segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

ACIDENTE ENTRE ÔNIBUS, CARRETA E TRATOR DEIXA PELO MENOS 11 MORTOS NA BR 110

R7 - 27/1/2014 às 14h38


Acidente entre ônibus, carreta e trator deixa pelo menos 11 pessoas mortas na BR 110. Segundo informações da Nucom, os dois sentidos da rodovia foram fechados

Do R7


Segundo a PRF, 21 pessoas ficaram feridas no acidenteReprodução/Record Bahia


Carreta carregava trator, que se soltou e colidiu contra o ônibusReprodução/Record Bahia

Um acidente envolvendo um ônibus, uma carreta e trator na manhã desta segunda-feira (27), deixou pelo menos 11 pessoas mortas, na BR 110.

Segundo informações da Nucom (Assessoria de Comunicação da Polícia Rodoviária Federal), um caminhão transportava um trator, quando o veículo se soltou e colidiu com um ônibus entre os km 310 e 315, próximo ao município de Inhambupe.

O ônibus da empresa Gontijo estava com 27 passageiros. O veículo saiu da cidade de São Paulo com destino a Paulo Afonso, na Bahia, segundo a assessoria de comunicação da Prefeitura de Alagoinhas.

Inicialmente, a PRF (Polícia Rodoviária Federal) informou que sete pessoas morreram, mas os dados foram atualizados para 11 mortes. Ainda de acordo com o órgão, 21 pessoas ficaram feridas, entre elas duas crianças.

A secretaria de saúde de Alagoinhas, município próximo ao local do acidente, informou que 14 feridos deram entrada ao Hospital Dantas Bião, oito em estado grave. Segundo a secretaria, seis pessoas estão passando por cirurgia. Quatro foram transferidos para o HCA (Hospital das Clínicas de Alagoinhas).

Ainda segundo o órgão, por conta do acidente, os dois sentidos da rodovia foram fechados. O Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) foi encaminhado para o local.

sábado, 25 de janeiro de 2014

MOSTRANDO A CARA





ZERO HORA 25 de janeiro de 2014 | N° 17684

ARTIGOS

por Aline Doral Stefani Fagundes*




Impressionante o efeito que o carro tem sobre as pessoas. Dentro dele, todas as regras de etiqueta se transmudam, dando lugar a uma terra de bárbaros, onde tudo se justifica em nome da loucura do trânsito. Para começar, não é o trânsito que está louco. O que é o trânsito, senão nós mesmos? Assim como o engarrafamento: não estamos nele, nós somos ele.

Enganada pelo ponto cego do retrovisor, saí de uma vaga junto ao meio-fio sem perceber uma Kombi avançando na minha direção. O motorista – mais atento do que eu – freou bruscamente ao mesmo tempo em que colou a mão na buzina. Nada que eu não merecesse. Ciente da minha falha, segui até parar ao seu lado na sinaleira e abri o vidro para pedir desculpas. Ao me ver abrindo o vidro, e antes que eu pronunciasse qualquer palavra, o motorista me olhou enfurecido e rosnou agressivo: “O que é que foi?”. Encolhida, agradeci pela atenção e baixa velocidade dele, sem as quais teríamos colidido. No mesmo momento, a face vermelha de cenho enrugado deu lugar a um largo e doce sorriso: “Capaz! Não foi nada! Acontece!”. A minha bandeira de paz permitiu que ele visse o óbvio: de fato, acontece. E ainda bem que não foi nada mesmo. O motorista se postou em posição de combate porque a regra geral no trânsito é revidar com violência, com ou sem razão. O curioso é que as mesmas pessoas em um contexto equivalente, porém a pé, não teriam, via de regra, uma reação semelhante.

A internet também é palco de reações parecidas. Nada como poder clicar no botão de fechar para simplesmente encerrar uma conversa. Também é uma mágica fascinante deletar uma postagem desagradável, como uma versão virtual de um “cala boca”. Comentários rudes, então, saem com a mesma facilidade de quem declama um poema, pois dá para fazer tudinho sem olho no olho, sem ver os olhos brilhando, o nó se formando na garganta e sem ter que encarar o espanto de reprovação diante de tamanha descortesia. E se a matéria for futebol, o festival de coices é de dar inveja no mais pirracento dos quadrúpedes. É bem verdade, por outro lado, que a internet é uma mão danada na hora da cantada. Todo mundo vira Dom Juan, porque, na pior das hipóteses, vai ter que administrar a dor de um bloqueio. Nada mal.

E eu que achava que só o papel – no meu caso, os processos – promovia essa distância. Petições iniciais e contestações cravejadas de xingamentos dão lugar, na sala de audiências (nem sempre, é claro), a um formal e suave data venia. Nada como ter que mostrar a cara, sem estar protegido pelo carro, pela internet ou pelo processo.

Neste ano, desejo dirigir como se estivesse a pé e escrever como se estivesse falando. E desejo sempre lembrar que “obrigado”, “por favor”, “desculpa” e “com licença” persistem depois que a porta do carro se fecha.




*JUÍZA DO TRABALHO SUBSTITUTA

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

PARA ENTIDADES, VERBA PARA CAMPANHAS É INSUFICIENTE



ZERO HORA 24 de janeiro de 2014 | N° 17683

DETRAN-RS


Entidades criticam e consideram baixos os investimentos do Detran em campanhas educativas e de prevenção a acidentes no trânsito. Ontem, reportagem de ZH mostrou que, no ano em que a autarquia aumentou sua arrecadação em 47,6% e o “lucro” em 151,5%, as despesas com ações de segurança cresceram em ritmo menor: 27,8%, totalizando R$ 15,8 milhões.

Gerente institucional da Fundação Thiago Gonzaga, Ana Maria Dall’Agnese acredita que, para uma redução drástica nas estatísticas de mortes nas estradas, é imprescindível que os valores aplicados sejam maiores. Para ela, as ações de conscientização devem ocorrer não apenas em operações nas ruas, como o Balada Segura, mas parte de um processo permanente, desde a Educação Infantil.

– Enquanto o governo não tirar isso do papel, infelizmente vamos nos conformar com os números de mortes no trânsito. Queremos e precisamos de mais investimentos, e o Estado tem dinheiro para fazer mais.

O advogado Pablo Weiss, membro da Associação de Ciclistas de Porto Alegre, reclama do desleixo do Detran com o segmento. Segundo ele, ações voltadas para promover a boa convivência entre carros e bicicletas – que conta com um número crescente de adeptos – praticamente inexistem.

– Muitos acham que lugar de bicicleta é na calçada, junto com o pedestre, e não na mesma pista de rolamento. Não é o que diz o Código de Trânsito Brasileiro – reclama.

Conforme o presidente do Detran, Leonardo Kauer, desde 2010, houve uma queda de 10% nos acidentes com morte nas estradas. Para este ano, a autarquia projeta investir R$ 34,2 milhões em ações e campanhas de educação para o trânsito.


CAIXA REFORÇADO

Ao cobrar taxas mais altas, departamento engordou finanças em 2013

- No primeiro ano em que vigoraram as novas taxas do Detran, a arrecadação do órgão aumentou 47,6% em relação a 2012, alcançando R$ 1,1 bilhão.

- No mesmo período, o superávit (“lucro”) foi de R$ 430 milhões e, ao parar no caixa único, ajudou o Piratini a bancar despesas gerais.

- A autarquia aplicou R$ 15,8 milhões em 2013 em campanhas de educação no trânsito, valor 27,85% superior ao investido no ano anterior.

- O projeto do Piratini que autorizou o aumento das cobranças do Detran elevou algumas taxas cobradas dos motoristas em até 140%.


Balada Segura é a principal ação preventiva da autarquia no Estado


COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - A Balada Segura não é uma ação preventiva, mas puramente repressiva, por ser uma blitz para multar e encaminhar à polícia os infratores sob substância alcoólica. Campanhas educativas são realizadas com ações informativas, cursos, seminários, palestras, orientações, direção defensiva, entre outros eventos promovidos para prevenir, educar e criar uma cultura de segurança e paz no trânsito. Além disto, fazem parte da prevenção uma permanente fiscalização da sinalização e segurança das vias públicas e a presença do policiamento ostensivo e discreto nos trechos onde são maiores de riscos de acidente conforme diagnóstico periódico.

MP INVESTIGA DETRAN-RS POR DANO AO ERÁRIO

ZERO HORA 24 de janeiro de 2014 | N° 17683

CLEIDI PEREIRA


SALAS VAZIAS. MP investiga Detran por aluguel

Promotor vê possível dano ao erário, questiona órgão e deve abrir inquérito sobre locação de sete andares de prédio na Capital



A Promotoria de Defesa do Patrimônio Público deve instaurar um inquérito civil para apurar suspeita de irregularidade na locação de sete andares no Edifício Cosmopolitan Center, em Porto Alegre, pelo Detran. Desde maio de 2013, a autarquia já gastou R$ 1,5 milhão em aluguel e condomínio, mas só ocupa um dos andares contratados, onde atuam servidores da divisão de informática.

