sábado, 22 de fevereiro de 2014

A BR-290 E OS TONS DO PERIGO


ZERO HORA 22 de fevereiro de 2014 | N° 17712


ANDRÉ MAGS | PANTANO GRANDE


ARMADILHAS. Buracos e desníveis são desafios no trecho Porto Alegre-Pantano Grande



Um concerto no asfalto começa a reger o trânsito na rodovia Porto Alegre-Pantano Grande (BR-290). Pode ser um naipe de metais – o carter batendo contra a elevação na pista pouco antes do pedágio abandonado da Univias no sentido Interior-Capital – ou um bumbo seco – o pneu caindo em alguns dos buracos entre Arroio dos Ratos e Pantano Grande.

As viagens por esse trecho da BR-290 têm sido acompanhadas por essa trilha sonora desde as primeiras semanas de 2014, calculam usuários contumazes da via. Foi pouco depois de o pedágio da Univias deixar de ser cobrado.

Ontem, alguns sinais de recapeamento emergencial mostravam que o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) percebeu o perigo. A autarquia diz que aguarda que a empresa vencedora da licitação para restauração da estrada assuma o serviço. A solução definitiva será a duplicação e restauração de trechos de 57,5 quilômetros de extensão, em um investimento de mais de R$ 300 milhões prometido pela presidente Dilma Rousseff na inauguração da Rodovia do Parque, em dezembro. Enquanto isso, porém, segue arriscado circular pelo trecho.

Voltando de férias em Santa Maria para Porto Alegre, o eletrotécnico e estudante de Engenharia na PUCRS Jean Kessler, 31 anos, sentiu o baque em um afundamento nas proximidades do posto da Polícia Rodoviária Federal em Pantano Grande. Parou mais adiante para conferir e confirmou o estrago na parte interna da calota do seu Corsa. Pararia no primeiro posto de combustíveis para analisar melhor o estrago.

– Fazia uns seis meses que eu não percorria essa estrada. Piorou bastante desde então – observou.

“É o pior momento em três anos”, afirma motorista

Quem conserta pneus furados na área da BR-290 tem trabalhado mais do que o normal. O borracheiro Flavio Roberto Trindade da Silveira, 49 anos, estava com o macacão sujo de graxa. Ganhou mais trabalho nos últimos meses por causa, principalmente, de uma cratera que arrebentava pneus na entrada para Arroio dos Ratos. Há cinco anos no mesmo ponto à beira da BR-290, nunca teve tanto serviço. Chegou a suspirar antes de dizer:

– Igual como está agora, tá louco. De Pantano Grande para cá, está horrível – afirma o profissional.

Três vezes por semana, Darin Feijó Gomes, 51 anos, encara a BR-290. A frequência o transformou em um expert sobre a via. Observador, coleciona situações que testemunhou ou ficou sabendo, como um amigo que perdeu o carter ao bater em um calombo de asfalto ou um caminhão que saiu da pista ao se desgovernar nas irregularidades da pista. A opinião dele é de que o fim da concessão pedagiada foi prematuro, por não haver um plano B pronto para ser colocado em prática:

– É o pior momento da rodovia nos últimos três anos. Que diferença faria tirar o pedágio um pouco depois? Agora a estrada fica assim, sem pai nem mãe – afirma.


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