RETRATOS DA DOR. Final de semana foi o mais violento desde o de Carnaval, com 25 mortos
A pensionista Áurea Rosélia Chaves, 60 anos, havia planejado receber em sua casa ontem os três filhos, as noras e os netos para um almoço especial de Dia das Mães. Em lugar disso, foi sepultada com o filho do meio, Renato Chaves, 32 anos, enquanto o mais velho, Leandro Chaves, 34 anos, estava internado em um hospital, com inúmeras fraturas e um hematoma no cérebro.
Os Chaves foram uma das famílias abaladas em um fim de semana de invulgar violência no trânsito. Entre a noite de sexta-feira e a tarde de ontem, pelo menos 25 pessoas morreram em ruas e estradas gaúchas, o maior número desde o Carnaval e mais do que o dobro do registrado no ano passado, quando houve nove mortes. Em diferentes pontos do Estado, um mesmo tipo de imagem serviu de símbolo para a carnificina nas estradas: a de carros destroçados, retorcidos, esmigalhados.
Moradores de Porto Alegre, Áurea, Renato e Leandro viajaram na quinta-feira a Rivera, no Uruguai, para fazer compras. Na sexta, tomaram a estrada de volta à Capital, para realizar a tradicional reunião a redor da matriarca no domingo. Como era habitual, os três filhos fariam um churrasco, enquanto Áurea se encarregaria dos demais preparativos e acompanhamentos.
Os planos faram desfeitos às 19h de sexta, no km 485 da BR-158, em Rosário do Sul. O Sandero conduzido por Leandro bateu de frente com um Palio dirigido por Gil Fagundes Borges, 26 anos, que também morreu.
Ontem, enquanto mãe e filho eram sepultados juntos no cemitério João XXIII, em Porto Alegre, o gerente de informática Leandro estava internado no Hospital Nossa Senhora Auxiliadora, em Rosário do Sul. Ele ainda não sabia das mortes. No hospital, quem o acompanhava era a mulher, a pedagoga Doralisa Oliveira, 37 anos. As duas filhas do casal ficaram na Capital.
– Estou longe das minhas filhas no Dia das Mães, perdemos a vovó, que era tudo para as netas, e perdemos também o dindo delas. Pelo menos tenho a oportunidade de estar com meu marido – consolou-se Doralisa.
O analista de logística Renato, o filho que morreu, tornou-se pai há apenas cinco meses. Ontem foi o trágico primeiro Dia das Mães de sua mulher. Áurea tinha ainda um terceiro filho, Eduardo Chaves, de 32 anos.
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