sexta-feira, 2 de março de 2012

MORTANDADE AMPLIADA


RS reconta vítimas do trânsito. Nova metodologia inclui nas estatísticas mais de 2 mil pessoas entre as que perderam a vida em vias gaúchas de 2007 a 2011 - LÉO GERCHMANN, ZERO HORA 02/03/2012

A sensação de carnificina que já existe nas vias do Rio Grande do Sul se justifica ainda mais agora, com a adoção, por parte do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), de uma nova metodologia para definir quem e quantos são os mortos em acidentes automobilísticos. A conclusão a que chegam as autoridades gaúchas, com a nova forma de apuração, é impactante: de 2007 a 2011, não são 7.294 vítimas nas conturbadas estradas, ruas e avenidas gaúchas como constatado anteriormente. São 9.708 – um aumento de 33% nas estatísticas.

Em termos brutos, esses números significam 2.414 novos nomes nos índices da mortandade que diariamente os gaúchos acompanham, e o Detran se diz imbuído em reduzir radicalmente.

Como principal novidade do método adotado pelas autoridades de trânsito, há o acompanhamento do ferido em acidente e sua inclusão nas estatísticas caso ele morra até 30 dias após o desastre – e não apenas no momento em que se acidenta, como era até agora.

Segundo Detran, método é adotado por outros países

Somam-se a esse, outros dois pilares: a morte no local do acidente e o cruzamento de informações para identificar o real motivo de alguma morte. Muitas vezes, a ocorrência policial relata apenas, por exemplo, que a pessoa sofreu um traumatismo craniano. Esse traumatismo pode ser resultante de um acidente automobilístico, e isso será investigado.

– Esse novo método terá muita importância no futuro, para nossas campanhas educativas e políticas públicas. Com dados mais precisos, é possível desenvolver políticas de trânsito mais adequadas. Essa metodologia é adotada em países que já tinham grandes progressos na redução de acidentes. É um avanço para o Estado – diz o presidente do Detran, Alessandro Barcellos.

A manifestação de Barcellos é corroborada pelo vice-governador, Beto Grill, responsável pelo Comitê de Mobilização pela Segurança no Trânsito.

– Fomos buscar conhecimento. Não estávamos completamente perdidos, mas tínhamos de aprimorar muitas coisas. Precisamos ter foco, trabalhar com ações objetivas. Informação é fundamental para o conjunto de ações que precisamos tomar.


PÁGINA 10 | ROSANE DE OLIVEIRA. Os 142 que não morreram

Comparadas às 2.025 mortes em acidentes de trânsito ocorridas em 2011 no Rio Grande do Sul, pode parecer absurdo celebrar as 142 vidas salvas em 12 meses, mas quando se pensa que um desses poderia ser um de nós ou dos nossos parentes, a estatística ganha outro sentido. Como saber quem poderia ter morrido em um acidente provocado por um motorista bêbado e se salvou graças às blitze da Balada Segura, às campanhas de conscientização ou ao trabalho de instituições como a Fundação Thiago Gonzaga?

Esse número de 142 é a diferença entre o número de vítimas fatais do trânsito em 2010 e os mortos de 2011. São 6,6% a menos, um índice duas vezes superior à meta anual da campanha da ONU que pretende reduzir em 50% as mortes no trânsito em uma década. Ainda vivemos uma carnificina nas ruas e estradas do Rio Grande do Sul, mas é preciso comemorar cada vida salva.

A comparação de um ano para outro mostra que foram poupados 96 jovens na faixa de 18 a 29 anos, apesar do aumento da frota de carros e motos. A redução das mortes nessa faixa etária teve uma redução de 14%, sinal de que é possível ter esperança e de que as medidas para coibir a embriaguez ao volante começam a produzir resultados.

Os dados apresentados ontem pelo vice-governador Beto Grill e pelo presidente do Detran, Alessandro Barcellos, são mais fiéis do que os dados historicamente divulgados pelo Detran. Ocorre que, com a mudança de metodologia na contagem das vítimas, agora a estatística contempla não apenas os que perderam a vida no local do acidente, mas também os que morreram nos hospitais nos 30 dias posteriores. Com dados mais precisos sobre o total e o perfil das vítimas, fica mais fácil planejar campanhas de prevenção.

