sexta-feira, 31 de maio de 2013

ACESSO À VAGA DE DEFICIENTE VIRA CASO DE POLÍCIA

ZERO HORA ONLINE 31/05/2013 | 19h02

Acesso à vaga para estacionar vira caso de polícia na Capital

Pessoa com deficiência teve os pneus do carro furados por motorista que estacionou irregularmente


André Mags


O medo da funcionária do Foro Central da Capital Denise Duarte Bruno, 54 anos, é um dos efeitos do uso irregular de vagas de estacionamento destinadas a pessoas com deficiência em Porto Alegre.

O caso de Denise acabou na polícia depois que ela teve os pneus de seu carro furados, supostamente pelo dono de uma caminhonete denunciado por estacionamento irregular.

No início de maio, um homem estacionou sua caminhonete em um local proibido, entre duas vagas para pessoas com deficiência perto do Foro, uma delas ocupada pelo carro de Denise. Com dificuldades para se mover devido à poliomielite, ela não conseguiu entrar no seu veículo porque a caminhonete impedia a abertura da porta. Denise chamou a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) e o veículo do infrator acabou guinchado. Mas ela foi alertada por colegas que o homem, possesso, prometeu "destruir" o carro dela da próxima vez.

— Uma ameaça desse tipo é assustadora, não consigo não me sentir intimidada. Não tenho deixado o carro na vaga, e isso me tem causado mais dificuldades no dia a dia — afirmou, na época.

O tempo passou, ela se tranquilizou e voltou a utilizar o espaço no dia 15 de maio. Aí, a ameaça se cumpriu. Ela teve os pneus de seu carro furados ao parar na vaga à qual tem direito. Percebeu a dificuldade na direção enquanto já trafegava pela Avenida Borges de Medeiros. Teve de entrar em um posto e pedir ajuda.

Agora, Denise não se atreve a parar mais no estacionamento que fica tão próximo ao seu trabalho. Prefere deixar o carro longe e ir a pé, lentamente, apoiada na sua muleta. Só que não deixou por menos: registrou ocorrência na polícia e procurou a EPTC para saber quem é o proprietário. O caso estava com o setor jurídico da EPTC, disse ela.

Vereador quer que punição seja aplicada

Para que o estacionamento seja garantido a veículos que transportam idosos e pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, o vereador Paulo Brum (PTB) pretende ampliar a punição existente.

— O Brasil inteiro vem fazendo campanhas para que não se ocupe as vagas indevidamente, e nunca deu certo. A partir do momento em que mexer no bolso do indivíduo, aí sim pode funcionar — disse o vereador.

Brum quer que sejam cumpridas as punições mesmo em locais fechados, como shoppings, onde os fiscais de trânsito não atuam. Os azuizinhos agiriam com a criação de convênios. Os próprios estabelecimentos poderiam denunciar os casos, chamando a EPTC. A matéria tramitava nas comissões da Câmara.

Há pelo menos outros três projetos na Câmara Municipal sobre o assunto, o que revela a dimensão que o desrespeito está tomando na cidade. Os vereadores Carlos Comassetto (PT) e Delegado Cleiton (PDT) apostam, respectivamente, na distribuição de panfletos aos infratores — a chamada "multa moral" — e na veiculação de mensagens sonoras nos estabelecimentos comerciais para alertar sobre o uso das vagas.

A falta de educação não se limita a Porto Alegre. Em Canoas, Luiz Fernando Tavares, 70 anos, desistiu de ir ao supermercado nos fins de semana porque todas as vagas em que poderia parar ficam ocupadas. Portador de paralisia, precisa de uma muleta e outro equipamento especial para se mover:

— Aqui é uma vergonha, o desrespeito do pessoal é avassalador. Se não fiscalizar, não adianta, mas os guardas dos supermercados dizem que não têm autonomia para multar.

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