segunda-feira, 29 de abril de 2013

RECONHECER A CIDADE A PÉ PARA REENCONTRAR O CIDADÃO


JORNAL DO COMERCIO 29/04/2013


Gonzalo Durán


A cidade mudou quando o veículo a motor entrou em nossas vidas. A amabilidade sumiu dentro do carro, convertido numa armadura motorizada, um lar com rodas, um reino a gasolina ou diesel. Pedestres viram guerreiros no volante, e as multidões suspiram por ingressar nos engarrafamentos mais seletos. Em Porto Alegre, as calçadas são testemunhas do descaso proverbial. Como a fiscalização é quase nula, vemos pedaços de calçada fabulosos ao lado de lajes quebradas que disputam espaço com moitas cheias de sujeira e com buracos à espreita de tornozelos incautos. Além de cuidar para não tropeçar ou para não ferir os olhos num galho baixo demais, temos que ter cuidado com postes enferrujados ou orelhões cheios de poeira. Não conheço ninguém que tenha visto o DMLU limpar as lixeiras por fora ou desinfetar os pontos de ônibus, serviço que deveria ser providenciado com frequência.

Esta conduta relapsa constitui uma autêntica depredação passiva por parte do Poder Público, o que só serve para que vizinhos desleixados argumentem que, se a prefeitura não faz, eles também não. Eis uma linguagem dupla e hipócrita resumida no velho ditado: “Faça o que eu digo e não faça o que eu faço”, e que aqui foi turbinado como “Eu curto, eu cuido”.

Porto Alegre é uma cidade emergente, tem uma inquestionável vocação internacional, porém as equipes de governo não sabem o que precisam os cidadãos quando descem do carro ou do transporte público e viram pedestres de novo. O morador tem o direito de se deslocar a pé com facilidade, segurança, mais limpeza e em calçadas padronizadas. Caminhar na cidade é uma necessidade para as pessoas sem carro como crianças, idosos, deficientes ou os menos favorecidos economicamente. Resgatemos os pedestres de seus guetos inconexos e ofereçamos passeios maiores e melhores. Um pedestre alegre, em um porto como o nosso, é um cidadão sempre disposto a participar do aprimoramento do que conseguiu conhecer prazerosamente a pé.

Ator e pedestre

Rua Sete de Abril: carros e pedestres disputam espaçoRua Sete de Abril: carros e pedestres disputam espaço


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