ZERO HORA 25 de abril de 2015 | N° 18143
NATHÁLIA CARAPEÇOS
TRÂNSITO SEM NOÇÃO DO PERIGO
PESQUISAS APONTAM POUCA ADESÃO ao acessório por passageiros que sentam na parte traseira dos veículos, e especialistas reforçam a necessidade de conscientização sobre essa prática, que pode salvar vidas em caso de acidentes
Assim como engatar a primeira marcha para arrancar o carro é uma ação quase automática, colocar o cinto de segurança também deveria ser – seja no banco da frente ou no traseiro. Mas, segundo pesquisas de órgãos ligados ao trânsito, essa ainda é uma realidade distante de boa parte dos passageiros, principalmente quando o assunto é o uso do acessório para quem está atrás.
Dados coletados pela Ford e apresentados neste mês mostram que, na Europa, mais de um terço das pessoas não usam o cinto de segurança quando viajam no banco traseiro. No Brasil, a situação não é diferente. Em 2010, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou um levantamento apontando que apenas 37,3% usavam sempre o cinto atrás, enquanto 73,2% diziam utilizar o acessório na frente.
A PRINCIPAL INFRAÇÃO NAS ESTRADAS ESTADUAIS
Os gaúchos também não mantêm bons hábitos quando o assunto é o uso do cinto. Pesquisa encomendada pelo Departamento Estadual de Trânsito do Rio Grande do Sul (Detran), em 2012, mostrou que 30,9% não colocam o item no assento traseiro.
No ano passado, a infração do artigo 167 do Código de Trânsito Brasileiro (o não uso do acessório pelo condutor ou passageiro em qualquer um dos bancos), ficou em 6º lugar no ranking de multas. Já nas rodovias estaduais, o quadro é ainda pior. Dados do Comando Rodoviário da Brigada Militar apontam que a falta do cinto foi a infração mais registrada em 2014.
– Alguém sem cinto dentro do carro é um risco para os demais. Há uma ideia errada de que atrás é mais seguro. Na frente, as pessoas se sentem mais vulneráveis, além de terem receio da fiscalização – afirma a engenheira e especialista em segurança viária Christine Nodari, que integra o Laboratório de Sistemas de Transportes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
O que leva à conduta arriscada
Para especialistas, não há um fator único que determine a resistência ao cinto no banco de trás.
– O grau de ignorância e descrença quanto à gravidade do tema é maior do que a gente pensa – diz o sociólogo e especialista em educação e segurança no trânsito Eduardo Biavati.
Presidente do Instituto de Segurança do Trânsito, David Duarte Lima destaca que existe o conceito natural entre as pessoas de que sentar atrás é mais seguro.
– É algo que já ouvi em vários Estados – conta.
Outros dois pontos aparecem ligados ao não uso do cinto no banco traseiro: a desinformação e a dificuldade para multar. O diretor-geral do Detran gaúcho, Ildo Mário Szinvelski, reforça a necessidade de aliar os dois temas:
– Se a educação e a conscientização não têm efeito, não resta outro caminho a não ser a fiscalização rígida.
Para a especialista em psicologia do trânsito Aurinez Rospide Schmitz, do Instituto Ande Bem, as pessoas têm dificuldade cultural de compreender o perigo da falta desse hábito.
– Quem segue as regras é considerado o medroso – ressalta.
Diante isso, o consenso entre especialistas e poder público é de que a maior aposta deve ser em campanhas e ações de conscientização.
O planejamento deve incluir linhas específicas por faixa etária, com foco nos jovens. A atuação junto a escolas é vista como um dos principais pontos, assim como a participação da família.
– Trazer exemplos em disciplinas da escola, como a física, é uma boa opção – sugere Biavati.
Depois da educação, o reforço na fiscalização é considerado como outro ponto importante.
– No caso do uso do cinto na frente, foi um fator decisivo para as pessoas usarem. Não dá para deixar isso de lado – ressalta a engenheira Christine Nodari.
Por lei, se alguém não estiver usando o cinto no veículo, a responsabilidade recai sobre o motorista. Esse processo é questionado por Aurinez. Para ela, não é necessária uma alteração na legislação, mas, sim, uma mudança de visão sobre o papel de cada um no trânsito.
– Os passageiros têm de se sentir corresponsáveis e cada um precisa fazer a sua parte – diz.
O diretor-geral do Detran afirma que ações educativas são a principal estratégia do órgão.
– Esses materiais devem mostrar a realidade. Não há segunda chance – diz Szinvelski.
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