Após ZH mostrar ontem os detalhes da operação, o titular da promotoria, Nilson de Oliveira Rodrigues Filho, disse que o assunto está sendo investigado pelo Ministério Público. Nos próximos dias, o promotor irá se debruçar sobre os documentos encaminhados pelo Detran no início do mês, requisitados após receber uma denúncia em novembro. Mas já adianta que as justificativas são “muito vagas”. A dispensa de licitação para o contrato também será objeto de análise, bem como o valor da locação.

– O não uso, por vários meses, de todo o imóvel é um indicativo de, no mínimo, má gestão, com possível dano ao erário. Existe esse indício – avaliou.

Depois de o episódio vir à tona, Ministério Público de Contas (MP de Contas) e o Tribunal de Contas do Estado (TCE) também decidiram agir. Devido à repercussão, a auditoria do TCE no Detran será antecipada para as próximas semanas. Já o procurador-geral do MP de Contas, Geraldo da Camino, pediu à autarquia, ontem, informações sobre o contrato, como a motivação da escolha do prédio e a ocupação atual da estrutura.

– O fato é incomum, e a gente precisa avaliá-lo em auditoria – informou o diretor de Controle e Fiscalização do TCE, Léo Richter.

O espaço alugado no Edifício Cosmopolitan Center deveria receber funcionários da autarquia que hoje estão divididos em outros prédios, entre eles o da Secretaria da Segurança, também no Centro. O Sindicato dos Servidores do Detran (Sindet) reclama das condições precárias de trabalho.

Na quarta-feira, em entrevista a ZH, o presidente do Detran, Leonardo Kauer, informou que mais quatro andares locados serão ocupados por parte dos funcionários do órgão até o final de março, quando estarão concluídas reformas no piso, divisórias e cabeamento. Já a ocupação do 2º e do 3º andares demorará ainda mais tempo devido à necessidade de contratar, por licitação, uma obra de engenharia.



ENTENDA O IMPASSE

Autarquia paga locação desde maio de 2013, mas só usa 15% da área

- Em maio do ano passado, o Detran assinou contrato para alugar parte do Edifício Cosmopolitan Center, que fica localizado na Rua Júlio de Castilhos, nº 505, em Porto Alegre.

- Sete dos 17 andares foram alugados pelo Detran. Os outros são ocupados por empresas privadas e, no térreo, por uma agência do Banrisul.

- Em oito meses, porém, o Detran ocupou só um dos sete andares locados. No espaço, trabalham funcionários da divisão de informática da autarquia.

- O 17º andar do prédio, único ocupado pelo órgão, custa R$ 27 mil mensais, conforme o contrato. Se alugasse só esse espaço, o Detran teria gasto R$ 243 mil – sem considerar a despesa com o condomínio – de maio de 2013 a janeiro deste ano.

- Em entrevista a Zero Hora, o presidente do Detran, Leonardo Kauer prometeu que, até fim de março, cinco dos sete andares estarão ocupados. O uso do 2º e do 3º andares, porém, demorará mais tempo devido à necessidade de contratar, por licitação, uma obra de engenharia.

É o que o Detran já gastou com o aluguel e o condomínio de maio de 2013 a janeiro deste ano, segundo o Portal da Transparência.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

INVESTIMENTO BAIXO EM SEGURANÇA NO TRÂNSITO

ZERO HORA 23 de janeiro de 2014 | N° 17682


PÁGINA 10 | ROSANE DE OLIVEIRA


Não é por falta de dinheiro que os investimentos do Detran em segurança no trânsito são tão tímidos. A autarquia teve superávit recorde em 2013, com o aumento das taxas cobradas dos motoristas e proprietários de veículos, mas esse crescimento da receita não se traduziu, na mesma proporção, em campanhas de prevenção à violência no trânsito. Se não é falta de dinheiro, o que explica os baixos investimentos em prevenção? A resposta é a mesma dos últimos anos: o dinheiro do Detran vai para o caixa único e ajuda a financiar o déficit do Estado.

Em 2013, o Detran arrecadou mais de R$ 1 bilhão. Desse total, só R$ 18 milhões foram para ações de prevenção à violência, aí incluída a Balada Segura, a mais conhecida iniciativa para inibir o consumo de álcool por motoristas, e que conta com a participação da Brigada Militar e de outros parceiros, como a EPTC, no caso de Porto Alegre.

A morte de mais de 1,5 mil pessoas no trânsito em 2013 deveria ser motivo mais do que suficiente para o Detran reavaliar suas campanhas e rediscutir seu papel na prevenção de acidentes.

Não é de hoje que o Detran financia outros gastos do Estado e reserva apenas uma quantia ínfima para ações ligadas à segurança do trânsito. O dinheiro das multas, por exemplo, deveria ser canalizado para projetos educativos. À época da Operação Rodin, quando as contas da autarquia foram esquadrinhadas por uma CPI na Assembleia, descobriu-se que no governo de Germano Rigotto o Detran era pródigo em financiar festas regionais, sem qualquer critério técnico, e gastou fortunas em aluguéis de carros, sem que se provasse a necessidade dessas locações para as atividades do departamento.



DE OLHO NO SENADO

A solenidade de inauguração da estátua de Leonel Brizola reuniu três possíveis candidatos ao Senado: Lasier Martins (PDT), Germano Rigotto (PMDB) e Pedro Simon (PMDB). Mestre de cerimônias do evento, Lasier teve a candidatura avalizada em pré-convenção do partido, mas o PMDB ainda não se definiu.

Simon voltou a dizer que não é candidato à reeleição, mas deixou no ar a possibilidade de concorrer:

– Não sou candidato. Já fiz o que podia fazer. Temos o Rigotto, o Ibsen... Mas não vou fugir da responsabilidade se o partido impuser isso. Eu não vou fugir para que digam que o Simon tem medo do Lasier ou coisa parecida. Não tenho medo do Lasier.

A menos de dois metros do senador, Rigotto disse estar pronto para concorrer, mas aguarda a definição de Simon.

– Estou preparadíssimo para ser candidato ao Senado – resumiu.

Simon deixou no ar a sua insatisfação com a demora do PMDB em se definir:

– Tem um grupo que está aí atuando, e eles que estão resolvendo. Se não conseguirem candidato ao Piratini, eu consigo.



Araujo faz cobrança a Lasier

O ex-deputado Carlos Araujo (PDT) deixou no ar um alerta ao colega de partido Lasier Martins. Segundo o ex-marido de Dilma Rousseff, Lasier precisa deixar mais claro aos companheiros do PDT qual é a sua real posição política:

– Ele tem posições políticas que a gente não sabe direito quais são. Na televisão, era mais de centro-direita. Agora, não sei como ele está se comportando.




Pedro Simon tem o direito de não gostar do que seus companheiros do PMDB dizem, mas não adianta reclamar do jornal, que é apenas o mensageiro.



Deputado? Nem pensar

Poucas coisas deixam o senador Pedro Simon mais irritado do que as sugestões de companheiros do PMDB para que concorra a deputado federal.

– Isso é gente querendo gozar com a minha cara. É ridículo imaginar. Eu, com 85 anos, vou brigar com 500 deputados para falar? – questionou.

Líderes do PMDB sugerem que ele concorra a deputado em dobradinha com o filho Thiago.



ALIÁS

Germano Rigotto está convencido de que a ameaça de Tarso Genro de não disputar a reeleição caso o projeto que reestrutura a dívida não seja aprovado é apenas “pressão”, e que Tarso concorrerá.

PREVENÇÃO NÃO ACOMPANHOU ALTA DA RECEITA


ZERO HORA 23 de janeiro de 2014 | N° 17682


CARLOS ROLLSING, CLEIDI PEREIRA E JULIANA BUBLITZ


DETRAN. Arrecadação cresceu 47,6% de 2012 a 2013, mas aplicação em campanhas subiu 27,8%


Em 2013 – ano em que aumentou a arrecadação em 47,6% e o “lucro” em 151,5%, gerando caixa que ajudou o governo Tarso Genro a quitar despesas diversas –, o Detran elevou os investimentos em campanhas de prevenção a acidentes em menor proporção. Os dados mostram que as despesas com ações de segurança no trânsito cresceram 27,8% – índice inferior ao crescimento da receita, que foi impulsionada pelo aumento nas taxas para a emissão de documentos.

Enquanto a arrecadação do Detran em 2013 cresceu R$ 355 milhões em relação ao ano anterior, a elevação dos investimentos em prevenção de sinistros foi de R$ 3,5 milhões. No mesmo período, o superávit – diferença entre arrecadação e gastos – do órgão foi de R$ 430 milhões.

