RISCO NA ESTRADA DO MAR
Ao atingir uma vaca sobre a pista, motorista de micro-ônibus colidiu contra caminhão, em acidente que matou quatro pessoas
O desastre que deixou quatro mortos em Arroio do Sal, no Litoral Norte, na noite de quarta-feira, trouxe à tona um risco diário enfrentado por motoristas na Estrada do Mar. A presença de animais sobre a rodovia, como a vaca que levou à colisão entre um micro-ônibus com estudantes universitários e um caminhão, se tornou ameaça constante. Ontem pela manhã, horas depois e a poucos quilômetros do acidente, duas cabeças de gado foram retiradas do asfalto pela Brigada Militar.
Pouco depois das 22h30min de quarta, o micro-ônibus conduzido por Michelle Gonçalves Selbach, 31 anos, seguia no sentido Torres-Capão da Canoa com mais de duas dezenas de estudantes da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra). Passou pelo trevo de acesso de Arroio do Sal para deixar um rapaz logo adiante. O veículo retornou para a entrada do balneário – mas topou com uma vaca a cerca de 500 metros do acesso à praia.
O choque fez com que o veículo perdesse o controle e colidisse contra o caminhão guiado por Sebastião Rodrigues Filho, 44 anos, que estava com o direito de dirigir suspenso devido ao acúmulo de pontos por infrações. Rodrigues morreu logo depois, e Michelle, na manhã seguinte, no Hospital Santa Luzia de Capão da Canoa. Morreram na hora as amigas Ana Paula Vargas de Oliveira, 21 anos, estudante de Administração, e Giovanna Emanuella Marcon, 22 anos, estudante de Educação Física. Mais de 20 feridos foram levados a hospitais do Litoral.
A presença de animais sobre a pista, fator determinante para a tragédia, segundo o delegado substituto de Arroio do Sal, Adriano Koehler Pinto, é uma rotina ameaçadora. O sargento do Comando Rodoviário Flávio Veiga revela que todos os dias a BM flagra bois, vacas ou cavalos entre os carros:
– Horas depois do acidente, a cerca de sete quilômetros do local, tivemos de remover outros dois animais.
Segundo Veiga, o problema é que os bichos escapam das propriedades à margem da rodovia. Como na maioria das vezes os animais não têm identificação, os policiais não conseguem responsabilizar os proprietários. Alguns bois são deixados amarrados do lado de fora das cercas, como ZH flagrou ontem no trecho entre Arroio do Sal e Torres, presos por apenas uma corda.
MARCELO GONZATTO | ARROIO DO SAL
Estudantes estavam perto de casa
As três vítimas de Arroio do Sal estavam a minutos de chegar em casa quando se envolveram no acidente sobre a Estrada do Mar. Amigas devido às constantes viagens entre o campus da Ulbra em Torres e Arroio do Sal e à proximidade onde moravam, seriam veladas em uma cerimônia conjunta no ginásio do Esporte Clube Arroio do Sal. No começo da noite de ontem, os corpos de Ana Paula e Giovanna já estavam no local, e o de Michelle era aguardado.
As mortes mobilizaram a população de Arroio do Sal. Centenas de familiares, amigos e conhecidos passaram pelo ginásio durante a tarde. O diretor da escola onde Giovanna trabalhava, Jader Oliveira Medeiros, lembra que a jovem era conhecida pelo bom humor e pela vaidade. Todos os dias, Medeiros fechava o estabelecimento às 18h, mas esperava outros 20 minutos até que Giovanna terminasse de se arrumar, maquiar e então tomar o rumo do curso de Educação Física na Ulbra:
– A gente brincava perguntando se ela ia estudar ou arrumar namorado.
Ana Paula era a caçula da família, nascida depois de um irmão e uma irmã. Além de estudar Administração, durante o dia trabalhava na loja da família, a Bom Preço, localizada na entrada de Arroio do Sal. A colega de serviço Adriana Cristina Leite, 35 anos, conta que a jovem era muito querida pelos colegas.
– Fiz mais de 50 ligações tentando falar com ela, até saber que tinha morrido – lamentou Adriana.
Uma sobrevivente do choque que se encontrava internada até a tarde de ontem, a estudante Anelise Panozzo, 19 anos, chorou e ficou bastante abalada ao saber que a condutora do micro-ônibus, Michelle, também havia morrido no acidente. Anelise, que completa 19 anos hoje, contou aos pais que percebeu quando a vaca entrou no caminho do veículo.
– Ela percebeu que ia bater, mas não havia nada que pudesse ser feito – conta o pai da adolescente, Agostinho Panozzo, 58 anos.
As vítimas de Arroio do Sal serão sepultadas de manhã no município.
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