ZERO HORA 17 de agosto de 2013 | N° 17525
ANDRÉ MAGS
PERFIL NO TRÂNSITO. Estatísticas do Detran revelam um salto no percentual de multas aplicadas em motoristas na faixa de 21 a 25 anos no Estado
Os últimos dados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) apontam crescimento no número de infrações cometidas por motoristas entre 21 e 25 anos maior do que o de todas as outras faixas etárias. As multas estão em progressão entre os jovens também a partir dos 18 anos, e as explicações podem envolver desde a economia até o formato das aulas para motociclistas.
Desde 2007, o gráfico de infrações cometidas por quem tem entre 21 e 25 anos não para de subir, enquanto a proporção dessa faixa etária no total de condutores segue praticamente a mesma – 10,7% em 2007 e 10,17%, em 2013. Neste intervalo de seis anos, as infrações cometidas pelos condutores dessa faixa etária saltaram de 1,4% para 11,1% do total. Apesar de menos representativo entre o total de condutores, o grupo entre 18 e 20 anos apresenta evolução nas multas desde 2011. Entre 2007 e 2010, não havia registro de infrações cometidas por esses jovens.
Ainda não foi feito um estudo para identificar fatores que expliquem a alta, mas indícios apontados pelo Detran levam em conta a formação dos condutores. Silvério Kist, chefe da Divisão de Planejamento e Estatística do departamento, lembra que as motocicletas têm sido muito procuradas por jovens de 18 a 25 anos, devido ao preço mais barato em relação a automóveis. Só que o aprendizado na condução do veículo poderia ser aperfeiçoado, salienta:
– A gente considera que a habilitação de moto poderia ser um pouco mais rígida, para fazer com que a pessoa saia do CFC (Centro de Formação de Condutores) com uma experiência maior para lidar no trânsito. A aula prática é feita dentro de um ambiente indoor. Isso não faz com que o candidato saia de lá com a experiência necessária para andar nas ruas. A pessoa que vai se habilitar com motocicleta precisa ter uma percepção e uma habilidade maiores do que no carro, já que tem a questão do equilíbrio, entre outras coisas.
De qualquer forma, Kist considera bom que tenha aumentado o número de autuações entre os jovens porque isso reduz a sensação de impunidade. Ele lembra que melhorias passam por reformulação no setor de habilitação para motos. Existem discussões para mudar a legislação federal, sem efeitos, no momento.
Dirigente critica culpa jogada no condutor
Presidente do Sindicato dos Motociclistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindimoto-RS), Valter Ferreira da Silva centra suas críticas na formação dos condutores de moto. Para ele, 40 horas para aulas de teoria são insuficientes. Além disso, ele acha que as aulas práticas deveriam ter, no mínimo, 40 horas – sendo que só 15 delas em local fechado. O restante, nas ruas:
– Por que esses jovens tomam multa? Porque não aprenderam a pilotar decentemente na via, não tiveram contato com as placas.
Outro problema, segundo Silva, é “a falta de padrão na sinalização das rodovias”. Em um espaço a velocidade máxima é 60 km/h, em outro é 80 km/h, depois, 120 km/h.
– O trânsito está uma bagunça tão grande e sempre se joga a culpa em cima do condutor. A responsabilidade é do poder público que não investe e não educa. Se fosse pai de um jovem multado, entraria na Justiça porque o colocaram na rua sem conhecimento para pilotar uma máquina que pode ceifar a vida dele e de outros tantos que estiverem na via – afirma.
Economia põe mais novos em deslocamento
Com mais ofertas de trabalho aos jovens, eles estão se deslocando mais, tornando-se expostos à fiscalização de trânsito de uma forma nunca vista em gerações anteriores. Essa é a base da reflexão do sociólogo e consultor em segurança no trânsito Eduardo Biavati. Em uma economia de pleno emprego, há oportunidades de trabalho às faixas etárias que acabaram de ingressar no mercado de trabalho, e veículos como as motocicletas são os mais acessíveis para esses grupos.