O balanço aponta que, no ano passado, os investimentos em campanhas alcançaram R$ 15,8 milhões. Dentre as ações desenvolvidas, estão os programas Balada Segura, Viagem Segura e Educação para o Trânsito. A maioria dos valores despendidos se refere a campanhas publicitárias de conscientização.

Já em 2012, os números oficiais apontam o investimento feito pela autarquia chegou a R$ 18,3 milhões, o que significaria uma queda de aplicação de recursos. No entanto, a direção do Detran argumenta que o valor real referente a 2012 é de R$ 12,3 milhões. Uma cifra extra de R$ 6 milhões apenas foi reempenhada naquele ano, mas pertenceria ao orçamento de 2011. Com isso, na comparação entre 2013 e 2012, verifica-se o crescimento de R$ 3,5 milhões (variação de 27,85%).

Presidente do Detran, Leonardo Kauer reconhece a escalada da receita, mas ressalta as políticas desenvolvidas na atual gestão para diminuir as mortes no trânsito. Ele afirma que, desde 2010, foi registrada queda de 10% nos acidentes com morte nas estradas. Nas 20 cidades em que está em andamento o programa Balada Segura, diz o dirigente, a redução de ocorrências desse tipo foi de 17%.

– Fazemos um grande esforço para aplicar os recursos de forma eficiente. E isso se mostra claramente com a queda da acidentalidade – diz Kauer.

Ele projeta que, em 2014, os investimentos em ações e campanhas de educação para o trânsito devem atingir a marca de R$ 34,2 milhões.


AS FINANÇAS DA AUTARQUIA

Veja o balanço dos últimos dois anos e por que a receita cresceu

- ZH mostrou ontem que, no primeiro ano em que vigoraram as novas taxas do Detran, a arrecadação do órgão aumentou 47,6% em relação a 2012, alcançando a marca de R$ 1,1 bilhão.

- No mesmo período, o superávit (o “lucro”) foi de R$ 430 milhões e, ao parar no caixa único, ajudou o Piratini a bancar despesas gerais.

- O projeto do Piratini que autorizou o aumento das cobranças do Detran elevou algumas taxas cobradas dos motoristas em até 140%.

ARRECADAÇÃO
- 2012 - R$ 745 milhões
- 2013 - R$ 1,1 bilhão (+ 47,6%)

DESPESAS
- 2012 - R$ 440 milhões
- 2013 - R$ 477 milhões (+ 8,4%)

SUPERÁVIT
- 2012 - R$ 171 milhões
- 2013 - R$ 430 milhões (+151,5%)

EDUCAÇÃO NO TRÂNSITO
- 2012 - R$ 12,3 milhões
- 2013 - R$ 15,8 milhões (+ 27,85%)


Salas alugadas ficam vazias


No ano em que aumentou a arrecadação cobrando taxas mais altas dos proprietários de veículos, o Detran gastou R$ 1,5 milhão para alugar parte de um imóvel comercial em Porto Alegre.

Só que, desde que o contrato foi firmado em maio de 2013, apenas um dos sete andares locados pelo órgão foi ocupado por servidores da autarquia – os demais seguem em desuso.

Localizado na Rua Júlio de Castilhos, nº 505, o Edifício Cosmopolitan Center deveria receber funcionários da autarquia que hoje estão divididos em outros prédios, entre eles o da Secretaria Estadual da Segurança, também no Centro.

A súmula do contrato de locação foi publicada no Diário Oficial do Estado em 8 de janeiro de 2013. No documento, são listados seis pavimentos (o segundo, o terceiro e do 14º ao 17º) e os valores mensais de cada um – de R$ 20 mil a R$ 35 mil. Em 23 de agosto, um termo aditivo incluiu mais um andar (o 13º), a um custo de R$ 28 mil ao mês.

Os pagamentos passaram a ser feitos em maio, segundo o Portal da Transparência do Estado. Ao todo, foram gastos mais de R$ 1 milhão só em aluguel até este mês. Com condomínio, o Estado desembolsou mais R$ 467,4 mil no período.

De acordo com os porteiros do Cosmopolitan, cujo acesso é restrito, o Detran utiliza apenas o 17º andar. A área de 685 metros quadrados abriga parte da divisão de informática. Como não oferece atendimento externo, ZH não pôde entrar no local. Outros andares são ocupados por empresas privadas e, no térreo, por uma agência do Banrisul.

O aluguel do 17º andar, conforme o contrato, é de R$ 27 mil mensais, o que implicaria um gasto de não mais de R$ 243 mil de maio de 2013 a janeiro deste ano – 22,2% do que já foi pago com locação.

Procurada por ZH, a presidente do Sindicato dos Servidores do Detran (Sindet), Maria Goreti Alves da Costa, afirma que as condições de trabalho no órgão são péssimas e tendem a piorar à medida que novos concursados começam a chegar:

– É bastante contraditório. Estão pagando aluguel por uma estrutura que ainda está desocupada, mas os servidores estão trabalhando em situação precária, amontoados.

A luta por uma sede própria, segundo ela, é antiga. Maria Goreti afirma que, se a estrutura fosse centralizada, facilitaria o trabalho dos técnicos e o acesso do público.


Presidente promete mudança em março


Presidente do Detran, Leonardo Kauer assegura que cinco dos sete andares locados no Cosmopolitan serão ocupados por parte dos funcionários do Detran até o final de março, quando estarão concluídas reformas no piso, divisórias e cabeamento. A ocupação do 2º e do 3º andares demorará ainda mais tempo devido a necessidade de contratar, por licitação, uma obra de engenharia.

– Infelizmente, a máquina pública tem as suas burocracias. Certamente, os servidores estarão muito bem acomodados até o final de março – garante Kauer.

Parte dos funcionários do Detran será realocada no Cosmopolitan porque em dois antigos espaços do departamento está sendo construída a Central de Controle e Monitoramento da Copa. Com isso, remanejamentos forçaram mais funcionários a dividirem o mesmo local.

Para evitar aglomerações, a direção do órgão informa que determinou provisoriamente a divisão do pessoal em dois grupos, que se revezam em turnos de seis horas. Assim, não ocupam o lugar simultaneamente.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Ainda repica na minha mente a frase daquele agente de trânsito que me abordou: - "Sou pago para multar, não para educar. Educação é nas autoescolas". Parece ser o slogan dos departamentos que cuidam do trânsito brasileiro, já que empurram para as autoescolas a responsabilidade pela educação e prevenção, mas não deixam de arrecadar cada vez mais com multas e taxas abusivas de tudo o que é tipo e valor. Aqui no RS, reza a constituição que o trânsito é responsabilidade da Brigada Militar, mas como o texto constitucional não tem valor para os Poderes, este serviço é prestado por um Departamento de Trânsito. E assim, desprezam a lei maior do RS, criam um departamento, inventam taxas, aplicam multas e desperdiçam dinheiro público em outros setores, menos no que importa e que é finalidade de um órgão público de trânsito. Educação fica com as autoescolas nos Centros de Formação de Condutores e a prevenção que se lixe. É só fazer um banner, colocar uma propaganda na TV e considerar os recordes em arrecadação como um sucesso da gestão pública que está tudo resolvido. 

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

A GANÂNCIA DO DETRAN COM AVAL DOS DEPUTADOS

ZERO HORA 22 de janeiro de 2014 | N° 17681

CARONA DO DETRAN. 
Arrecadação extra garante reforço para o caixa único

Alta de 47,6% na receita, impulsionada por novas taxas, ajuda a bancar despesas gerais do Estado


No decorrer de 2013 – primeiro ano em que vigoraram as novas taxas do Detran, elevadas após aprovação de projeto do governo Tarso Genro na Assembleia Legislativa –, a arrecadação do departamento aumentou 47,6% em comparação com 2012, alcançando a marca de R$ 1,1 bilhão. Como os gastos mantiveram um patamar semelhante nos dois últimos exercícios, o superávit chegou a 151,5% no ano passado. O “lucro” de R$ 430 milhões, porém, ajudou o Estado a bancar despesas gerais.

Isso porque a receita excedente acaba indo parar no caixa único, uma conta do governo estadual em que são concentrados recursos de diversas origens para aplicação em despesas variadas, incluindo, por exemplo, folha de pagamento e fornecedores.

Aprovado em 2012 pela base aliada do governo na Assembleia, o projeto de lei que autorizou o aumento das cobranças do Detran sobre os proprietários de veículos na emissão de documentos passou a ter validade em 1º de janeiro de 2013.

A principal alteração atingiu a expedição do Certificado de Registro do Veículo (CRV), que passou de R$ 40,95 para R$ 98,34, um acréscimo de 140%. Esse é um dos motivos para a arrecadação mais alta.

O superávit subiu em medida ainda maior porque a majoração na receita foi acompanhada da estabilidade nos gastos do Detran, que cresceram 8,4% de 2012 para o ano passado. A oposição critica os resultados, indicando que a gestão do departamento está mais preocupada em desenvolver ações de “caráter arrecadatório”.

