quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

CERCO A MOTORISTAS NÃO FREIA MORTES


ZERO HORA 17 de janeiro de 2013 | N° 17315

IMPRUDÊNCIA NO TRÂNSITO

Após redução em 2011, o número de vítimas da carnificina das vias do Rio Grande do Sul apresentou aumento de 2,62% em 2012. Ainda que as autoridades tenham reforçado a fiscalização e as campanhas de conscientização, foram 53 mortes a mais em relação ao ano anterior, ampliando as tragédias que enlutam as famílias gaúchas.


PEDRO MOREIRA

A imprudência venceu uma batalha contra a prevenção. Mesmo com a guerra declarada pelos órgãos de fiscalização à combinação letal entre álcool e direção, o número de mortes no trânsito gaúcho em 2012 superou o registrado em 2011. A barreira das 2 mil vítimas de acidentes em ruas, avenidas e rodovias foi, pelo terceiro ano seguido, ultrapassada no Rio Grande do Sul.

Dados preliminares divulgados pelo Departamento Estadual de Trânsito (Detran) apontam um aumento de 2,62% no número de mortes nas vias do Estado. Isso significa que houve 53 vítimas de capotagens, colisões ou atropelamentos a mais entre janeiro e dezembro passados na comparação com o mesmo período anterior. Foram 2.078 mortes, contra 2.025 em 2011.

Considerando que o aumento na frota deve ficar em torno de 7% no período, o número de óbitos é interpretado como estável por especialistas. O total (que ainda pode aumentar, pois o Detran monitora feridos que morrem em hospitais até 30 dias após os acidentes), entretanto, é alarmante. O diretor-técnico do Detran, Ildo Mário Szinvelski, lamenta o alto número de mortes e coloca a carnificina na conta de uma velha conhecida das autoridades: a imprudência dos motoristas.

– O número de acidentes é uma questão, em primeiro lugar, da responsabilidade do condutor. Essa questão da consciência das pessoas, da impaciência, imprudência de não observar regras e leis de trânsito – alega.

Szinvelski afirma que o órgão trabalha para intensificar a fiscalização nas rodovias e reforçar ações de educação no trânsito em escolas. Além disso, estão em estudo mudanças nas grades curriculares dos Centros de Formação de Condutores. A ideia é do respeito a pedestres e ciclistas. As alterações estão sendo avaliadas.

Mais homens entre as vítimas

Considerando balanços anuais desde 2007, a trajetória da mortandade apresentou baixa apenas entre 2010 e 2011. O levantamento de 2012 confirma tendências registradas anteriormente, como a predominância de homens entre os mortos e mais óbitos entre sexta-feira e domingo.

Para o especialista em transportes e professor da UFRGS João Fortini Albano, a análise de números absolutos requer precaução. Albano explica que, com o aumento da frota, o número de viagens e de quilômetros percorridos aumenta consideravelmente, resultando em uma exposição maior ao risco de acidentes. Além disso, o professor entende que muitos motoristas inexperientes, que não tinham carro até pouco tempo atrás, passaram a andar em estradas.

– Claro que são 53 mortes a mais. Mas, se fizermos uma taxa dividindo frota por mortos, veremos que o índice baixa nos últimos anos. As campanhas de direção segura e o aumento da fiscalização mantiveram os parâmetros. É preciso melhorar a formação de condutores levando eles às estradas, tornar obrigatório o treinamento nas rodovias – argumenta Albano.

Ausência de radares gera divergências

Especialistas e autoridades ouvidos por Zero Hora divergem sobre a contribuição da ausência de radares nas rodovias estaduais (os equipamentos estão desativados há mais de dois anos) e a demora na instalação dos aparelhos em parte das estradas federais para a elevação no número de mortes. É o que pensa o professor de transportes e trânsito do curso de Engenharia Civil da Unisinos, João Hermes Junqueira. Ele ressalta que os pardais ou lombadas eletrônicas resumem a fiscalização a pontos restritos:

– Se tivesse a via toda com o radar, seria diferente, mas não há essa condição. As operações sistemáticas, como a Balada Segura e o Viagem Segura, é que são importantes. Nessas você fala com as pessoas, conscientiza e traz resultados benéficos.

O diretor Ildo Szinvelski entende que a ausência de controladores tem influência sobre o número de mortes, sob o argumento de que o excesso de velocidade é a infração mais recorrente dos motoristas gaúchos.

– A infraestrutura das estradas também não acompanhou o aumento da frota. Temos de aproveitar outros modais, como o transporte hidroviário e os trens – conclui o diretor.


AS PRINCIPAIS AÇÕES

Os órgãos de fiscalização de trânsito do Rio Grande do Sul concentram o ataque à carnificina nas estradas e avenidas em duas grandes frentes, a Operação Balada Segura e o Viagem Segura:

O reforço na fiscalização nas noites de Porto Alegre e Caxias do Sul, por exemplo, já garantiu redução no número de mortes e crescimento representativo nas autuações por embriaguez ao volante. Na Capital, já foram 356 blitze entre o final de setembro de 2011 e dezembro de 2012. Em Porto Alegre, mais de 20 mil testes do bafômetro foram realizados, com 305 condutores presos por dirigirem alcoolizados (com mais de 0,33 miligrama de álcool por litro de ar expelido dos pulmões).

Criada após um estudo que apontou os pontos mais violentos das estradas gaúchas, a Operação Viagem Segura envolve diferentes órgãos de fiscalização de trânsito e de segurança do Estado. Nos feriadões, as autoridades montam barreiras e fiscalizam automóveis, também combatendo o uso de álcool. Até hoje, já foram realizadas 15 edições da ação, com quase 1,4 milhão de veículos fiscalizados.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Não adiantam as leis, sinalização utópica, radares e campanhas de educação e prevenção de acidentes de trânsito, elas continuarão inoperantes se a justiça continuar desinteressada e morosa nas suas decisões e se não houver policiais e fiscais de trânsito patrulhando as ruas e rodovias, especialmente nos locais de maior risco e de ultrapassagem proibida. A justiça brasileira mantém uma postura alheia às questões de ordem pública e os efetivos das forças policiais e dos fiscais de trânsito são insuficientes para manter a presença preventiva e coativa nas ruas e rodovias do Brasil.   

A minha sugestão é....

- Transformar a PRF em Polícia Nacional de Fronteiras, passando todas as rodovias para encargo das Polícias Estaduais, regatando o princípio federativo previsto na Constituição de 1988;

- Investir na Brigada Militar em efetivos e no processo moto com o reforço de viaturas de resposta rápida e apoio de unidades (motohome) logísticas capazes de transportar motos, promover campanhas educativas e se fixar como posto de controle e manutenção ao longo das rodovias. Desta forma, as guarnições podem se manter nas estradas o máximo do dia em locais alternados sem depender das Unidades fixas.

- Retornar e garantir o controle e a fiscalização do trânsito pela Brigada Militar, cumprindo assim o artigo 132 da Constituição do RS, dando mais visibilidade e permanência ao policiamento ostensivo preventivo.








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