– Mesmo que o contingente dessa faixa etária tenha se mantido constante ao longo desses anos na comparação com os demais condutores, tem que se considerar que é uma faixa etária de entrada no mercado de trabalho, e isso coincide com uma queda muito importante do desemprego. Os setores econômicos do Rio Grande do Sul vêm há tempos alertando para a escassez de mão de obra. É uma demanda que talvez esteja implicando em uma mobilidade maior – analisa.
Ainda que parte desses trabalhadores possa ter se empregado em funções que exigem o uso constante de veículos, como motoboys, essa não deve ser a regra, ressalta Biavati. Como o fenômeno econômico é nacional, o sociólogo cita uma pesquisa feita no Hospital das Clínicas de São Paulo. Do total de mortos no trânsito com motocicletas, dois terços não trabalhavam com o veículo, somente estavam em deslocamento.
As estatísticas do Detran também apontam uma importante presença de jovens vítimas entre os mortos no trânsito em motocicletas no trânsito gaúcho. Dos 264 acidentes fatais no primeiro semestre deste ano, 71 (26,8%) eram motociclistas de 18 a 24 anos. Em automóveis, dos 259 acidentes com óbitos, as vítimas no mesmo grupo etário chegaram a 50 (19%).
EXPLICAÇÕES. Indícios para o crescimento das infrações cometidas pelos jovens, segundo o Departamento Estadual de Trânsito (Detran)
- Municipalização no trânsito: aumento da fiscalização dentro dos municípios – onde os jovens circulam com mais frequência – com lombadas, pardais e agentes de trânsito, enquanto nas rodovias estaduais houve a desativação dos controladores de velocidade. Hoje, há 420 municípios gaúchos com a fiscalização do trânsito municipalizada, muito mais do que há cinco ou seis anos
- Aumento das blitze elevou o número de autuações
- Habilitação poderia ser mais rígida e ir além das práticas indoor
- Aumento da frota de motocicletas a partir de 2006 e 2007 por causa do baixo preço
- Maior número de compradores de motos entre 18 e 25 anos
- Mudança do sistema de fiscalização: pardais passaram a contar com tecnologia capaz de também flagrar motos em alta velocidade
PERFIL NO TRÂNSITO. Estatísticas do Detran revelam um salto no percentual de multas aplicadas em motoristas na faixa de 21 a 25 anos no Estado
Os últimos dados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) apontam crescimento no número de infrações cometidas por motoristas entre 21 e 25 anos maior do que o de todas as outras faixas etárias. As multas estão em progressão entre os jovens também a partir dos 18 anos, e as explicações podem envolver desde a economia até o formato das aulas para motociclistas.
Desde 2007, o gráfico de infrações cometidas por quem tem entre 21 e 25 anos não para de subir, enquanto a proporção dessa faixa etária no total de condutores segue praticamente a mesma – 10,7% em 2007 e 10,17%, em 2013. Neste intervalo de seis anos, as infrações cometidas pelos condutores dessa faixa etária saltaram de 1,4% para 11,1% do total. Apesar de menos representativo entre o total de condutores, o grupo entre 18 e 20 anos apresenta evolução nas multas desde 2011. Entre 2007 e 2010, não havia registro de infrações cometidas por esses jovens.
Ainda não foi feito um estudo para identificar fatores que expliquem a alta, mas indícios apontados pelo Detran levam em conta a formação dos condutores. Silvério Kist, chefe da Divisão de Planejamento e Estatística do departamento, lembra que as motocicletas têm sido muito procuradas por jovens de 18 a 25 anos, devido ao preço mais barato em relação a automóveis. Só que o aprendizado na condução do veículo poderia ser aperfeiçoado, salienta:
– A gente considera que a habilitação de moto poderia ser um pouco mais rígida, para fazer com que a pessoa saia do CFC (Centro de Formação de Condutores) com uma experiência maior para lidar no trânsito. A aula prática é feita dentro de um ambiente indoor. Isso não faz com que o candidato saia de lá com a experiência necessária para andar nas ruas. A pessoa que vai se habilitar com motocicleta precisa ter uma percepção e uma habilidade maiores do que no carro, já que tem a questão do equilíbrio, entre outras coisas.