– É uma forma de ampliar a receita metendo a faca no bolso do contribuinte. As taxas do Detran, por lei, deveriam existir só para custear os seus gastos. Criam um superávit para abastecer o caixa único. Isso é para fazer frente ao tamanho do Estado que o governo Tarso construiu – atacou o deputado estadual Giovani Feltes (PMDB), que chega a comparar a elevação das taxas do Detran a uma política de majoração do ICMS.

Procurado por ZH, o diretor-presidente do Detran, Leonardo Kauer, não foi encontrado. A assessoria informou que ele – único que poderia falar sobre o caso – passou o dia em reuniões e, à noite, viajou para o Interior.

A SITUAÇÃO FINANCEIRA

POR QUE A RECEITA CRESCEU
- Em 5 de junho de 2012, a Assembleia Legislativa aprovou o aumento das principais taxas do Detran, com validade a partir do início de 2013.
- Na prática, a alteração fez com que os motoristas tivessem de desembolsar 61,5% a mais do que gastavam antes com as tarifas cobradas pelo órgão para comprar um carro zero km.
- Para quem compra um carro usado, o valor subiu 32,4% no total. No caso de motos, impactou na aquisição de novas (47%) e usadas (36,3%).
- O principal vilão dessa conta foi o Certificado de Registro de Veículo (CRV), cuja emissão sofreu um acréscimo de 140% (de R$ 40,95 para R$ 98,34).
- Na época, o governo Tarso estimava arrecadar pelo menos R$ 107 milhões com as mudanças – 16,2% do orçamento do Detran em 2012. Então presidente do departamento, Alessandro Barcellos garantiu que R$ 15 milhões seriam destinados ao Fundo Estadual de Segurança e que o restante seria aplicado no órgão, sem riscos de se perder no caixa único.
- A oposição criticou a postura do governo, apontando que o valor poderia ser mais alto do que o previsto e, ainda, citando não haver garantias de que se traduziria em melhorias à população.

O AVANÇO DO SUPERÁVIT
- O superávit é o resultado das receitas diminuído dos gastos e de um repasse de 17% do arrecadado que o Detran precisa fazer por determinação de lei ao Fundo Estadual de Segurança Pública (FESP).
- De 2012 a 2013, o superávit do Detran aumentou 151,5%. No mesmo período, a arrecadação cresceu 47,6%, mas as despesas do departamento foram elevadas somente em 8,4%.
- Com as receitas superando em muito as despesas, criou-se o elevado superávit.
- O “lucro” do Detran acaba indo para o caixa único, onde ajuda a custear outras despesas do Estado.
- Em 2013, a arrecadação do Detran do Rio Grande do Sul foi a mesma do órgão no Rio de Janeiro, onde a população e a frota de veículos são maiores.
- A diferença é que, enquanto o Detran gaúcho teve despesas de R$ 477 milhões, o do Rio de Janeiro teve um gasto total de R$ 1,1 bilhão. Com isso, o departamento fluminense não registrou superávit.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

POLÍCIA BRITÂNICA MONTA OPERAÇÃO CONTRA BÉBADOS

FOLHA.COM, 21/01/2014

STEVEN ERLANGER
STEPHEN CASTLE
DO "NEW YORK TIMES


NORTHAMPTON, Inglaterra - Passava um pouco das 4h da manhã, os últimos clubes estavam fechando, e a polícia tinha três rapazes encostados contra um muro de tijolinhos e um quarto deitado no chão. Os jovens, alguns deles sangrando, estavam tão bêbados que mal conseguiam se manter em pé, o que dirá responder às perguntas dos policiais, chamados para apartar uma briga.

A cem metros de distância, no centro da cidade, uma jovem saiu da boate NB cambaleando. Vomitou na calçada e sobre seu vestido fino e brilhante.

A dez quilômetros dali, na zona leste de Northampton, uma festa residencial regada a álcool tinha saído de controle. Três pessoas acabaram no hospital, uma das quais um rapaz cujo braço quase tinha sido decepado por um facão.

Era apenas mais uma noite de sexta em Northampton, disse o inspetor de polícia Vaughan Clarke, quando jovens britânicos saem com o propósito de se embebedarem. Em vista do preço do álcool nos bares, eles frequentemente tomam vodca e gim baratos comprados em lojas 24 horas.

Andrew Testa/The New York Times

Policiais em Northampton apartam briga diante de pub


A visão de jovens perambulando pelas ruas de madrugada, mal conseguindo andar ou falar, já se tornou um problema, tanto pela violência que o álcool frequentemente desencadeia quanto pela vulnerabilidade de moças, que às vezes são estupradas quando não estão em condições de se defender.

O Instituto britânico de Estudos do Álcool diz que o consumo de álcool caiu levemente em relação ao auge, em 2005, e que o Reino Unido está aproximadamente na média, comparado a outros países da União Europeia, nas estimativas dos litros de bebidas alcoólicas vendidas legalmente por pessoa.

Mas os hábitos de consumo de álcool dos britânicos na faixa dos 15 aos 24 anos "diferem dos de gerações anteriores", na medida em que eles "bebem menos frequentemente durante a semana, mas, quando o fazem, tendem a beber de modo desmedido", disse o instituto.

"Aquelas cenas vistas em Northampton se repetem em todas cidades britânicas nas noites de sexta e sábado", disse o inspetor Clarke.

O chefe de polícia do condado de Northamptonshire, Adrian Lee, posicionou policiais nas ruas e estacionou um caminhão com celas -uma "Suíte de Detenção Móvel"- no centro da cidade nas noites de sexta e sábado, para que os policiais possam autuar rapidamente os jovens violentos ou incapacitados pela bebida e retornar às ruas em pouco tempo.

As celas possuem uma cadeira plástica e uma vala para receber urina e vômito, que tem saída externa e pode ser lavada com mangueira.

De acordo com o chefe de polícia Lee, metade de todos os crimes violentos cometidos no Reino Unido está ligada ao álcool. Estima-se que esses crimes custam à economia cerca de US$ 18 bilhões por ano, dos quais US$ 5,73 bilhões incorridos pelo Serviço Nacional de Saúde.

"As pessoas toleram às 3h comportamentos que não tolerariam às 15h", explicou. "Não tentamos acabar com o consumo de álcool, mas acabar com a violência associada a isso."

O TELEFONE QUE NÃO EVITOU O DESASTRE

ZERO HORA 21 de janeiro de 2014 | N° 17680

FERNANDA DA COSTA E TAÍS SEIBT



SETE MORTES EM RODOVIA



Avisada da embriaguez de motorista no noroeste gaúcho, BM não conseguiu impedir colisão que matou casal e outras cinco pessoas da mesma família

Um casal retornando de uma festa de aniversário. Uma família voltando de um culto religioso. Sete mortes na BR-392, em Roque Gonzales, no noroeste do Estado. Duas famílias dilaceradas pela imprudência no trânsito.

O telefonema da irmã de Marcia Perassolo Dias, 26 anos, para a Brigada Militar de Porto Xavier tentou evitar o pior. Por volta das 22h20min de domingo, ela avisou a polícia que Marcia estava com medo porque o marido dela, Jardel de Godois Ramires, 27 anos, tinha ingerido bebida alcoólica durante a festa de aniversário do pai dele, em Porto Xavier, e queria pegar a estrada até São Luiz Gonzaga, onde o casal residia.

Sem saber o ponto exato onde o Vectra branco indicado pela irmã de Marcia estaria, uma viatura da BM fez buscas dentro da cidade, mas não encontrou o veículo. Aproximadamente 15 minutos depois do chamado, um Vectra colidiu com um Gol na BR-392, em Roque Gonzales. A guarnição foi até o local e verificou que se tratava do carro que procurava. Não houve sobreviventes no acidente.

– Fizemos nossa parte, mas infelizmente não logramos êxito na abordagem, porque não tínhamos a localização precisa do veículo, que já havia entrado na estrada enquanto buscávamos dentro da cidade – diz o sargento Miguel Garcia, de Porto Xavier.

Os familiares de Ramires admitiram que o rapaz havia bebido durante o almoço, mas não no jantar. A Polícia Civil solicitou exame toxicológico ao Instituto Médico Legal, em Porto Alegre, para verificar se o motorista do Vectra estava ou não alcoolizado.

Trecho teve cinco mortes em 2013

De acordo com a delegada Tânia Regina Bratz, como não há sobreviventes, a investigação tem o objetivo apenas de esclarecer as circunstâncias da ocorrência:

– O impacto nos veículos leva a crer que o Vectra estava em alta velocidade. Porém, como o carro ficou muito danificado, não há condições de extrair prova técnica da velocidade em que ele estava no momento da colisão.

Outro fator que reforça a hipótese de alta velocidade é a falta de marcas de frenagem na pista, indicando que o condutor não tentou parar.