O Detran recuou no tempo e atualizou as estatísticas de 2007 para cá, conferindo em cada ocorrência de trânsito se os feridos levados para os hospitais morreram nos 30 dias posteriores aos acidentes. O resultado mostrou o quanto o sistema usado historicamente era falho: na verdade, o trânsito matou, em média, 33% mais do que indicavam as estatísticas.

Menos mortes em 2011

O presidente do Detran, Alessandro Barcellos, festejou conquistas que, segundo ele, já são fruto do trabalho educativo e preventivo, especialmente o Balada Segura e o Viagem Segura (de controle nas rodovias). O Estado reverteu uma tendência nos índices dos acidentes nos últimos anos. Depois de seis anos de crescimento constante, 2011 registrou redução de 6,6% no número de mortes e de 5,8% no de acidentes com mortes em relação a 2010. Foram 2.025 mortes e 1.819 acidentes com mortes no ano passado contra 2.167 vítimas e 1.932 acidentes em 2010.

– O resultado disso é que poupamos 142 vítimas – comemora o presidente do Detran.

Caso seja mantida a tendência de queda, o Estado poderá ultrapassar a meta estabelecida pela ONU para a Década de Ação pela Segurança no Trânsito: reduzir em 50% as vítimas no trânsito até 2020. Para alcançar essa meta, a redução média anual no Estado deve ser de 3,3%, chegando a 1.562 mortes a menos em 2020.

Outro dado relevante, que também mostra uma tendência de redução das mortes em acidentes de trânsito: em janeiro deste ano, na comparação com janeiro de 2011, houve uma redução de 23,5% no número de mortes. Em relação a janeiro de 2010, a queda é de 24,3%.


O perfil. Confira dados sobre acidentes e vítimas do trânsito em 2011:

- Ainda a faixa com maior participação nas mortes no trânsito (31%), jovens de 18 a 29 anos morreram 14% menos.

- Em 2011 foi registrado um aumento das vítimas entre 50 e 54 anos (22%). Nas faixas extremas, a maioria das mortes foi por atropelamento (41% tinham até 14 anos). Com mais de 60 anos, 44% eram pedestres.

- Vinte dos 495 motociclistas mortos no trânsito conduziam uma motocicleta antes da idade mínima.

- Houve 128 mortes de ciclistas, 6% do total.

- Os caminhões são 5% da frota gaúcha, mas estão envolvidos em 18% dos acidentes.

- Os acidentes acontecem mais nos fins se semana (40%) e à noite (36%).

- Em 2011, 60% dos acidentes com mortes ocorreram nas rodovias (26% nas federais e 34% nas estaduais).

- Eram homens 80% dos mortos em acidentes.


O que muda

1. O Detran-RS adotará a metodologia recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para levantamento, controle e análise das estatísticas de trânsito.

2. A principal inovação é o acompanhamento das vítimas até 30 dias após o acidente, cruzando as informações dos feridos em acidentes de trânsito com registros posteriores de óbitos.

3. Até então, somente as mortes no local do acidente registradas como homicídio culposo na direção de veículo automotor eram contabilizadas.

4. Ficavam de fora tanto as lesões corporais seguidas de morte quanto aqueles que eram cadastrados com classificação diferente.

5. Não haverá um aumento na equipe para proporcionar esse trabalho, mas o Detran está aprimorando sua informatização e pretende formar um banco de dados.

6. O objetivo é que a adoção dessa nova metodologia permita uma visão mais realista do cenário dos acidentes fatais no Estado. Em média, 33% dos mortos ficavam de fora das estatísticas.

7. Até o momento, o levantamento foi feito retroativamente até 2007. O trabalho é manual, ocorrência por ocorrência, e envolve uma equipe de quatro pessoas trabalhando nesse levantamento.

8. O Detran estuda métodos para levantamentos mais detalhados de informações qualitativas dos acidentes. Cruzados, os fatores humano, referentes ao estado do veículo e do ambiente, podem mostrar causas e tendências.

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