigo, conhecido como "Abusadão 299", falaram sobre velocidade.

“Pra mim é a melhor coisa do mundo, cara. Não tem, a melhor sensação que existe. É uma coisa que te deixa com um êxtase muito bom. Não tem como explicar. A adrenalina é muito boa”, disse Abusadão.

“Você não vê a velocidade que tá, a hora que vê já está chegando a 330. Medo eu tenho, que é perigoso. Tem os carros na pista, tudo, com família. Mas não tem outro lugar pra andar. Eu ando na estrada devido ao custo de andar no circuito fechado”, disse Careca.

“Não pretendo parar. Eu não vou largar uma paixão minha, um hobby, meu lazer, pra ficar preso dentro de casa”, afirma Abusadão.

Para o advogado especialista em trânsito Maurício Januzi, os vídeos são provas de crimes.
“Que crime? Direção perigosa. Vai preso? Nunca!”.

Ele explica que a maioria dos casos não vai além de multas, apreensões de veículos e de carteiras. E mesmo se houver prisão, a pena máxima é de três anos, que acaba sendo cumprida em regime aberto. Mas o que seria o ideal?

“Pena mínima de quatro, pena máxima de oito. Por que? Porque se ele for condenado a quatro, ele vai começar a cumprir no semi aberto. Ele vai passar um tempo na cadeia pra refletir sobre essa conduta”, destaca o presidente da comissão de trânsito da OAB/SP, Maurício Januzi.

E a própria publicação das imagens também é crime.

“A partir do momento que eu posto isso nas rede sociais, eu to incentivando a prática de crimes, que é um outro crime: incitação ao crime, chama no código penal”, disse o advogado.

O que nos leva novamente ao caso de Itanhaém. Do carro daquela foto a 170 km/h, que nem chegou a ser enviada.

O mundo da alta velocidade, legal ou ilegal, costuma ser associado a carrões, motores possantes. Mas esses destroços são de um carro popular, modelo 1.0. O próprio sexo de quem estava no volante não deixa de ser surpreendente.

Giovana Dias de Souza Alves morreu uma semana antes de completar 20 anos, na segunda feira passada. Meses atrás, ela já tinha publicado na internet uma foto a cento e oitenta por hora.

“Ela tirou a foto, uma outra pessoa dirigindo. Mas ela não estava dirigindo”, disse a tia de Giovana, Silvana Dias.

A família, desolada, diz que Giovanna era uma jovem tranquila, prudente, estava no caminho entre o trabalho e a faculdade.
“A gente só se pergunta a todo dia, toda hora, cada minuto, pergunta, o que aconteceu, o que está acontecendo. A gente tá perdido, a gente tá procurando uma resposta”, conta a tia da menina.

Todos resistem à ideia de um comportamento irresponsável.

“Eu já andei muito com ela, a minha profissão é motorista, por aí vocês tiram uma ideia. Eu nunca me preocupei em risco com ela”, disse o pai da jovem, Manoel Messias Alves.

“Tudo bem que a velocidade complicou, complica tudo. Mas eu acho que é mais essa parte de celular, que hoje eles não esperam nada, tem que ser tudo na hora, tudo instantâneo. O que um está fazendo, o outro tem que saber”, disse o tio Vinícius Santos Lima.

“Que a vida dela, nosso sofrimento, não seja em vão, porque é um aviso”, destaca o pai.

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