EDITORIAL INTERATIVO
É oportuna e muito bem-vinda a campanha lançada pelo Detran para conscientizar motoristas e prevenir acidentes de trânsito. Lançado na antevéspera do feriadão de Páscoa, o primeiro vídeo atinge plenamente o objetivo de chocar o espectador. Mostra imagem em terceira dimensão do interior de um veículo capotado, com o condutor sangrando em meio a vidros quebrados e ferros retorcidos, para logo em seguida refazer em sentido contrário o trajeto entre a tragédia e a velocidade. O texto adverte adequadamente que na vida real não tem volta. Impactante, direto e significativo. Mas a mensagem final tem um duplo sentido preocupante: A escolha é sua.
Como assim? Dirigir em alta velocidade, ingerir álcool antes de pegar o volante, desrespeitar os sinais de trânsito e colocar a própria vida e as de outras pessoas em risco não podem ser escolhas do motorista. Essas alternativas não podem ser sequer consideradas. Na verdade, a escolha é da sociedade e já foi feita. Ninguém tem o direito de infringir normas coletivas adotadas para a proteção de todos e para a convivência civilizada. No mínimo, a palavra “escolha” foi mal escolhida para encerrar o texto educativo.
Evidentemente, isso não desmerece a boa intenção da campanha. A educação pela mídia é um complemento valioso para o esforço do poder público no sentido de atenuar o morticínio das estradas, que tem como causa prioritária, inquestionavelmente, o mau comportamento dos condutores. Claro que as demais diretrizes do conhecido tripé da segurança (Educação, Engenharia e Esforço Legal) também precisam ser exercitadas, atualizadas e qualificadas permanentemente. Estradas em boas condições, bem sinalizadas e com divisores físicos que impeçam as colisões frontais certamente salvam vidas. Legislação adequada, Justiça ágil e fiscalização policial eficiente também são extremamente relevantes.
Mas a educação rigorosa e a conscientização é que são determinantes para a construção de uma cultura de respeito e reciprocidade. Com o aumento geométrico da frota de veículos no país, a conduta dos motoristas passou a ser decisiva na solução de conflitos e na própria fluidez do tráfego. Porém, como adverte a campanha do Detran gaúcho, o comportamento do condutor pode ser a linha que separa a vida da morte. Até mesmo por isso, não pode haver liberdade de escolha: as pessoas que dirigem veículos têm a obrigação de cumprir regras, de respeitar os limites de velocidade e de não assumir riscos.
Dirigir com cuidado e segurança não é apenas uma escolha. É um dever individual e coletivo.
O editorial foi publicado no site de Zero Hora, na quinta-feira, com links para Facebook e Twitter. Os comentários para a edição impressa foram selecionados até as 18h de sexta-feira. A questão: Editorial diz que motorista não tem o direito de escolher a velocidade excessiva. Você concorda?
O leitor concorda
Concordo plenamente. O condutor deve ser responsável pela segurança de todos os que participam, como ele, do trânsito. Considera-se trânsito a utilização das vias por pessoas, veículos e animais, isolados ou em grupos, conduzidos ou não, para fins de circulação, parada, estacionamento e operação de carga ou descarga. Caso contrário, ele próprio poderia escolher como deveria circular não coletivamente. Sabe-se que o responsável pelos acidentes é o homem, seguindo-se em menor escala o veículo e a via. A redução do número de acidentes e a segurança no trânsito estão ligadas à mudança de comportamento e isso requer conscientização, educação, comprometimento e responsabilidade de todos os envolvidos no processo.
Diego Machado Gravataí (RS)
O motorista só tem o direito de escolher a velocidade excessiva quando ele (o motorista) construir sua própria pista de corrida privativa, só para ele. As rodovias públicas, de uso coletivo, dispõem de placas sinalizadoras de limites de velocidade, os quais devem ser rigorosamente respeitados.
Rudi Freiberger Santo Augusto (RS)
Ninguém tem o direito de infringir deliberadamente quando está em jogo o bem-estar comum a todos os cidadãos!
Olma Maria Seibel Ivoti (RS)
Penso que o termo “escolha” é ambíguo. Acho que a campanha quis dizer que tem coisas que acontecem porque os motoristas quiseram, ou no mínimo permitiram, ou criaram as condições para que acontecessem. Ninguém pode (ou não deveria poder) escolher seguir as leis ou não. Mas acabam “escolhendo”, na falta de termo melhor.
Igor Vinícius Teixeira Porto Alegre (RS)
Concordo com o editorial. Visto que vivemos em sociedade e há leis para o bom convívio entre as pessoas, o excesso de velocidade é ilegal e não temos o direito, muito menos a capacidade de escolher abusar da velocidade ao dirigir. Mas até entendo a frase final da campanha, a escolha é nossa de dirigir com segurança ou colocar a nossa e a vida de outras pessoas em risco, o que mais cedo ou mais tarde irá resultar em algo trágico.
Miguel Dias Machado Santa Maria (RS)
O leitor concorda
Não concordo. “Escolha” significa uma preferência entre múltiplas possibilidades. É obviamente imprudente conduzir um veículo com uma velocidade acima do que a lei estipula, porém, se o automóvel em questão atinge velocidades muito superiores às permitidas na via, é inconcusso que o condutor pode escolher infringir ou não a lei. As leis de trânsito, assim como qualquer outra lei, existem para coibir a conduta de quem escolhe por livre e espontânea vontade transgredi-las. A campanha está correta. A escolha básica é entre um comportamento salutar ou outro que põe em risco a vida do condutor que trafega em alta velocidade, assim como a dos motoristas que acertadamente escolhem respeitar os limites estabelecidos.
Márcio de Carvalho Damin Porto Alegre (RS)
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