PÁGINA 10 | ROSANE DE OLIVEIRA
A autópsia das estradas gaúchas, feita pelos repórteres Caio Cigana, Humberto Trezzi e Guilherme Mazui e publicada em caderno encartado nesta edição, oferece respostas para a maioria das perguntas que os motoristas fazem ao trafegar pelas rodovias gaúchas ou quando viajam para fora do Estado.
Quem vai ao Uruguai, por exemplo, não tem como evitar a comparação entre a qualidade do asfalto no país vizinho e no Rio Grande do Sul. Até a estrada secundária que vai de Rio Branco a Treinta y Tres tem pavimentação melhor do que as nossas BRs. Nesse caso, a resposta salta aos olhos: não há tráfego de caminhões pesados.
Um dos principais gargalos de infraestrutura do Rio Grande do Sul, a má qualidade das estradas impacta no custo de produção do Estado e afugenta investidores. É difícil explicar para um forasteiro por que só agora está sendo duplicada a BR-116 no trecho que liga a Capital a Pelotas e a BR-392 entre Pelotas e Rio Grande. Mais difícil ainda é entender por que nessa estrada o motorista de um automóvel paga R$ 42,50 de pedágio entre Eldorado do Sul e Rio Grande.
O modelo de pedágios adotado em 1998 livrou o Estado de investir na conservação de 2 mil quilômetros de rodovias nos últimos 15 anos, mas colaborou para engessar as duplicações. Como os contratos não previam obras de vulto, as concessionárias não investiram. E o poder público se sentiu desobrigado de investir porque as rodovias estavam nas mãos do setor privado.
Os repórteres que durante dois meses mergulharam nos problemas de algumas estradas emblemáticas para o Estado produziram um diagnóstico completo dos fatores que levam o Rio Grande do Sul à vergonhosa condição de lanterna do país em matéria de pavimentação, mas não ficaram só nisso. Mostraram o que faz nossas rodovias terem vida curta e o que poderia ser feito para preservá-las.
A BR-101 pode ser usada como exemplo de estrada que, na duplicação, enfrentou os mesmos problemas da Rota do Sol e da BR-116 Sul. Concluída há pouco mais de dois anos, já apresenta sinais de deterioração do pavimento, com rachaduras, buracos e problemas no acostamento.
A opção do governo federal por não transferir a BR-101 duplicada para iniciativa privada conservar foi saudada pelos usuários como uma grande conquista. A comparação com a freeway sugere que o barato pode acabar saindo caro: não se paga pedágio, mas a manutenção é precária.
O governo federal garante que não faltarão recursos para a conservação das BRs que serão retomadas no Estado, mas a memória do que eram antes das concessões e os problemas na BR-101 recomendam cautela na comemoração.
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