Conforme registro no posto da Polícia Rodoviária Federal de Ijuí, que atendeu à ocorrência, o Gol trafegava na BR-392 em direção a Porto Xavier, e o Vectra, que estava na direção oposta, teria invadido a pista contrária, colidindo frontalmente. O acidente ocorreu às 22h40min, no km 698,7 da rodovia, em uma reta. No Gol, estavam cinco pessoas da mesma família, que retornavam de um culto religioso.

Em 2013, em 38 acidentes, cinco mortes foram registradas no trecho Noroeste da BR-392, que vai de Porto Xavier a Guarani das Missões. Foi a segunda vez em quatro dias que um acidente de trânsito causou sete mortes no Estado, tendo cinco pessoas da mesma família entre as vítimas nas duas ocorrências. Na quarta-feira passada, a tragédia envolveu um caminhão e outros três veículos na BR-386, em Pouso Novo. A causa do acidente ainda é investigada.


Família voltava de culto religioso

Domingo era dia de ceia na igreja evangélica frequentada pela família Freitas, em Roque Gonzales. Moradores de Porto Xavier, eles repetiam a viagem havia cinco anos. No km 698,7 da BR-392, o Gol conduzido por Edemar Siqueira de Freitas, 55 anos, colidiu com um Vectra. Ele, a mulher, Liria Kutti de Freitas, 51 anos, o filho do casal, Nilmar Kutti de Freitas, 30 anos, a nora Jaqueline Durão Duarte, 18 anos, e o neto, Kaíke Duarte de Freitas, dois anos, morreram no local.

Edemar e Liria eram aposentados. Ambos trabalharam no Hospital de Caridade Nossa Senhora dos Navegantes. Nilmar, o único filho, seguiu o ofício do pai. Havia três anos trabalhava com serviços gerais na instituição. Jaqueline era faxineira e complementava a renda com emprego na cozinha de um hotel.


Casal estava em festa de aniversário

A construção de uma casa própria em um terreno recém-financiado era o principal plano do casal Jardel de Godois Ramires, 27 anos, e Marcia Perassolo Dias, 26 anos. Moradores de São Luiz Gonzaga, os dois passaram o domingo na festa de aniversário do pai de Jardel, no interior de Porto Xavier.

Casados havia cerca de seis anos, costumavam viajar ao menos uma vez por mês para visitar a família. Ramires trabalhava em uma marmoraria, e Marcia era vendedora e faxineira.

Os dois moravam na casa de um irmão de Marcia, mas se mudariam neste ano para uma casa própria. Depois da mudança, planejavam ter o primeiro filho.

– Eles conseguiram comprar um carro e estavam felizes porque iriam começar a construir a casa – disse a irmã de Jardel, Juliana Ramires.

Colisão entre dois veículos deixa sete mortos em Roque Gonzales, no Noroeste Renê Leal/Especial
ENTREVISTA

“Não foi uma tragédia inesperada”


JANICE PERASSOLO DIAS. Irmã de vítima do acidente



Em um corredor da capela mortuária de São Luiz Gonzaga, onde o corpo de Marcia era velado, a irmã da jovem, Janice Perassolo Dias, 27 anos, contou a ZH como tentou evitar o acidente, avisando a polícia.

Zero Hora – Como você ficou sabendo que seu cunhado dirigiria embriagado?

Janice Perassolo Dias – Ele costumava beber e dirigir sempre, o que deixava a Marcia com medo. Insistimos para que ela não fosse à festa em Porto Xavier, mas acho que ela não quis deixar o marido ir sozinho. Eram quase 17h quando ela ligou para a minha mãe, escondida dele. Ela contou que ele estava bêbado, e estava com medo de viajar para casa.

ZH – O que a sua mãe fez?

Janice – Ela insistiu para que eles ficassem dormindo lá e voltassem segunda-feira de manhã, mas o meu cunhado prometeu que dirigiria devagar, e eles resolveram pegar a estrada. Ela me contou, e eu resolvi avisar a polícia.

ZH – Para quem você ligou?

Janice – Liguei para a BM de Porto Xavier, dei o nome do meu cunhado, as características do carro e disse que ele estava embriagado. Eu não sabia a placa, mas contei que ele sairia de Porto Xavier para São Luiz Gonzaga. Não me identifiquei porque tive medo de que, se ele soubesse da denúncia, poderia se voltar contra mim. Só queria que tivessem abordado o meu cunhado. Não iriam deixar ele dirigir, e esse acidente não teria acontecido. Para nós, não foi uma tragédia inesperada.


21 de janeiro de 2014 | N° 17680


PÁGINA 10 | ROSANE DE OLIVEIRA

Sete mortes que poderiam ter sido evitadas


Não foi um acidente que matou sete pessoas na BR-392, entre Roque Gonzales e Porto Xavier. Foi um crime de trânsito praticado por um motorista embriagado, dirigindo em alta velocidade um Vectra que se espatifou no choque com um Gol. Além do motorista do Vectra e de sua mulher, morreram cinco pessoas de uma mesma família, que voltavam de um culto religioso. Sete vítimas, o mesmo número de vidas perdidas na BR-386, na semana passada. Com uma diferença: esta foi a crônica de uma morte anunciada.

Marcia Perassolo Dias, 26 anos, ligou para a mãe e contou que estava com medo de voltar para casa com o marido porque ele estava bêbado. A mãe a aconselhou a não pegar carona, mas ela disse que o marido prometera não correr e embarcou no Vectra para sua última viagem. A irmã, Janice, ligou para a Brigada Militar, descreveu o carro, deu o nome do cunhado e pediu que o interceptassem.

A BR-392 é uma estrada federal, mas Janice não tinha obrigação de saber que deveria ligar para o 191 e não para o 190. A BM saiu atrás, mas era tarde. Sem saber a placa do Vectra, não conseguiu localizá-lo.

Esse episódio trágico pode servir para as autoridades repensarem suas campanhas e suas políticas de prevenção a acidentes, que estão falhando por serem escassas, tímidas e com falta de foco. Em vez de repetir, “se for dirigir não beba”, deve ampliar o apelo para os que estão em volta e tentar convencer cada cidadão a não pegar carona com bêbado e tentar impedir que um motorista embriagado assuma o volante.

E, se a polícia receber o aviso de que há um bêbado colocando em risco a vida de outras pessoas, que faça de tudo para encontrá-lo, antes que seja tarde.


COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - O pior é que a guarnição da Brigada Militar tentou localizar o veículo, apesar de receber uma informação incompleta ou não bem entendida. Não há como prevenir um caso como este sem impedir no ato que a pessoa dirija alcoolizada. A abordagem na estrada depende do inopino e neste caso dependia da localização do veículo denunciado.




segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

REINCIDÊNCIA IRRITANTE

Lei desacreditada pela justiça
ZERO HORA 20 de janeiro de 2014 | N° 17679

ARTIGOS


Cláudio Brito*


De que adianta a lei ser rigorosa, de que nos vale a mobilização dos órgãos de trânsito e qual a utilidade da parceria com entidades civis se a Lei Seca leva mais de um ano para ser efetiva? Estatísticas atuais informam que um em cada 10 motoristas flagrados ao volante depois de beberem vinho, cerveja ou cachaça é reincidente, embora tecnicamente possa ainda passar por primário.

Explicando: há condutores apanhados uma vez ou mais, como autores da infração ou mesmo do crime decorrente da soma terrível do álcool ao ato de dirigir um automóvel, utilitário ou caminhão, contra os quais houve a instauração de um processo administrativo ou judicial para a suspensão ou perda do direito de dirigir, autuados novamente em alguma blitz como a Balada Segura ou Viagem Segura. Como o processo anterior não teve a decisão final, segue o motorista como um primário, pois a reincidência existiria somente após a procedência do procedimento original. Enquanto não terminado o primeiro processo, nenhuma restrição pode ser imposta. É possível continuar dirigindo e ser outra vez surpreendido sob influência do álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência, enquanto não for resolvido o caso anterior. Em nosso Estado, esses processos têm demorado de oito a 14 meses. Depois desse tempo, é que surge a hipótese da reincidência.

Mal comparando, alguém jamais condenado, primaríssimo portanto, comete hoje um homicídio, amanhã mata outra vez e ainda repete a conduta de matador um dia depois. Primário em todos os crimes cometidos, pois será reincidente apenas quando cometer um novo crime após alguma condenação.

Necessário mudar essa realidade, da única forma possível: precisamos de novas regras processuais, que abreviem prazos e diminuam os recursos cabíveis em cada fase. Veja-se o caso da apuração administrativa de infração punível com multa e suspensão do direito de dirigir. Da autuação pelo agente de trânsito até o recolhimento da Carteira Nacional de Habilitação percorre-se um demorado itinerário, que vai da defesa prévia ao último recurso possível, três ou quatro fases depois. Claro que será melhor ainda se houver um choque impactante de educação. Nossos motoristas precisam desistir da bebida ou do automóvel. Juntos, não funcionam. Os cidadãos que fazem o possível e mais ainda para agirem em tudo corretamente vão à irritação com esse quadro de aparente impunidade. É possível mudar, claro que sim. Processo ágil, resposta pronta e exemplar. Assim o trânsito melhora, com certeza.

