sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

ROLETA RUSSA NA RODOVIÁRIA DE PORTO ALEGRE


TRAVESSIA PERIGOSA. Com obra de recuperação de passarela emperrada pela burocracia, ZH acompanhou ontem o desafio de pedestres para cruzar uma das mais movimentadas vias da Capital. E a obra só sairá no próximo ano - ANDRÉ MAGS, ZERO HORA 02/12/2011

No meio de seis faixas abarrotadas de veículos, com a filha de um ano e quatro meses no colo e de mão dada com o filho de seis anos, Francisco da Silva Pedroso, 24 anos, tomou um cavalete nas mãos e decidiu enfrentar o trânsito na Rua da Conceição, no centro da Capital, na manhã de ontem. O destino era a rodoviária, mas a interdição da passarela, a pressa e o alegado esquecimento da passagem alternativa pela Estação Rodoviária da Trensurb o levaram ao caminho menos recomendável. Acabou preso no meio de carros, ônibus e caminhões.

– Eu vi que dali não ia sair – disse.

Com o cavalete da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), bloqueou faixa após faixa, ouvindo buzinaços e xingamentos dos motoristas, até chegar são e salvo ao outro lado com Enrique e Maria Luiza. Minutos depois, dois cadeirantes se propuseram ao mesmo desafio de atravessar a Conceição. Boquiabertos, pedestres acompanharam a dupla avançar com toda a velocidade que seus braços podiam imprimir. Para alívio de todos, eles conseguiram. O aposentado Paulo Ricardo Antunes Teixeira, 41 anos, estava indignado.

– Antes, eu atravessava a passarela. Se o cara se descuida, já era, porque os carros não param. É uma loteria – desabafou o cadeirante.

Pedroso e Teixeira estão entre as dezenas de pessoas que diariamente se colocam a um passo da tragédia devido à interdição da passarela, em 18 de outubro, após o choque de um caminhão contra a estrutura. Entre as 11h45min e as 12h45min de ontem, ZH constatou que 34 pessoas fizeram o percurso. São alvos potenciais de atropelamentos como o que matou José Carlos Moreira, 51 anos, na tarde de quarta-feira.

Sinalização ainda é insuficiente

A região é uma das principais portas de entrada da cidade. Circulam diariamente pela rodoviária 30 mil pessoas. Cerca de 15 mil vêm do Interior e, às vezes, param, perdidas, em frente à passarela.

– Estava chegando agora de Caxias, e vejo essa passarela fechada. Não sei como vou pegar o ônibus do outro lado – reclamou o técnico em radiologia Renato Félix, 50 anos.

A interdição está bem sinalizada, com uma placa em cada acesso à passarela, duas nas saídas da rodoviária e outra do outro lado da rua. Há indicação sobre o caminho alternativo na estação, aberto 24 horas por um acordo com a prefeitura – a reportagem de ZH levou três minutos e 44 segundos para ir do acesso principal da rodoviária à saída do túnel na esquina da Rua da Conceição com a Avenida Julio de Castilhos.

Para o forasteiro, porém, as informações sobre o traçado subterrâneo podem ser insuficientes. Na estação, por exemplo, não há um cartaz mostrando qual o caminho a seguir para quem quer ir para o Centro. Gerente de Operações da Trensurb, Rubenildo Ignacio admitiu que a sinalização pode ser melhorada para evitar que os incautos tomem o rumo do asfalto apinhado de veículos.

Uma pessoa é morta atropelada por semana - ROBERTA SCHULER

Quatro em cada 10 mortes no trânsito da Capital, de janeiro até setembro deste ano, foram por atropelamento. A triste estatística dá conta de que uma pessoa perdeu a vida a cada semana ao tentar cruzar a rua. No total, foram mais de cem mortes no trânsito no período.

Conforme levantamento da EPTC, os 988 atropelamentos ocorridos até setembro resultaram em 42 mortes. Grande parcela das vítimas tinha mais de 60 anos. A maior parte dos casos ocorreu na Zona Leste, com tempo bom, à tarde, envolveu automóveis e vitimou mulheres. A média de idade das vítimas é de 76,6 anos. E o número não para de crescer. Em novembro, mais cinco pessoas morreram.

Para a presidente do Conselho Municipal do Idoso, Maria Elena Estrazulas, a distração, a falta de cuidado e o excesso de confiança são algumas das possíveis explicações para tantas mortes de velhinhos.

A época considerada de maior risco é o fim de ano, quando há mais pessoas e carros nas ruas. Por isso, a EPTC intensificou a fiscalização do trânsito e o trabalho educativo focado na terceira idade, com abordagem individual dos pedestres e palestras.

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