Celso Franco, oficial de Marinha reformado (comandante), foi diretor de Trânsito do antigo estado da Guanabara e presidente da CET-Rio. Jornal do Brasil, 22/08/2011
Recentemente, o jornalista José Gueiros, em sua coluna do suplemento Barra de O Globo, fazia um apelo, quase em desespero, para que algum engenheiro de tráfego desse uma solução ao congestionamento diário existente no trecho final, da Avenida Ministro Ivan Lins, sentido de saída daquele bairro, no horário matutino, nos dias úteis. Vou atendê-lo.
Trata-se de afunilamento onde cinco faixas passam para duas e ainda tendo os seus fluxos comprometidos com o trançamento das diversas correntes de tráfego com destino à Ponte da Joatinga, de acesso ao elevado do Joá e às que se destinam ao retorno, com destino ao Recreio, sob esta ponte.
O motivo é óbvio, pouco espaço para muito tráfego. De que se compõe este tráfego?
Em sua maioria, fluxos de carros particulares, transportando apenas o seu condutor (cerca de 90%) e outro fluxo de alguns coletivos, todos se atritando. O Highway capacity manual contém, no seu capítulo VII, Weaving, tabelas que nos permitem conhecer a velocidade resultante em função da distância e da quantidade de tráfego, que precisam praticar o trançamento. Dependendo dos dados pode ser zero. É o caso, em alguns momentos, da circulação matutina no trecho em questão.
Nunca é demais repetir o que dizia o grande diretor de Trânsito Geraldo de Menezes Côrtes: “Não posso evitar os congestionamentos fortuitos, mas os permanentes é meu dever eliminá-los”. É exatamente este o apelo do jornalista a quem teria o dever de eliminar o suplício diário do eleitor da Barra para sair, pela manhã, de seu bairro.
Dizem comodamente, como desculpa, que só o metrô irá resolver este problema.E até que ele exista, como ficam os moradores motorizados, numa cidade que emplaca 60 mil carros por ano, dos quais a maior percentagem é da Barra?
A única solução, em curto prazo, é diminuir o número de carros particulares, criando a “taxa de congestionamento” para os motoristas que trafeguem sozinhos, neste período, e isentando os que praticarem o transporte solidário, entre donos de carros, através de um pedágio, tendo como forma de pagamento um aluguel mensal de um chip identificador dos que aderiram a este sistema.
A “taxa de congestionamento” é de elevado preço, baseada no valor da multa do artigo 219 do Código de Trânsito Brasileiro, e variável em função do rendimento do escoamento da via, a exemplo dos juros para controle da inflação. Subirá ou descerá, a cada mês, conforme aquele diminua ou aumente. Em compensação, o aluguel mensal do chip é de 40 reais por mês, o suficiente para gerar um fundo de subsídio para o transporte público, hoje onerando o orçamento do trabalhador em cerca de 20%. Este sistema, que chamei de URV (Utilização Racional da Via), é capaz de reduzir o número de carros de 50 a 80%.
Pois bem, apesar de eu escrever sobre isto há mais de dez anos, nenhuma autoridade, sendo que a algumas levei a sugestão em mãos, se dignou sequer estudá-la.
O motivo? O medo de perder votos com a criação desta restrição. Fazem-nos reféns do seu medo, sem se lembrarem que estarão onerando uns poucos, em benefício de muitos. Isto se chama justiça social. Ela, para ser implantada, exige audácia. Existe um provérbio inglês: “Who dares wins” (Quem ousa vence). Do administrador de trânsito exige-se audácia para mudar as coisas que estão erradas. Se for audacioso, vencerá e passará para a história da cidade, como aconteceu com Menezes Côrtes. Se não for, será apenas mais um e será esquecido, no contexto desta mesma história, da qual nunca fez parte.
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