De qualquer forma, Kist considera bom que tenha aumentado o número de autuações entre os jovens porque isso reduz a sensação de impunidade. Ele lembra que melhorias passam por reformulação no setor de habilitação para motos. Existem discussões para mudar a legislação federal, sem efeitos, no momento.
Dirigente critica culpa jogada no condutor
Presidente do Sindicato dos Motociclistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindimoto-RS), Valter Ferreira da Silva centra suas críticas na formação dos condutores de moto. Para ele, 40 horas para aulas de teoria são insuficientes. Além disso, ele acha que as aulas práticas deveriam ter, no mínimo, 40 horas – sendo que só 15 delas em local fechado. O restante, nas ruas:
– Por que esses jovens tomam multa? Porque não aprenderam a pilotar decentemente na via, não tiveram contato com as placas.
Outro problema, segundo Silva, é “a falta de padrão na sinalização das rodovias”. Em um espaço a velocidade máxima é 60 km/h, em outro é 80 km/h, depois, 120 km/h.
– O trânsito está uma bagunça tão grande e sempre se joga a culpa em cima do condutor. A responsabilidade é do poder público que não investe e não educa. Se fosse pai de um jovem multado, entraria na Justiça porque o colocaram na rua sem conhecimento para pilotar uma máquina que pode ceifar a vida dele e de outros tantos que estiverem na via – afirma.
Economia põe mais novos em deslocamento
Com mais ofertas de trabalho aos jovens, eles estão se deslocando mais, tornando-se expostos à fiscalização de trânsito de uma forma nunca vista em gerações anteriores. Essa é a base da reflexão do sociólogo e consultor em segurança no trânsito Eduardo Biavati. Em uma economia de pleno emprego, há oportunidades de trabalho às faixas etárias que acabaram de ingressar no mercado de trabalho, e veículos como as motocicletas são os mais acessíveis para esses grupos.
– Mesmo que o contingente dessa faixa etária tenha se mantido constante ao longo desses anos na comparação com os demais condutores, tem que se considerar que é uma faixa etária de entrada no mercado de trabalho, e isso coincide com uma queda muito importante do desemprego. Os setores econômicos do Rio Grande do Sul vêm há tempos alertando para a escassez de mão de obra. É uma demanda que talvez esteja implicando em uma mobilidade maior – analisa.
Ainda que parte desses trabalhadores possa ter se empregado em funções que exigem o uso constante de veículos, como motoboys, essa não deve ser a regra, ressalta Biavati. Como o fenômeno econômico é nacional, o sociólogo cita uma pesquisa feita no Hospital das Clínicas de São Paulo. Do total de mortos no trânsito com motocicletas, dois terços não trabalhavam com o veículo, somente estavam em deslocamento.
As estatísticas do Detran também apontam uma importante presença de jovens vítimas entre os mortos no trânsito em motocicletas no trânsito gaúcho. Dos 264 acidentes fatais no primeiro semestre deste ano, 71 (26,8%) eram motociclistas de 18 a 24 anos. Em automóveis, dos 259 acidentes com óbitos, as vítimas no mesmo grupo etário chegaram a 50 (19%).
EXPLICAÇÕES. Indícios para o crescimento das infrações cometidas pelos jovens, segundo o Departamento Estadual de Trânsito (Detran)
- Municipalização no trânsito: aumento da fiscalização dentro dos municípios – onde os jovens circulam com mais frequência – com lombadas, pardais e agentes de trânsito, enquanto nas rodovias estaduais houve a desativação dos controladores de velocidade. Hoje, há 420 municípios gaúchos com a fiscalização do trânsito municipalizada, muito mais do que há cinco ou seis anos
- Aumento das blitze elevou o número de autuações
- Habilitação poderia ser mais rígida e ir além das práticas indoor
- Aumento da frota de motocicletas a partir de 2006 e 2007 por causa do baixo preço
- Maior número de compradores de motos entre 18 e 25 anos
- Mudança do sistema de fiscalização: pardais passaram a contar com tecnologia capaz de também flagrar motos em alta velocidade
Nenhum comentário:
Postar um comentário