sábado, 18 de agosto de 2012

BURACOS E REMENDOS EM ESTRADA NOVA


ZERO HORA 18 de agosto de 2012 | N° 17165

BR-101 DUPLICADA. 88,5 quilômetros e 100 falhas

KAMILA ALMEIDA

Liberado para o tráfego há apenas um ano e meio, após investimento de R$ 1,2 bilhão, o trecho gaúcho da BR-101 já apresenta mais de cem pontos com buracos, cocurutos e remendos. A camada de asfalto, com 11 centímetros a menos do que o padrão de qualidade adotado em países como a Inglaterra, é uma das explicações para a precoce deterioração.

Édina Becker Cardoso tem 25 anos e mora às margens da BR-101, no município gaúcho de Três Cachoeiras. Acompanhou a obra de duplicação da rodovia com ansiedade. Depositou na estrada a esperança de contar com um trajeto mais rápido e seguro, entre a casa e o trabalho. Uma cratera transformou amor em ódio. No final de 2011, voltava de Torres quando encaixou o pneu do Gol que dirigia em uma fenda aberta no asfalto na altura do km 5. Rodopiou e bateu em uma carreta. Sem seguro do automóvel, com a frente do carro destruída, ingressou com uma ação contra o governo federal, ainda sem definição.

Liberada para o tráfego há pouco mais de um ano e meio, após um investimento de R$ 1,2 bilhão, a rodovia é recheada de histórias de desgosto como a de Édina. Por isso, Zero Hora percorreu, no início do mês e na quarta-feira, os 88,5 quilômetros da estrada em cada sentido. São pelo menos cem pontos com cocurutos, buracos ou remendos, principalmente nas faixas da direita, destinadas aos caminhões. Um dos piores fica no km 38 do sentido Torres-Osório, em uma curva, a 500 metros da entrada para Três Forquilhas. O asfalto levantado obriga motoristas a perigosos desvios.

O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) reconhece os problemas e diz trabalhar por uma solução com as empresas contratadas para a execução do projeto – Queiroz Galvão e Mac Engenharia. A primeira diz que as providências junto ao Dnit foram tomadas. A segunda afirma ter executado a obra conforme os projetos e as normas técnicas determinadas pelo Dnit e que ela foi fiscalizada e aprovada. Os eventuais problemas, informou em nota enviada a ZH, serão solucionados uma vez apuradas as causas.

– Em conjunto com as empresas contratadas, o Dnit realiza estudos do porquê desta situação para que sejam determinadas com exatidão as causas e medidas a serem adotadas – disse o superintendente regional do Dnit, Vladimir Roberto Casa.

Datado de 1998, o projeto de engenharia da estrada foi concebido levando em consideração o tráfego da época. Segundo o professor de Engenharia Civil Washington Peres Núñez, integrante do Laboratório de Pavimentação da UFRGS, que prestou assessoria ao projeto, as empresas teriam alertado o Dnit sobre a baixa qualidade do asfalto previsto em contrato e sobre possíveis problemas futuros:

– O asfalto utilizado na obra é o mesmo de cidades ou rodovias antigas. Para durar mais, deveria ter sido usado um ligante asfáltico com polímeros ou prever-se uma espessura maior das camadas asfálticas convencionais.

Nas rodovias principais da Inglaterra, por exemplo, essas espessuras são de, no mínimo, 28 centímetros. Segundo o professor, na BR-101 gaúcha, essa altura não passa de 17 centímetros.

O Dnit lembra que a liberação foi realizada por lotes ao longo de anos, o que explicaria o desgaste de segmentos. Núñez explica que desgastes são naturais com o passar do tempo e que os defeitos apresentados são normais, mas precoces. O contrato com as empresas termina quando o Dnit recebe um Termo de Verificação e Aceitação Definitiva, o que ainda não ocorreu, segundo o órgão. A contratada ainda é civilmente responsável por danos por mais cinco anos, caso comprovada a responsabilidade.

Em SC, fim da obra previsto para 2015

ROBERTA KREMER | FLORIANÓPOLIS 

Se os prazos para as licitações prometidas pelo governo federal forem cumpridos, a duplicação da BR-101 Sul, em Santa Catarina, ficará pronta no primeiro semestre de 2015. Contudo, o governo acena para uma antecipação das datas contratadas. Tudo indica que há uma meta política de finalizar em 2014, ano de eleições presidenciais.

A ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, esteve na sede do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) em Santa Catarina, e anunciou um pacote de R$ 10 bilhões em obras de infraestrutura de transportes para o Estado, incluindo a abertura de licitação para a construção do túnel duplo do Morro dos Cavalos, em Palhoça, para dezembro.

Como normalmente as concorrências públicas não duram menos do que seis meses, e o prazo de execução dos trabalhos é de dois anos e meio, um dos últimos três gargalos da BR-101 entre Porto Alegre e Florianópolis poderá ser finalizado em 2015. Enquanto a obra não fica pronta, para solucionar os congestionamentos frequentes no veraneio, Ideli garantiu que o governo federal construirá uma quarta faixa. O objetivo é finalizá-la antes de dezembro.

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