terça-feira, 26 de junho de 2012

IMPRUDÊNCIA ALAVANCA MORTES EM MOTOS


RISCO EM DUAS RODAS - ITAMAR MELO, ZERO HORA 26/06/2012




Já se sabia que o alto índice de mortos e feridos em acidentes com motos decorria da situação de desproteção de quem está sobre duas rodas. Mas uma pesquisa recém-concluída pelo Departamento Estadual de Trânsito (Detran-RS) revela que há outro importante fator envolvido: a irresponsabilidade dos motociclistas.

Conforme o Mapa da Acidentalidade Estadual com Foco em Motocicletas, dos 2.452 condutores de moto que se envolveram em acidentes fatais entre 2007 e 2010, 27% não tinham habilitação. A falta de carteira foi a terceira infração mais cometida por motociclistas de 2007 até o ano passado, com 36,3 mil casos. Entre os motoristas de automóveis, essa é apenas a nona infração mais comum.

As estatísticas sugerem, ainda, que muitos dos pilotos sequer têm idade para se habilitar. Entre 2007 e 2008, 138 adolescentes com idade entre 15 e 17 anos morreram em acidentes envolvendo motos – 82 estavam ao guidão. De janeiro a maio de 2012, 29% dos mortos do trânsito gaúcho estavam sobre uma moto.

– Está faltando consciência e responsabilidade – afirma Ildo Mário Szinvelski, diretor-técnico do Detran/RS.

Mais óbitos nos finais de semana

Um dos principais agravantes é a facilidade para comprar uma moto – hoje é possível dividir o custo em 60 vezes, com parcelas que, para muitos, significam menos do que o gasto mensal em passagem de ônibus.

– Está tão barato que até menores de idade estão comprando. No meio rural, os gaúchos estão trocando o cavalo pela moto – observa João Fortini Albano, professor do Laboratório de Sistemas de Transportes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

O estudo mostra que metade das mortes atinge pessoas com menos de 30 anos – especialmente na faixa dos 18 aos 24. Os óbitos ocorrem mais à noite e nos fins de semana.

Segundo Szinvelski, o Detran tem trabalhado com Centros de Formação de Condutores para reforçar a educação dos candidatos a motociclista. O órgão também elaborou, com o Sindicato dos Motociclistas Profissionais (Sindimoto), uma cartilha com dicas de segurança. Entre 2009 e 2011, o SUS pagou a internação de 3.534 motociclistas gaúchos feridos em acidentes. A conta foi de R$ 4,8 milhões.

Detran irá propor mudança na formação

O Detran gaúcho vai apresentar, no próximo mês, um conjunto de propostas para mudar a legislação brasileira que rege a formação e a habilitação dos condutores de motos. A intenção é mexer no Código de Trânsito Brasileiro e em resoluções do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) para preparar melhor os condutores.Técnicos do departamento estão concluindo o estudo, motivado pelas estatísticas envolvendo motociclistas. As propostas serão oficializadas no encontro da Associação Nacional dos Detrans, na Capital, em julho.

O diretor-técnico do órgão, Ildo Mário Szinvelski, não detalha que alterações serão sugeridas, mas antecipa que elas incidirão sobre questões como aulas práticas e ampliação de carga horária.

– Os números apontam que é preciso qualificar os condutores. Precisamos de um reposicionamento pedagógico – afirma.

A formação de motociclistas é considerada deficiente por especialistas. Uma das críticas é sobre a falta de aulas nas ruas. Para a vice-presidente da Associação dos Motociclistas do Rio Grande do Sul, Lorena Herte de Moraes, a formação é inferior à que se dá a motoristas de carros – apesar de a moto deixar o condutor mais vulnerável:

– As aulas não preparam para as situações que serão encontradas. Minha filha acabou de tirar a carteira para moto e não tenho coragem de deixá-la andar sem um curso de pilotagem.

Estado chega a 1 milhão de motos
O ano de 2012 entrará para os anais como aquele em que a frota de motos do Rio Grande do Sul ultrapassou, pela primeira vez, a marca de 1 milhão. Em maio, o número chegou a 1.009.213.

O ritmo de crescimento tem sido superior ao da frota em geral. Enquanto esta aumentou 30,5% de 2007 a 2011, o número de motocicletas cresceu 35,6%. Elas já são 20% da frota.

O número de motociclistas também cresce em ritmo mais acelerado do que o de motoristas em geral. Em maio, eram 1,5 milhão.




2 comentários:

Jorge Bengochea disse...

Marina Pacheco mandou o seguinte comentário:

Cito um trecho do que li do post sobre o RISCO EM DUAS RODAS:

"Um dos principais agravantes é a facilidade para comprar uma moto – hoje é possível dividir o custo em 60 vezes, com parcelas que, para muitos, significam menos do que o gasto mensal em passagem de ônibus."

Resumindo, o problema é devido à preconceito e hipocrisia. O problema é pobre não ter que depender do sistema público de transporte e ainda possuir maior agilidade, fluxo e liberdade do que aquele que ganha dinheiro e explora trabalhadores justamente para possuir benefícios e vantagens, e não para ficar pra trás! O problema é que os motoristas de carro têm uma inveja absurda da única coisa que anda no trânsito, a MOTO. O problema é que quem possui condições de comprar um carro e anda geralmente sozinho dentro dele é narcisista demais para aceitar que um pobre que não tem condições de compartilhar do mesmo sofrimento (ficar parado no trânsito) ainda por cima chegue mais rápido ao seu destino do que aquele que possui mais facilidades econômicas.

Mas qual a solução para esses problemas?

Dificultar o acesso do pobre às motos, como é que não pensaram nisso antes?

Revoltante esta hipocrisia burguesa que vai catando até os últimos resquícios de liberdade que possuíam aqueles que têm menos acesso aos bens de consumo.

Vão criar vergonha na cara.

E o pior é que tem gente que nem possui tantos recursos e “compra” esta história toda, do jeito que ela é tratada, com o foco e abordagem que lhe é dada, sem RACIOCINAR em cima disso.

Jorge Bengochea disse...

Tem razão na maior parte do teu comentário. Não podemos deixar de comprar notícias como esta sabendo das inúmeras mortes em duas rodas no RS e em todo o Brasil.

Mas acerta em dizer que o Estado não propicia um mínimo de segurança para quem pilota um motocicleta. Digo isto porque fui motoqueiro e só me afastei da moto devido o uso obrigatório do capacete nas cidades. Penso que este equipamento obrigatório é uma das principais causas de acidente, pois reduz a visão e a audição, além de dar uma falta sensação de segurança. Sou da opinião que os especialistas em trânsito deveriam rever o uso deste equipamento nas cidades, ou estão criar um novo tipo de capacete que aumente os sentidos da visão e da audição aos motoqueiros. Outras medidas importantes são a redução do número de carros com rodízio na circulação e investimentos em transporte coletivo e vias para ciclistas. O uso de motocicleta e bicicletas deveriam ser estimulados já que o custo é bem menor e muito mais saudável para ambiente.