quarta-feira, 16 de maio de 2012

PERIGOS NO PEDAL

 
 
ZERO HORA, 16 de maio de 2012


Sertório, maior ameaça a ciclistas - KAMILA ALMEIDA

 

Cinco pessoas ficaram feridas na via de 8,8 quilômetros na Zona Norte, engrossando 83 acidentes de janeiro a abril deste ano


Paradoxalmente, a Avenida Sertório, na Zona Norte, aparece na lista das mais violentas vias da Capital para quem anda de bicicleta. O mesmo fator que a torna convidativa aos ciclistas é o que lhes põe em risco constante: a ausência de desníveis na pista ou curvas acentuadas.

De janeiro a abril deste ano, foram cinco feridos em horários e pontos variados dos 8,8 quilômetros da via, que engrossam a lista de 83 acidentes no ano, na Capital. João Fortini Albano, professor da Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), acredita que o número se explique pela característica da via:

– Muita gente usa bicicleta para trabalhar de forma compartilhada com o trânsito de carros, motos e caminhões de médio porte. As boas condições da pista podem incentivar que os ciclistas ganhem mais velocidade.

Para amenizar o problema, segundo o diretor-presidente da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), Vanderlei Cappellari, está programada uma ciclovia, cujo primeiro trecho, de 1,2 quilômetro, deve ser iniciado até setembro.

O levantamento realizado pela EPTC, a pedido de Zero Hora, mostrou a Avenida Juca Batista, na Zona Sul, em segundo lugar, com quatro acidentes este ano nos seus 10,5 quilômetros de extensão – em todo 2011 foram nove. Os dados contemplam apenas ocorrências com mais de dois casos no mesmo local (veja no mapa).

Tensão em 20 quilômetros de Viamão a Porto Alegre

O presidente da Associação dos Ciclistas da Capital, Pablo Weiss, acredita que o número seja ainda maior, já que boa parte prefere não registrar ocorrência. Gilmar Cardoso da Silva é ciclista há 16 anos e também sofre, só que em outro canto da cidade. Percorre os 20 quilômetros que separam a casa dele, na parada 44 de Viamão, da loja onde trabalha, na Rua Santana, em Porto Alegre, e diz que o trecho mais tenso do percurso está entre a PUCRS, na Ipiranga, e a Santana:

– Muitas vezes paro para esperar o carro passar ou subo na calçada.

Silva nunca sofreu acidente, mas perdeu as contas de quantos buzinaços ouviu. E avisa:

– A pessoa que está de capacete mostra que está mais consciente. Isso já impõe mais respeito aos motoristas.


Bike-entrega suspendeu seu serviço


Na comparação dos primeiros quatro meses do ano, 2012 teve apenas três acidentes com ciclistas a menos do que em 2011. Nos dois últimos anos, houve um recuo de 17% nas ocorrências, conforme a EPTC. O especialista em Transporte, João Fortini Albano, não se alegra com o quadro e destaca que ainda é cedo para atestar uma mudança.

– Desde o atropelamento coletivo em 2010, a bicicleta entrou na pauta dos assuntos e da mobilidade urbana. Mais pessoas estão usando-a como transporte e, de uma forma geral, está sendo vista como meio para ajudar a melhorar a circulação na cidade – destacou o professor.

O proprietário de um serviço de bike-entrega sentiu nos negócios o reflexo da selvageria no trânsito. Em 2009, logo que inaugurou a empresa, toda a semana Kais Ismail, 48 anos, tinha um funcionário machucado encaminhado ao hospital. Decidiu encerrar os trabalhos.

– A gota d’água foi quando um rapaz veio fazer uma experiência e foi atropelado – destacou Ismail.

Após mais de um ano de entregas suspensas, Ismail se sente encorajado para reabrir a loja.


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