*JORNALISTA

A DOENÇA QUE O ESTADO NÃO TRATA

ZERO HORA 20 de janeiro de 2014 | N° 17679

ARTIGOS

Gabriela Gonchoroski*


Foi o avanço tecnológico das últimas décadas que gerou uma mudança social nos meios de transporte em todo o mundo; no Brasil, esta mudança foi acentuada na década de 70 com a abertura do mercado brasileiro para a instalação das grandes montadoras de automóveis, o que popularizou a utilização desses veículos pelos quatro cantos do país.

Esse fenômeno social foi o facilitador do desenvolvimento do nosso país, permitindo que as periferias estivessem mais próximas dos grandes centros urbanos; juntamente com essa nova realidade, tivemos que aprender a conviver com as perdas que a violência no trânsito nos impõe.

A realidade é uma só: falta ação do Estado. Por mais que as estatísticas demonstrem a falha humana como fator preponderante na ocorrência desses trágicos acidentes, é flagrante a omissão do Estado no enfrentamento da violência do trânsito.

O Brasil está entre os cinco países que mais matam no trânsito, demonstrando claramente que o Estado precisa empreender políticas públicas que viabilizem a redução de mortes em nossas estradas. O trânsito tem sido, para os brasileiros, uma chaga, um tipo avassalador de doença para a qual o Estado não tem ofertado tratamento eficiente. E assim, todo ano, as estatísticas apontam milhares de vítimas fatais e outras tantas com sequelas físicas e psicológicas; que são a prova da ineficiência do sistema.

É dever do Estado intervir no comportamento humano em relação ao trânsito, educando seus cidadãos desde o ensino básico até o nível superior, ensinando-lhes a importância do respeito à vida e o cumprimento às regras de trânsito; é dever do Estado a criação e manutenção de um ordenamento jurídico capaz de assegurar condições de segurança no trânsito e a real punição dos infratores; é dever do Estado o aprimoramento contínuo do sistema de habilitação dos novos condutores e a capacitação contínua daqueles já habilitados, restringindo assim o direito de dirigir àqueles que possuírem capacidade de controlar o veículo para o qual se habilitam. E o mais importante: é dever do Estado assegurar condições seguras de infraestrutura para a circulação dos veículos comercializados, principalmente quando assume uma política de incentivo fiscal a esta comercialização. E, quando o comportamento do cidadão falha, quando o condutor, pedestre e/ou ciclista age colocando em risco os demais, é dever do Estado agir coercitivamente e inibir a repetição desses atos de imprudência ou mesmo imperícia, evitando assim que os mesmos provoquem acidentes.

Neste sentido, temos visto que o Estado brasileiro é falho em todas as suas esferas de atuação no trânsito, possibilitando que na sua ausência se operem os grandes e pequenos desastres, que mais tarde viram estatísticas estampadas nas capas dos jornais velhos, e as vidas que se foram viram apenas números de um ineficiente banco de dados.

*CIENTISTA POLÍTICA, INSTRUTORA DE TRÂNSITO

domingo, 19 de janeiro de 2014

COMO FUNCIONA O SOCORRO DA EGR

ZERO HORA 19 de janeiro de 2014 | N° 17678


SEGURANÇA NAS ESTRADAS. Como funciona o socorro


Durante 15 anos, usuários dos polos rodoviários privados se acostumaram a ver ambulâncias na beira do asfalto – uma cena que transmitia segurança. Com o fim das concessões e a criação da Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR), o socorro nas estradas se tornou alvo de questionamentos. Hoje, o sistema é único em todo o RS. A responsabilidade é do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e do Corpo de Bombeiros, com participação das polícias rodoviárias. ZH elaborou perguntas, que foram respondidas por Samu, EGR e órgãos de segurança do Estado. Confira também um mapa com as bases de atendimento.

Como é feito o atendimento a pessoas feridas em acidentes em rodovias no Estado?

O socorro é feito pelo Samu, com apoio do Corpo de Bombeiros. São acionados os veículos das bases mais próximas do local do acidente.

O que fazer se o acidente for em rodovia estadual?

O usuário poderá ligar para o 192 do Samu, o 193 dos bombeiros ou o 198 do Comando Rodoviário da Brigada Militar, que irá acionar o Samu e/ou os bombeiros mais próximos.

E acidente em rodovia federal?

O usuário poderá ligar para o 192 do Samu, o 193 dos bombeiros ou o 191 da Polícia Rodoviária Federal, que se encarregará de chamar o Samu e/ou os bombeiros mais próximos.

Samu e Corpo de Bombeiros têm atribuições diferentes?

Sim. Os bombeiros agem em caso de incêndio, vítima presa às ferragens e derramamento de óleo na pista. Já o Samu, que conta com profissionais de saúde em todas as suas equipes, é o responsável pelo socorro médico às vítimas. Samu e bombeiros trabalham em parceria para oferecer o atendimento mais adequado.

E se o Samu estiver ocupado?


Acidentes com vítimas sempre serão prioridade. Se a ambulância estiver atuando em um caso menos urgente, o atendimento pode ser revisto, fazendo a mudança de prioridade. O Samu ainda poderá solicitar apoio dos bombeiros ou dos próprios municípios.

Uma prefeitura pode se recusar a enviar seu Samu a um acidente?

Não. Se isso acontecer, por lei, o médico regulador de urgências do SUS (a autoridade sanitária de plantão) poderá mandar prender por omissão de socorro aquele que negar o atendimento. No RS, existem cinco centrais de regulação (duas em Porto Alegre, além de Bagé, Pelotas e Caxias do Sul) com centenas de médicos reguladores.

Há um tempo de espera previsto para o atendimento do Samu?

As equipes trabalham com meta de 10 minutos, que é o tempo recomendado nos serviços de referência mundiais. No Interior, devido à distância das bases do Samu, a espera gira em torno de 15 minutos. Onde as rodovias são de difícil acesso ou a distância a ser percorrida for maior, pode superar os 15 minutos.

Há um trecho mínimo a ser coberto pela unidade do Samu?

Sim. Com o maior número de bases do serviço, que quase dobrou em três anos, a ideia é que nenhuma ambulância percorra uma distância superior a 50 quilômetros.

Quais as vantagens do gerenciamento das ambulâncias por GPS?

O projeto de disparo inteligente de ambulância, com localização via GPS e acionamento por mensagem de texto, começou há alguns meses em Porto Alegre. Nos próximos dias, entra em operação na Região Metropolitana, Litoral e nas 40 unidades de suporte avançado. Com o uso de smartphones, pula-se a etapa de comunicação via rádio, gerando melhora de até três minutos no tempo de resposta das equipes.

O Samu tem capacidade para atender à demanda?

A secretária da Saúde, Sandra Fagundes, afirmou que a “população pode viajar tranquila”, porque o número de bases passou de 85 em 2010 para 160 no ano passado. E até o fim de 2014 serão inauguradas mais 38. O coordenador estadual do serviço, Maicon de Paula Vargas, também garante que é mais tranquilo viajar hoje do que no sistema anterior.

Há diferença entre ambulâncias?

As unidades de suporte avançado (UTI móveis) contam com médico e equipamentos operados por esses profissionais, como ventilador pulmonar. São 40 nessa categoria. Já as de suporte básico possuem técnico em enfermagem e condutor socorrista. São 190 desses veículos. O Samu ainda tem 10 motolâncias, 10 veículos de intervenção rápida e um helicóptero.

E a estrutura dos bombeiros no Interior é suficiente?

O governo anunciou investimentos na corporação para fazer frente à demanda. Até o fim do ano, o efetivo deve ganhar o reforço de 400 homens. E a EGR prometeu repassar aos bombeiros 31 veículos de resgate até março.

Por que a EGR não manteve o modelo adotado pelas concessionárias, em que veículos de resgate ficavam nas estradas?

A empresa alega que o serviço era limitado, que não era oferecido em todas as praças e os veículos não tinham os equipamentos necessários. Como o socorro, segundo a EGR, normalmente era feito pelo Samu e bombeiros, a opção foi reforçar a estrutura de ambos.

Se a ambulância de um município for deslocada para atender a um acidente na estrada, quem irá socorrer os moradores deste município em caso de urgência?

A orientação aos viajantes é entrar em contato pelo telefone 192 com o Samu, que irá verificar a disponibilidade de ambulâncias, inclusive da rede municipal. Se não houver veículo à disposição, terão de ser utilizados meios próprios.

Existe uma central que receba reclamações sobre o atendimento nas estradas?

As queixas podem ser feitas junto à ouvidoria da EGR, pelo telefone 0800-648-3903, das 8h às 18h, de segunda a sexta-feira. Em fevereiro, com a contratação de uma empresa de call center, o atendimento será 24h.

