quarta-feira, 16 de maio de 2012

QUEM PAGA R$ 300 NÃO VOLTA DE ÔNIBUS

 
 
ZERO HORA, 16 de maio de 2012

 

DECLARAÇÃO INFELIZ. Após frase polêmica, EPTC mira promotores de shows - ANDRÉ MAGS

 

Diretor considerou um mal-entendido a afirmação de que “quem paga R$ 300 não volta de ônibus”


Ao dar a entender, na edição de ontem de Zero Hora, que quem vai a shows na Capital não usa transporte público, o gerente de fiscalização de trânsito da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), Tarciso Kasper, gerou uma onda de críticas nas redes sociais. A repercussão não levou a EPTC a uma mea culpa, tampouco a prometer mais ônibus, mas sim a planejar medidas contra promotores de eventos.

Kasper irritou os frequentadores dos últimos shows que foram vítimas da falta de ônibus e de táxis na volta (leia a declaração no quadro à direita). As reclamações se espalharam em dezenas de comentários no site zerohora.com, Facebook e Twitter. Eram, principalmente, fãs da banda Los Hermanos que haviam assistido ao show no Pepsi On Stage no fim de semana. Para estancar o falatório, o diretor-presidente da EPTC, Vanderlei Cappellari, procurou reduzir a polêmica a um problema de comunicação.

– O que foi dito pelo gerente de fiscalização não é a opinião da EPTC. Quem fala pela empresa sou eu. Ele quis dizer que, como o público era seleto, o promotor do show teria decidido não nos comunicar do evento. A EPTC trata todas as pessoas com igualdade, pobres ou ricas – declarou.

Empresa alega que aviso teria reduzido caos no trânsito

Depois das críticas na internet, deve sobrar para os promotores de eventos. Cappellari afirmou que a EPTC não tem sido avisada sobre apresentações de médio e grande portes que chegam à Capital. O Código de Trânsito Brasileiro prevê punição a quem não observa a regra de comunicar e pedir permissão à entidade competente sobre espetáculos que podem reunir multidões e causar reflexos no trânsito.

– Se não tivermos um planejamento antecipado, as pessoas que irão a esse evento sairão insatisfeitas. Esse último show do Los Hermanos é um exemplo disso. Não fomos comunicados, não tivemos tempo de fazer um planejamento. Para se ter uma ideia, uma boa parte dos eventos a gente fica sabendo pela imprensa, e nos programamos em condições inadequadas. Temos de começar a acionar judicialmente esses promotores de eventos – explicou.


Especialistas veem problema


Envolvidos há décadas com o tema trânsito, o ex-diretor da EPTC José Wilmar Govinatzki e o consultor Mauri Panitz sugerem mudanças para o problema que estrangula a circulação de veículos na região do Pepsi On Stage em noite de eventos. Segundo Govinatzki, um paliativo seria ter uma via alternativa mais confiável na região da Avenida Dique. À noite, lembra, motoristas não se arriscam a circular por ali.

Panitz é mais incisivo. Ele questiona a legalidade de haver um estabelecimento que atraia tanta gente junto a um aeroporto (ver, à esquerda, o artigo 93 do Código de Trânsito Brasileiro):

– É uma vergonha. Quem aprovou, aprovou gato por lebre.

Sócio de casa rebate prefeitura


O sócio-diretor do Pepsi On Stage, Claudio Favero, rebateu a afirmação de que não teria informado à EPTC sobre os shows da banda Los Hermanos no sábado e no domingo passados. Ele ressaltou ter protocolado na empresa municipal, em 10 de abril, todas as informações sobre as apresentações de Bob Dylan, Rebeldes e Los Hermanos.

Se houve a comunicação ou não, não foi por falta de tempo. As vendas para a primeira apresentação do Los Hermanos começaram no dia 16 de janeiro. Quanto à frase do gerente de fiscalização, Favero comentou:

– É declaração de quem não conhece a realidade do negócio. Se o cara paga R$ 200 ou R$ 300, mas ele tem um bom transporte público, não quer dizer que ele não vai andar de ônibus.

