sexta-feira, 6 de setembro de 2013

S.O.S. ESTRADAS

ZERO HORA 06 de setembro de 2013 | N° 17545

CLEIDI PEREIRA

REPORTAGEM ESPECIAL


Buracos, rachaduras, crateras e interdições em estradas que mais parecem longas e estreitas fatias de queijo suíço. Silenciosamente, várias vias intermunicipais pedem socorro. Segundo especialistas, as condições das rodovias gaúchas após as chuvas do fim de agosto – que levaram o governo a decretar emergência em trechos da ERS-020 e da VRS-826 – revelam a falta de manutenção rotineira e preventiva.

O Departamento Autônomo de Estradas de Rodagens (Daer) admite que o trabalho de conservação é feito com dificuldade. De janeiro a maio, parte da malha ficou sem este serviço devido a impasses na repactuação de contratos.

– São 12 mil quilômetros de rodovias. Temos dificuldades operacionais que estamos tentando resolver e encontrar a melhor maneira de atender às demandas. Obviamente que, quando há um período crítico de chuva intensa, isso aí se agrava – afirma o diretor de Infraestrutura Rodoviária da autarquia, Laércio Toralles Pinto da Silva.

Os reparos emergenciais nos pontos críticos (quilômetro 57 da ERS-020 e entre os quilômetros 3,2 e 5,3 da VRS-826) podem custar até R$ 700 mil, verba que sairá do próprio orçamento do Daer. A expectativa é iniciar as obras até o fim do mês e sejam concluídas em até 180 dias.

– Recuperação se faz em época de seca. Agora, a obra vai custar caro, ficar malfeita e demorar mais, mas, lamentavelmente, isso tem de ser feito, senão vai morrer gente. Infelizmente, o governo acordou tarde – diz o engenheiro civil e professor da Universidade de Brasília (UnB), Dickran Berberian.

“Asfalto político” não é resistente

Má execução e fiscalização, uso de materiais inadequados, falta de manutenção, chuvas em demasia e excesso de carga são fatores que, segundo o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) João Albano aceleram a deterioração do asfalto:

– O Daer não tem balança para controlar excesso de cargas, e algumas estradas não têm manutenção adequada.

Berberian, da UnB, diz que, com projeto bem executado e cálculo de tráfego adequado, a durabilidade de uma pavimentação poderia chegar a 20 anos em média. Porém, afirma, isso muitas vezes não ocorre em razão da “indústria da recuperação” e do “asfalto político”, feito às pressas para conquistar votos.


Medida dispensa licitação para conserto de rodovias

Os decretos de emergência que atingem a ERS-020 e a VRS-826 visam a acelerar o conserto, impedindo o avanço dos estragos. Com a medida, a contratação de reparos será feita por tomada de preço, dispensando licitação. As empresas serão convidadas a apresentar proposta, e a vencedora será a que oferecer o menor preço.

O Daer ainda estuda a possibilidade de incluir na medida a ponte sobre o rio dos Sinos, na ERS-020. Após vistoria, o tráfego de veículos leves e ônibus no local foi liberado em meia pista, sem previsão para normalização.

Para o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística do Rio Grande do Sul (Setcergs), Sérgio Neto, ações que buscam acelerar a restauração da malha viária são importantes. No entanto, pondera Neto, existem outros pontos críticos que também deveriam ser enquadrados como prioridades.

– O custo de manutenção do transporte aumenta e os riscos, também. O governo não tem recursos suficientes para atender a todas as necessidades e, além disso, falta um planejamento adequado para conservação de rodovias – critica o dirigente.

Desde a semana passada, as 17 superintendências regionais do órgão realizam operação tapa-buracos para sanar os danos agravados pelas chuvas nos 7 mil quilômetros de rodovias pavimentadas no Estado. Na segunda-feira, na ERS-122, em Caxias do Sul, uma cratera aberta pelas chuvas deixou uma mulher ferida.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Qual é a razão da existência de uma polícia rodoviária? Não é promover segurança nas rodovias? Portanto, caberia uma ação mais contundente dos policiais rodoviários para prevenir acidentes em locais onde as condições da rodovia oferecem perigo de vida aos usuários, seja na má sinalização, no asfalto em péssimas condições ou nas infrações de trânsito cometidas. Nos parece que a prioridade tem sido apenas nesta última (infrações de trânsito) onde o arrecadatório fala mais alto, enquanto que nos dois primeiros, a culpa recai sobre o próprio Estado e aí gera o descaso. O MP também deveria agir cobrando do poder administrativo, já que a vida, a saúde e o patrimônio são de interesse público.



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