O atendimento telefônico de PRF, Samu, Corpo de Bombeiros e Comando Rodoviário da BM é centralizado ou funciona por meio de centros regionais?

A ligação do usuário é automaticamente redirecionada para a central regional mais próxima da sua localização. Cada uma das instituições possui a sua central.

De que forma o convênio da EGR com Samu e Corpo de Bombeiros irá beneficiar os usuários das estradas gaúchas?

Conforme o presidente da EGR, Luiz Carlos Bertotto, o atendimento será mais amplo e qualificado. Para tranquilizar os viajantes, o governo vem anunciando uma série de medidas, como investimentos no Samu e nos bombeiros, que somarão R$ 9 milhões neste ano.


 


sábado, 18 de janeiro de 2014

IRRESPONSÁVEIS REINCIDENTES



ZERO HORA 18 de janeiro de 2014 | N° 17677


EDITORIAIS


Uma sequência de falhas e omissões explica as lamentáveis estatísticas divulgadas pelo Detran, segundo as quais um em cada 10 motoristas flagrados dirigindo sob o efeito de álcool é reincidente. É um dado constrangedor para quem fiscaliza e para as instituições que têm o dever de estabelecer penas para os infratores. O flagrante de 2.062 motoristas nessa situação no ano passado conspira contra todos os esforços e ações como a Balada Segura e as operações realizadas pela Polícia Rodoviária nas estradas. É preciso que se investigue onde estão as brechas que permitem as reincidências, algumas absurdas, como as de seis motoristas que já foram abordados alcoolizados pela polícia oito vezes ou mais.

Uma das explicações para as repetições é frágil demais para sustentar qualquer argumento. É a que informa que o processo de suspensão do direito de dirigir pode demorar até 14 meses. Até o desfecho do julgamento, o motorista, como ainda não foi condenado, poderia continuar dispondo do direito de conduzir veículos. É óbvio que essa desculpa não serve nem mesmo para atenuar o drama de consciência dos infratores. Até porque se sabe que os próprios motoristas que já tiveram a carteira de habilitação cassada continuam conduzindo veículos em ruas e estradas.

O que falta é um maior controle dos órgãos de fiscalização, para que a polícia não continue flagrando os infratores uma, duas e até oito vezes. É um desperdício de recursos humanos e materiais, de tempo e de energia de servidores públicos prender e deixar sem punição os que põem em risco a vida de terceiros. Além disso, é no mínimo perturbador que a Justiça continue tratando com certa benevolência os responsáveis por mortes no trânsito em circunstâncias claramente identificadas como criminosas. Comunidades, polícia, Ministério Público e Justiça não podem ser condescendentes com quem, antes de beber e dirigir, está consciente do risco de que pode matar.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

TRAGÉDIA QUE SE REPETE NA BR-386



ZERO HORA 16 de janeiro de 2014 | N° 17675


Acidente na BR-386 mata sete pessoas



Uma das mais perigosas estradas do Rio Grande do Sul fez novas vítimas no início da noite de ontem. Em um trecho sinuoso, no km 308, em Pouso Novo, o choque de um caminhão e quatro carros tirou a vida de sete pessoas e deixou outras quatro feridas.

Carros desfigurados, marcas de frenagem no asfalto, famílias enlutadas. Cenas trágicas como essas voltaram a se repetir ontem na BR-386. Por volta de 19h20min, um acidente tirou a vida de sete pessoas e deixou outras quatro feridas em Pouso Novo, no Vale do Taquari.

De acordo com informações da Polícia Rodoviária Federal (PRF), um caminhão com placas de São Miguel das Missões, no noroeste do Estado, teria provocado um acidente que envolveu quatro veículos de passeio, no km 308 da rodovia.

Até o fechamento desta edição, os nomes das vítimas não haviam sido confirmados pela polícia. Segundo informações preliminares da PRF, cinco mortos estavam no Tipo, que se incendiou no local. Em um Uno, que também pegou fogo, estava outra vítima fatal. Além deles, o condutor do caminhão morreu no local. Os outros carros envolvidos no acidente foram um Premio, onde viajavam as quatro pessoas que ficaram feridas, e um Corolla, que sofreu apenas uma batida leve.

Segundo a PRF, o Tipo, o Premio e o caminhão desciam uma ladeira no sentido Interior-Capital. Aparentemente sem freios, conforme testemunhas relataram à PRF, o caminhão teria batido na traseira do Premio, que teria se chocado com a traseira do Tipo. Descontrolado, o Tipo teria batido no Uno que vinha no sentido contrário.

As versões sobre o acidente são conflitantes. Um sobrevivente que estava na carona do Premio (leia a entrevista na página ao lado) afirmou que o veículo em que estava não foi atingido pelo caminhão – este teria batido diretamente na traseira do Tipo, fazendo com que o motorista perdesse o controle. O sobrevivente diz também que um dos pneus da caminhão estourou antes do choque.

Integrantes da mesma família, os passageiros do Premio e do Tipo retornavam de Tiradentes, no Noroeste, para onde haviam viajado para enterrar uma parente. O grupo residia em Nova Santa Rita, na Região Metropolitana.

Os feridos foram encaminhados em estado regular ao Hospital de Lajeado, também no Vale do Taquari, e liberados poucas horas depois. A estrada foi bloqueada no sentido Capital-Interior, provocando congestionamento nos dois sentidos.

Mais cedo, outro acidente, ocorrido na região central do Estado, havia matado duas pessoas. Um jovem e um adolescente morreram na BR-287, em Santiago, por volta das 4h de ontem. De acordo com informações da PRF, o Palio em que eles trafegavam no sentido Santiago-Jaguari e, no km 379,6, chocou-se contra uma árvore. Vitor Soares Alves, 22 anos, e Dionatan de Oliveira Furquim, 15 anos, morreram na hora. O impacto da colisão partiu o carro em vários pedaços.


UM TRECHO PERIGOSO



Veja histórico de acidentes fatais na BR-386, em Pouso Novo


21 DE JULHO DE 2012
 - Um acidente envolvendo dois caminhões e dois automóveis, no km 294, a seis quilômetros da sede do município, deixou um saldo de quatro mortos, incluindo uma criança, e de um ferido grave. O acidente, pouco depois da meia-noite, aconteceu em uma subida da serra em direção a Soledade.
2 DE SETEMBRO DE 2011 - O choque entre um caminhão, um ônibus e um Celta causou a morte de quatro pessoas e deixou 41 feridos. A colisão aconteceu por volta das 21h30min no km 304, em um ponto íngreme da estrada. A BR-386 ficou cerca de sete horas para socorro às vítimas.



8 DE JANEIRO DE 2010 - Uma colisão entre três caminhões resultou na morte de quatro pessoas. O acidente aconteceu por volta das 17h, no km 305 da rodovia.


29 DE SETEMBRO DE 2006 - O prefeito de Pouso Novo, Nelso Dall’Agnol, morreu em uma colisão com uma carreta carregada com 37 toneladas de soja. O acidente ocorreu por volta das 15h, no km 337 da rodovia, próximo ao acesso a Forquetinha.

sábado, 11 de janeiro de 2014

IMPUNIDADE AO VOLANTE

ZERO HORA 11 de janeiro de 2014 | N° 17670


EDITORIAIS



É perturbadora a informação do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-RS) de que mais de 15 mil motoristas autuados por infrações gravíssimas entre elas, embriaguez ao volante seguem dirigindo livremente. Com isso, impõem risco permanente a si mesmos e a quem transita por ruas e rodovias gaúchas. O perigo se mantém devido ao excesso de burocracia e às margens oferecidas pela legislação de trânsito para que os infratores possam recorrer indefinidamente. O resultado é que, na prática, chegam a transcorrer dois anos entre o registro da infração e o momento em que a punição se concretiza, com o recolhimento da carteira de habilitação.

Obviamente, não se trata de defender punição sumária para motoristas pegos embriagados na direção de um veículo, ou em alta velocidade, ou que tenham completado mais de 20 pontos na carteira em um período de 12 meses. Mas fica difícil aceitar que, dos milhares incluídos nessa situação, poucos tenham sido efetivamente punidos e menos ainda ficado sem o documento de habilitação.

Dirigir veículo é um ato de responsabilidade, que exige atenção permanente. Se, mesmo consciente disso, o motorista bebe antes de assumir o volante ou imprime velocidade excessiva ao veículo, é preciso que arque com as consequências.

A sociedade não tem como deixar de pensar em até que ponto adianta o país ter penas rígidas se elas não servem para punir os faltosos, nem ao menos para protegê-la dos riscos que implicam ao volante. Ainda assim, precisa zelar para que o poder público cumpra o seu papel, agindo preferencialmente de forma preventiva e, quando isso for impossível, punindo com rigor os transgressores.

