terça-feira, 4 de dezembro de 2012

COMO A FRANÇA VENCEU A GUERRA DO TRÂNSITO


04 de dezembro de 2012 | N° 17273

PAZ NAS ESTRADAS

Zero Hora viajou até Paris para verificar como foi implementada a estratégia francesa para conter a mortandade no trânsito. A fórmula que transformou o país europeu em referência mundial servirá de modelo para o Rio Grande do Sul tentar reduzir a violência nas estradas gaúchas

Um país com a reputação de ter motoristas mal-educados se tornou um dos modelos do Rio Grande do Sul no combate ao massacre nas estradas, responsável por tirar a vida de 2 mil gaúchos por ano.

Em viagem a Paris para verificar como a França está enfrentando as tragédias do trânsito, Zero Hora percebeu que os franceses, com quem o Departamento Estadual de Trânsito (Detran) assinou acordo de cooperação, ignoram quando o pedestre põe o pé na faixa, andam com a motocicleta na contramão da pista do ônibus e desprezam o conselho de evitar o volante depois do tradicional vinho no jantar.

– Nós guiamos o carro da mesma maneira que os brasileiros – atesta Joël Valmain, conselheiro técnico para questões internacionais do Delegado Interministerial pela Segurança Viária da França, que se espantou com o exagero na velocidade dos motoristas em visita à Capital neste ano.

Com essa situação adversa – ZH flagrou inclusive pessoas saindo de bares e restaurantes e assumindo o volante depois de consumir bebida alcoólica –, era de se esperar que a tragédia nas estradas se ampliasse a cada ano. Mas a França surpreende. Mesmo com o crescimento da população e da frota, o país derrubou em 75% o número de mortes em quatro décadas. A taxa atual atinge seis mortes a cada 100 mil habitantes, três vezes menor do que o índice gaúcho (um dos mais baixos do país).

O segredo é adotar uma fórmula sem segredos e sem mágicas. Fez o óbvio: em uma frente investiu em prevenção e, em outra, ampliou os rigores contra as infrações, freando a imprudência – o comportamento nas ruas é ruim, como se verifica em um passeio pela Cidade Luz, mas já foi pior.

O diretor-adjunto do gabinete do ministro delegado de Transportes, François Poupard, acredita que os avanços na segurança dos carros, os investimentos nas estradas, as campanhas permanentes contra o álcool e o combate ao abuso na velocidade aparecem como pontos decisivos na queda.

O Rio Grande do Sul deseja seguir o caminho francês. Apesar da fase inicial, o intercâmbio já gera as primeiras influências. O Estado acaba de criar um Observatório de Trânsito. A iniciativa, conforme o presidente do Detran, Alessandro Barcellos, servirá para integrar os órgãos de trânsito e unificar as estatísticas. Especialistas apontam a escassez de informações como um dos nós do trânsito brasileiro.

O cerco à velocidade também gera inspiração. Presidente do Comitê Estadual de Mobilização pela Segurança no Trânsito, o vice-governador Beto Grill se entusiasmou com os resultados dos radares, que salvaram pelo menos 23 mil vidas em nove anos. O Estado tenta destravar a licitação que dotará as estradas estaduais de pardais. E o Detran estuda a instalação de controladores de velocidade média, que flagram motoristas que fizerem um percurso longo em tempo menor do que estipula a lei. O teste deverá começar em 2013.

*O repórter viajou à França a convite do Ministério das Relações Exteriores francês

jaisson.valim@zerohora.com.brJAISSON VALIM* | FRANÇA

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