Uma chance para melhorar - CARLOS GUILHERME FERREIRA | Editor do caderno Nosso Mundo Sustentável


O episódio envolvendo as declarações do gerente de fiscalização de trânsito EPTC escancara como Porto Alegre parou no tempo em conceitos de mobilidade urbana.

Ao desdenhar do interesse público pelo transporte coletivo e, indiretamente, estimular o uso de veículos próprios, a EPTC tomou a contramão de uma tendência recorrente em economias desenvolvidas. Deixar o carro na garagem faz bem para os próprios motoristas – afinal, significa menos trânsito – e para o planeta.

Porto Alegre poderia olhar adiante do umbigo. Nos Estados Unidos, criaram-se faixas para veículos com mais de uma pessoa – quem circular sozinho leva multa. Em Londres, os Jogos Olímpicos vão ocorrer sem estacionamentos para os espectadores. Os ingleses apostam no transporte público, e aí reside uma boa lição para a EPTC.

Em vez de dar desculpas, o órgão deveria aproveitar a oportunidade para estimular a população a andar de ônibus. E, principalmente, melhorar a infraestrutura disponível. Porque mandar trocar o ônibus pelo carro, seja ou não nas entrelinhas, torna ainda mais tênue a linha que separa a incompetência da omissão.


 EPTC - A DECLARARAÇÃO E A RESPOSTA

- Tarciso Kasper,gerente de fiscalização de trânsito da EPTC, na segunda-feira, a ZH - ‘‘ O cara que paga R$ 300 para o Bob Dylan, assim como quem foi ao show do Los Hermanos, não vai voltar de ônibus. Geralmente, colocamos transporte público extra quando o perfil do show é mais acessível.

-  Vanderlei Cappellari, diretor-presidente da EPTC, ontem - ‘‘ O que foi dito pelo gerente de fiscalização não é a opinião da EPTC. Quem fala pela empresa sou eu. Ele quis dizer que, como o público era seleto, o promotor do show teria decidido não nos comunicar do evento. ‘‘ Se não tivermos um planejamento, as pessoas sairão insatisfeitas. Esse último show do Los Hermanos é um exemplo disso. Não fomos comunicados, não tivemos tempo de fazer um planejamento.

O que diz o CTB
Art. 93 Nenhum projeto de edificação que possa transformar-se em pólo atrativo de trânsito poderá ser aprovado sem prévia anuência do órgão ou entidade com circunscrição sobre a via e sem que do projeto conste área para estacionamento e indicação das vias de acesso adequadas. Art. 95. Nenhuma obra ou evento que possa perturbar ou interromper a livre circulação de veículos e pedestres, ou colocar em risco sua segurança, será iniciada sem permissão prévia do órgão ou entidade de trânsito (...).
§ 3º A inobservância do disposto neste artigo será punida com multa que varia entre cinquenta e trezentas UFIR (...).

 MANIFESTAÇÕES DOS LEITORES

- Ele (Tarciso Kasper, gerente de fiscalização de trânsito da EPTC) diz que quem paga R$300 para ver o show não volta de ônibus. Claro, o certo é beber uma cerveja por lá e voltar dirigindo. Ou caminhando, já que a cidade é tão segura e não existem assaltos. Inclusive acho que deveriam ser extintos os ônibus, né? Assim a EPTC pode dedicar-se só a multar. Jainara Martiny

- Como todo brasileiro, gosto de ir a jogos de futebol. Infelizmente deixei de ir às quartas-feiras porque o ônibus que poderia pegar, T2A, tem última saída às 23h20min. A Copa vem aí. Zilá Theresinha

- Por essa lógica não deveriam circular ônibus em bairros nobres. Está cheio de gente que tem medo de andar de carro, não sabe dirigir ou acha ecologicamente bonito andar de ônibus, em qualquer faixa social. Vinicius Streit





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