RS TEM MAIS DE 15 MIL MOTORISTAS IRREGULARES

ZERO HORA 10 de janeiro de 2014 | N° 17669

LARA ELY


IMPUNIDADE. Condutores com direito de dirigir suspenso driblam a lei ao não entregar habilitações às autoridades



A suspensão e a cassação do direito de dirigir não têm sido suficiente para manter maus motoristas longe das ruas e estradas do Rio Grande do Sul. Dados de 2013 do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-RS) revelam que 15.154 mil condutores autuados por infrações gravíssimas – como embriaguez ao volante – ou por exceder o limite de 20 pontos em um período de 12 meses não entregaram a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) às autoridades.

No ano passado, 28.725 condutores tiveram a carteira suspensa ou cassada, mas apenas 13.571 habilitações foram recolhidas. A burocracia que permite uma série de recursos, segundo o chefe da Divisão de Cassação e Suspensão de Condutores do Detran, Anderson Barcellos, ajuda a explicar o descompasso entre o registro da infração e a punição do motorista.

– Após a abertura do processo administrativo, devem transcorrer todos os prazos de defesas, recursos em primeira e segunda instâncias, até que saia a decisão final. Depois desse período, o motorista ainda pode recorrer à Justiça. Até a decisão final, podem passar mais de dois anos – explica.

A fiscalização vem aumentando ano a ano no Rio Grande do Sul (veja gráfico ao lado), mas a impunidade ainda é um desafio a ser superado. No ano passado, foram abertos 8.867 processos de cassação, mas só 749 motoristas acabaram punidos e apenas 37 carteiras foram entregues.

Brigada bateu na porta dos infratores em 2011

Mesmo após a perda do direito de dirigir, é possível que grande parte dos motoristas continue conduzindo irregularmente. Isso ocorre porque as autoridades têm dificuldade de fiscalizar e recolher as carteiras dos infratores. Em 2011, policiais militares chegaram a visitar residências para intimar mais de 7 mil infratores no Estado, mas a iniciativa não teve continuidade.

Ativista em projetos de educação no trânsito, Diza Gonzaga, da ONG Vida Urgente, vê com revolta o fato de que condutores que cometem crimes de trânsito continuem dirigindo de forma impune. Para ela, a fiscalização atual não age de forma pedagógica:

– Temos uma sensação de impunidade porque existe lei, existem taxas, mas os culpados continuam ilesos. É como o pai que diz que vai colocar de castigo, mas não cumpre com sua palavra, e permite que o filho siga agindo errado.



quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

A ESTREIA DE SIMULADORES NO RS

ZERO HORA 09 de janeiro de 2014 | N° 17668

ROBERTO AZAMBUJA

TESTE REAL

Centros de Formação de Motoristas começam a instalar equipamentos obrigatórios para os candidatos a nova habilitação


No meio da pista, surge um rebanho de ovelhas. O tempo muda, e começa a chover. O para-brisa entra em ação para limpar o campo de visão, embaçado pela água no vidro. Agora é o terreno que muda, o que era asfalto vira brita, e o volante treme como se fosse estrada de chão batido.

Omotorista está sentado confortavelmente no banco de um carro, mas à sua frente três televisores de tela plana e 32 polegadas transmitem diferentes situações vividas no dia a dia a bordo de um automóvel. Como se estivesse imerso em um fliperama, ao final do trajeto, o condutor recebe a lista de infrações e manobras perigosas feitas nos 30 minutos de prática.

No CFC Rumo Certo, em Gravataí, foi feito ontem o primeiro teste de integração dos simuladores de direção ao sistema do Departamento Estadual de Trânsito do RS (Detran-RS). Os equipamentos passaram a ser obrigatórios em Centros de Formação de Condutores (CFCs) do país no início do ano. Segundo resolução do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), novos condutores de categoria B (automóveis) devem realizar cinco aulas de 30 minutos em simuladores de direção, ao custo de R$ 235,30. Com isso, o preço da carteira de habilitação terá um acréscimo de cerca de 20% (de R$ 1 mil para R$ 1,2 mil aproximadamente).

Dados serão transmitidos em tempo real para o Detran

As aulas serão monitoradas por câmeras nas salas dos CFCs, e os dados da simulação serão transferidos em tempo real para o Detran. Apesar do processo de adequação ter começado nos primeiros dias de 2014, não deve haver atrasos na entrega de novas licenças, segundo o coordenador de habilitação do Detran-RS, Jonas Bays. A medida passou a valer para alunos que se inscreverem nos CFCs a partir de 2 de janeiro e precisam realizar exame médico e psicológico, 45 horas/aula de curso teórico e a prova teórica antes de partir para o equipamento. Quem iniciou o processo antes desta data não é obrigado a usar o simulador.

– A primeira impressão é de que o simulador seria inócuo, mas parece bem interessante. Porém, evidentemente, a realidade virtual deixa muito a desejar à situação real – observa o engenheiro e especialista em trânsito Walter Kauffmann Neto.

O presidente do Sindicato dos CFCs e Auto e Moto Escolas do Estado (SindiCFC), Edson Cunha, dono do CFC Rumo Certo, acredita que a maioria dos centros já terá adquirido os simuladores até o final de janeiro. São 273 unidades no Rio Grande do Sul, que habilitam 57 mil condutores por mês.

– Pelo menos estarão na fase final de implantação – diz Cunha.

Contudo, no Brasil existem quatro empresas homologadas pelo Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) para fabricar os equipamentos – uma delas a Real Drive, de Caxias do Sul – ao custo de R$ 40 mil. Alguns CFCs estão adquirindo os simuladores em consórcios ou em forma de comodato, no qual alugam o simulador e pagam à empresa por horas de aula.


TIRE SUAS DÚVIDAS

Quem será obrigado a ter aulas com simulador?
Todos os alunos que pretenderem tirar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH), categoria B (automóveis), e iniciaram o processo a partir de 2 de janeiro de 2014. As aulas ocorrerão após aprovação na prova teórica.

Iniciei o processo em 31 de dezembro de 2013 e ainda não fiz as aulas práticas. Serei obrigado a passar pelo simulador depois da prova teórica?
Não. Os aspirantes a condutor que já iniciaram o processo da primeira habilitação antes do dia 2 de janeiro não precisam fazer aulas com o simulador.

Eu pagarei mais caro pela CNH?
Sim. Quem iniciou o processo da primeira habilitação a partir de 2 de janeiro terá de realizar cinco aulas de 30 minutos extras no simulador, após aprovação na prova teórica, ao custo de R$ 47,06 por exercício. Ao todo, o acréscimo será de R$ 235,30, cerca de 20% a mais do valor atual de uma carteira de motorista.

Pessoas que necessitam de veículos adaptados precisarão realizar as aulas?
Não, até que o Conselho Nacional de Trânsito publique a regulamentação específica.

Os CFCs terão os simuladores até quando?
De acordo com o SindiCFC, a maioria terá o equipamento até o final de janeiro. As unidades devem entrar em contato direto com as empresas fabricantes. Aqueles que não conseguirem adquiri-lo até o início das primeiras aulas podem fazer uso compartilhado com outros centros, desde que da mesma cidade.

A OPINIÃO DE QUEM EXPERIMENTOU

VANESSA DA SILVA RIBEIRO
, 29 anos, auxiliar de produção e aluna do CFC - A princípio, está sendo uma boa ideia, para quem nunca dirigiu e não tem noção do trânsito. Tenho moto, já peguei chuva, frio. O legal é que simula chuva, nevoeiro. E, fazendo uma aula prática, daqui a pouco a pessoa não encontra isso. Pode pegar todos os dias de sol e tempo bom. Passei por uma rua que era de brita e senti a direção tremer, como se estivesse em estrada de chão. A sinalização é bem visível, o carro passa por faixa de pedestre, cruzamentos. Achei bem interessante essa ideia. Não posso dizer que notei diferença porque nunca dirigi um carro. Se é para a pessoa ter uma noção de tempo e direção, vale a pena pagar. Até porque, quando começar a aula prática, vou saber onde se liga o sinal, as marchas, o limpador de para-brisa. Tendo essa simulação, dá para saber mais ou menos como é o trânsito.

WALTER KAUFFMANN NETO (na foto, ao volante), engenheiro e especialista em trânsito - O primeiro contato com o simulador foi bastante surpreendente. Em si, ele tem diversas diferenças em relação ao comportamento de um automóvel real. Porém, o software é muito bem planejado e coloca a pessoa em situações de risco que se tem contato no dia a dia. Eu vivenciei situações de chuva, de animais atravessando a pista, de veículo acidentado, de emergência em poucos minutos que manipulei o aparelho. O simulador expõe o aluno a situações de realidade em via urbana. Em termos de realidade virtual, deixa muito a desejar, evidentemente, comparado a uma situação real. Porém, acredito que o objetivo seja um contato didático com situações de perigo do dia a dia. Como sistema de educação complementar para o trânsito, ele tem uma utilidade bastante boa.