sexta-feira, 22 de abril de 2011

O PAÍS CONGESTIONADO

O início do feriadão que conjuga a data de Tiradentes com a Páscoa foi assinalado por congestionamentos gigantescos nas rodovias brasileiras, especialmente naquelas que ligam Serra e Litoral a metrópoles que já apresentam graves problemas de mobilidade urbana. O mesmo estresse enfrentado por motoristas e tripulantes de veículos automotivos no dia a dia das grandes cidades transferiu-se para as estradas. Em conse- quência, muitas pessoas tiveram dificuldade para chegar aos seus destinos ou até mesmo desistiram dos passeios programados, retornando para casa. Esta situação caótica comprova não apenas o equívoco histórico da quase exclusividade do modelo rodoviá-rio no transporte nacional, como também a incapacidade dos administradores públicos, em todos os níveis, para encontrar soluções satisfatórias para o impasse do trânsito.

O agravamento do problema deve-se, sem qualquer dúvida, ao crescimento da frota de veí-culos, resultante também do aumento do poder aquisitivo da população. No ano passado, o número de veículos em circulação nas ruas e estradas brasileiras ganhou um incremento de 8,4% em relação ao ano anterior, passando dos 32 milhões, entre automóveis, caminhões, ônibus e comerciais leves, sem contar mais de 10 milhões de motos. Esse extraordinário aumento da frota circulante não foi acompanhado por investimentos na malha rodoviária, que passou a registrar maior número de acidentes e, em ocasiões especiais, grandes engarrafamentos. Ainda que nos últimos anos os governos federal e esta- duais venham atuando conjuntamente na construção de novas rodovias e na duplicação de estradas incluídas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), as obras são morosas e insuficientes para suprir as necessidades da população.

O país paga um preço alto por seu apego à cultura do automóvel. Desde que o presidente Washington Luiz disse no seu discurso de posse, em 1926, que governar é abrir estradas, todos os seus sucessores acabaram privilegiando o modelo rodoviário, atraindo indústrias automobilísticas, incentivando a produção e o comércio de veículos automotores, e deixando de lado alternativas que hoje facilitam a vida de outros povos. Os europeus, por exemplo, valem-se de metrôs nas maiores cidades e de trens modernos e confortáveis para se locomover até mesmo de um país a outro. No Brasil, veículos com apenas um ocupante entopem as ruas e elevam significativamente a poluição ambiental.

O país congestionado deve aproveitar a inexorável imobilidade para pensar em saídas para o brete, que passam pela reflexão de cada cidadão sobre o uso de transporte individual e incluem necessariamente a formulação de políticas públicas voltadas para ferrovias e hidrovias, além da urgente e constante melhora da infraestrutura rodoviária.

EDITORIAL ZERO HORA 22/04/2011

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