quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

A ESTREIA DE SIMULADORES NO RS

ZERO HORA 09 de janeiro de 2014 | N° 17668

ROBERTO AZAMBUJA

TESTE REAL

Centros de Formação de Motoristas começam a instalar equipamentos obrigatórios para os candidatos a nova habilitação


No meio da pista, surge um rebanho de ovelhas. O tempo muda, e começa a chover. O para-brisa entra em ação para limpar o campo de visão, embaçado pela água no vidro. Agora é o terreno que muda, o que era asfalto vira brita, e o volante treme como se fosse estrada de chão batido.

Omotorista está sentado confortavelmente no banco de um carro, mas à sua frente três televisores de tela plana e 32 polegadas transmitem diferentes situações vividas no dia a dia a bordo de um automóvel. Como se estivesse imerso em um fliperama, ao final do trajeto, o condutor recebe a lista de infrações e manobras perigosas feitas nos 30 minutos de prática.

No CFC Rumo Certo, em Gravataí, foi feito ontem o primeiro teste de integração dos simuladores de direção ao sistema do Departamento Estadual de Trânsito do RS (Detran-RS). Os equipamentos passaram a ser obrigatórios em Centros de Formação de Condutores (CFCs) do país no início do ano. Segundo resolução do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), novos condutores de categoria B (automóveis) devem realizar cinco aulas de 30 minutos em simuladores de direção, ao custo de R$ 235,30. Com isso, o preço da carteira de habilitação terá um acréscimo de cerca de 20% (de R$ 1 mil para R$ 1,2 mil aproximadamente).

Dados serão transmitidos em tempo real para o Detran

As aulas serão monitoradas por câmeras nas salas dos CFCs, e os dados da simulação serão transferidos em tempo real para o Detran. Apesar do processo de adequação ter começado nos primeiros dias de 2014, não deve haver atrasos na entrega de novas licenças, segundo o coordenador de habilitação do Detran-RS, Jonas Bays. A medida passou a valer para alunos que se inscreverem nos CFCs a partir de 2 de janeiro e precisam realizar exame médico e psicológico, 45 horas/aula de curso teórico e a prova teórica antes de partir para o equipamento. Quem iniciou o processo antes desta data não é obrigado a usar o simulador.

– A primeira impressão é de que o simulador seria inócuo, mas parece bem interessante. Porém, evidentemente, a realidade virtual deixa muito a desejar à situação real – observa o engenheiro e especialista em trânsito Walter Kauffmann Neto.

O presidente do Sindicato dos CFCs e Auto e Moto Escolas do Estado (SindiCFC), Edson Cunha, dono do CFC Rumo Certo, acredita que a maioria dos centros já terá adquirido os simuladores até o final de janeiro. São 273 unidades no Rio Grande do Sul, que habilitam 57 mil condutores por mês.

– Pelo menos estarão na fase final de implantação – diz Cunha.

Contudo, no Brasil existem quatro empresas homologadas pelo Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) para fabricar os equipamentos – uma delas a Real Drive, de Caxias do Sul – ao custo de R$ 40 mil. Alguns CFCs estão adquirindo os simuladores em consórcios ou em forma de comodato, no qual alugam o simulador e pagam à empresa por horas de aula.


TIRE SUAS DÚVIDAS

Quem será obrigado a ter aulas com simulador?
Todos os alunos que pretenderem tirar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH), categoria B (automóveis), e iniciaram o processo a partir de 2 de janeiro de 2014. As aulas ocorrerão após aprovação na prova teórica.

Iniciei o processo em 31 de dezembro de 2013 e ainda não fiz as aulas práticas. Serei obrigado a passar pelo simulador depois da prova teórica?
Não. Os aspirantes a condutor que já iniciaram o processo da primeira habilitação antes do dia 2 de janeiro não precisam fazer aulas com o simulador.

Eu pagarei mais caro pela CNH?
Sim. Quem iniciou o processo da primeira habilitação a partir de 2 de janeiro terá de realizar cinco aulas de 30 minutos extras no simulador, após aprovação na prova teórica, ao custo de R$ 47,06 por exercício. Ao todo, o acréscimo será de R$ 235,30, cerca de 20% a mais do valor atual de uma carteira de motorista.

Pessoas que necessitam de veículos adaptados precisarão realizar as aulas?
Não, até que o Conselho Nacional de Trânsito publique a regulamentação específica.

Os CFCs terão os simuladores até quando?
De acordo com o SindiCFC, a maioria terá o equipamento até o final de janeiro. As unidades devem entrar em contato direto com as empresas fabricantes. Aqueles que não conseguirem adquiri-lo até o início das primeiras aulas podem fazer uso compartilhado com outros centros, desde que da mesma cidade.

A OPINIÃO DE QUEM EXPERIMENTOU

VANESSA DA SILVA RIBEIRO
, 29 anos, auxiliar de produção e aluna do CFC - A princípio, está sendo uma boa ideia, para quem nunca dirigiu e não tem noção do trânsito. Tenho moto, já peguei chuva, frio. O legal é que simula chuva, nevoeiro. E, fazendo uma aula prática, daqui a pouco a pessoa não encontra isso. Pode pegar todos os dias de sol e tempo bom. Passei por uma rua que era de brita e senti a direção tremer, como se estivesse em estrada de chão. A sinalização é bem visível, o carro passa por faixa de pedestre, cruzamentos. Achei bem interessante essa ideia. Não posso dizer que notei diferença porque nunca dirigi um carro. Se é para a pessoa ter uma noção de tempo e direção, vale a pena pagar. Até porque, quando começar a aula prática, vou saber onde se liga o sinal, as marchas, o limpador de para-brisa. Tendo essa simulação, dá para saber mais ou menos como é o trânsito.

WALTER KAUFFMANN NETO (na foto, ao volante), engenheiro e especialista em trânsito - O primeiro contato com o simulador foi bastante surpreendente. Em si, ele tem diversas diferenças em relação ao comportamento de um automóvel real. Porém, o software é muito bem planejado e coloca a pessoa em situações de risco que se tem contato no dia a dia. Eu vivenciei situações de chuva, de animais atravessando a pista, de veículo acidentado, de emergência em poucos minutos que manipulei o aparelho. O simulador expõe o aluno a situações de realidade em via urbana. Em termos de realidade virtual, deixa muito a desejar, evidentemente, comparado a uma situação real. Porém, acredito que o objetivo seja um contato didático com situações de perigo do dia a dia. Como sistema de educação complementar para o trânsito, ele tem uma utilidade bastante boa.

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