domingo, 11 de março de 2012

KAMIKAZES NA ESTRADA

Oscar Bessi Filho - CORREIO DO POVO, 11/03/2012


Quem assistiu ao último "Repórter Record", domingo passado, deve ter ficado de cabelos em pé. E passou a aplicar suas economias nalgum fundo de fomento à criação do teletransporte - talvez único meio seguro de se chegar nalgum lugar. Num piscar de olhos, some daqui, aparece lá. Sem pegar estrada. Sem temer a roleta russa. Tipo pó de pirlimpimpim, do Monteiro Lobato. Só com mágica. E olhe lá. Ainda mais com certas engenharias de estradas, cujos trechos asfaltados não preveem sequer alguns centímetros de acostamento para pedestres ou ciclistas.

A matéria, produzida pela corajosa equipe de repórteres da TV Record, mostrou como o tráfico de drogas está contaminando as estradas do país. Num belo trabalho da Polícia Civil catarinense, a rotina diária de traficantes e usuários de cocaína e crack foi toda filmada. Uma rede imensa caiu. Mas o comércio não para. Caminhoneiros se drogam para suportar as horas ininterruptas de estrada e cometem barbaridades inimagináveis no trânsito. Como um que, drogado, perdeu o controle do caminhão e matou cinco operários numa obra da via. Cinco mortos. Cinco famílias destruídas. O caminhoneiro? Graças à impunidade institucional brasileira, está livre. Nas estradas. E de caminhão. Talvez usando mais e mais drogas.

Tenho familiares e amigos que trabalham em caminhão. Que encaram estradas. E não concordo com o rapaz que disse que 90% dos caminhoneiros, hoje, usam drogas. É desculpa esfarrapada de piá arteiro. Todo mundo faz, então, eu pensei que também podia. Mentira. Aposto que a maioria dos caminhoneiros fica longe de drogas, traficantes e dos já superados rebites. Agora, o problema cresce. O que fazer para conter isso?

Agir, neste caso, não é bater com força só na paleta - ou no bolso - do caminhoneiro. Tem que se fiscalizar as empresas, também. Transportadoras e contratantes. Aquela que estimular, permitir ou determinar longos deslocamentos, sem os devidos intervalos para descanso conforme pede a saúde humana, tem que tomar multa pesada. Ou fechar por determinado período, até aprender que não só sobre lucros caminha a humanidade. E basta espiar os tacógrafos para se conferir. Não é difícil. Bastaria vontade aos legisladores. Outra ação? Limitar o transporte de carga e passageiros pelas estradas. E o estado que não investir em linhas férreas, transporte aquático e alternativas perderia verbas federais. E tudo com prazo. Ou vão deixar as estradas explodirem? Chega de kamikazes alucinados, soltos por aí, matando famílias inteiras. É preciso mais do que só trabalho policial para mudar isso. É preciso deixar o mero lucro de lado e pensar um pouco - pelo menos um pouco! - em favor da vida.

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